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Caminho aberto para a soja brasileira

<p>A "disputa" entre soja e milho por áreas de plantio na safra 2007/08, acirrada pela valorização internacional de ambos depois da "febre do etanol" - e da decisão dos produtores americanos de reduzir o plantio de soja em 3,41 milhões de hectares, para 27,17 milhões no novo ciclo -, deverá beneficiar os produtores brasileiros da oleaginosa.</p>

Redação (16/05/07) – Entre os três maiores exportadores de soja no mundo, o Brasil é, conforme as previsões atuais, o único que terá expansão significativa de área plantada na próxima temporada, que no país começará a ser cultivada em setembro. 

Analistas ouvidos pelo Valor estimam que a expansão do plantio de soja no Brasil será de 3% a 5%, sendo que em 2006/07 o grão ocupou 20,64 milhões de hectares. Ainda que a estimativa mais favorável seja atingida, a área ampliada não será superior a 1 milhão de hectares (menos de um terço da redução dos EUA), o que leva consultores a preverem melhores preços internacionais no próximo ciclo. 

Em entrevista recente, Craig Ratajczyk, diretor de assuntos globais do Conselho de Exportação de Soja dos EUA, disse que os produtores americanos já trabalham com a perspectiva de preço médio de US$ 9 por bushel no segundo semestre, bem acima da média histórica, de US$ 6 (ver mais sobre preços à Página B10). "Nos Estados Unidos não há nem haverá espaço para ampliar a área com soja e a Argentina também tem grande interesse em cultivar o milho para a produção de etanol. O Brasil possui o melhor potencial para expandir o plantio", afirmou Ratajczyk. 

André Pessôa, diretor da Agroconsult, observa que o plantio de soja no país já atingiu 23 milhões de hectares no ciclo 2004/05 e "a simples ocupação dessa capacidade ociosa já implicaria um crescimento significativo de área". "O mais provável é que ocorra uma expansão por volta de 5%, dado o aumento dos custos e o alto nível de endividamento dos produtores, principalmente na região do Brasil central". 

A Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) mantém estimativa mais conservadora, de aumento de 3% na área plantada. Em entrevista recente, a Agência Rural projetou uma expansão entre 5% e 10%, dependendo do nível de preços praticados no mercado internacional no segundo semestre. 

No caso da Argentina, a tendência é de manutenção da área com soja, que no ciclo 2006/07 foi de 16 milhões de hectares. Lorena D”Angelo, do Centro de Informações e Estudos Econômicos da Bolsa de Comércio de Rosario da Argentina, diz que ainda não há estimativas para a próxima safra, mas "o sentimento do mercado" é de que os produtores tendem a repetir a área. "Neste momento, os preços direcionam os produtores para o plantio de milho, que já avança sobre o cultivo do trigo neste inverno. Mas tudo dependerá dos preços e do clima", disse Lorena. 

Pessôa, da Agroconsult, observa que pela primeira vez existe uma concorrência de fato entre milho e soja na Argentina, devido ao avanço de projetos de usinas de etanol de milho. O país possui 30 projetos de usinas, que até 2010 consumirão 10 milhões de toneladas de milho por ano – volume que demandará uma área adicional da cultura de 1,3 milhão de hectares. 

A disputa entre milho e soja no campo se acirrou em todo o mundo por conta da demanda crescente pelo setor de biocombustíveis. Em conseqüência, o potencial de expansão do plantio da soja no mundo fica restrito – excetuando-se o caso brasileiro. Um estudo divulgado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê um aumento das exportações brasileiras de soja de 25,9 milhões de toneladas no ciclo 2006/07 para 29,9 milhões na safra seguinte e um novo aumento na safra 2008/09, para 37,4 milhões de toneladas – a partir da qual o país se tornará o maior exportador do complexo, superando os Estados Unidos, que deve reduzir seus embarques de 31,2 milhões para 27,2 milhões no triênio. 

Caso a expansão do plantio de soja no Brasil se concretize, o país poderá voltar a ocupar a liderança nas exportações globais da oleaginosa. Conforme dados do USDA, na safra 2005/06, o Brasil assumiu a liderança sobre os Estados Unidos, com uma participação de 40,3% nos embarques globais, contra 40,1% dos EUA e 11,3% da Argentina. Na safra 2006/07, a soja brasileira ocupou por 37% do mercado global, contra 42,5% do grão americano e 10,4% do argentino. 

Para a safra 2007/08, as projeções do USDA indicam que o Brasil poderá elevar a sua participação em 3 pontos percentuais, para 39,9% dos embarques globais. Os EUA, embora ainda na liderança, devem reduzir a sua participação em 0,7 ponto percentual na safra nova, para 41,8% do total.