Redação (16/04/07) – Estoques altos de farelo e a valorização nos preços do grão superior à alta verificada no farelo e no óleo reduziram as margens de ganho das esmagadoras e desestimularam o processamento da safra.
Levantamento do Valor Data aponta que os preços da soja em grão negociada na bolsa de Chicago subiram 32,22% nos últimos 12 meses. O preço médio do farelo, por sua vez, aumentou 22,93% e o do óleo, 38,39%. O cálculo considera os contratos futuros de segunda posição, normalmente os de maior liquidez. Diferentemente do que ocorre com a cana, cuja moagem rende açúcar ou álcool, o processamento da soja gera necessariamente óleo e farelo – normalmente 20% de óleo e 80% de farelo.
Essa proporção faz com que o ganho médio das indústrias em relação aos preços praticados no ano passado seja em torno de 26%, quando o custo da matéria-prima subiu 32,22%. "As indústrias operam com uma margem negativa que varia de R$ 1,50 a R$ 2 por saca e o preço do farelo está caindo à medida que a demanda mundial pelo óleo cresce para atender ao setor de bioenergia", afirma Renato Sayeg, da Tetras Corretora.
Sayeg observa que a demanda por óleo no mercado físico tem crescido e estimulado a alta nos preços da commodity. Neste mês, por exemplo, o preço do óleo subiu 5,96% na bolsa de Chicago. Na sexta-feira, o contrato para julho fechou cotado a 33,57 centavos de dólar por libra-peso, em alta de 37 pontos. "O comportamento do óleo segue o mercado de energia. O problema é que mais óleo significa muito mais farelo, sem uma demanda equivalente", diz Sayeg. No mês, o preço médio do farelo recuou 3,76% em Chicago. O contrato para julho encerrou a última sexta-feira em queda de US$ 2,20, cotado a US$ 204,70 por tonelada.
José Luiz Glaser, diretor do complexo soja da Cargill no Brasil, confirma que o aumento nos preços do óleo e a grande procura pelas usinas de biodiesel estimulou o processamento, mas esses ganhos foram anulados pela queda do farelo e pela alta da soja em grão. A multinacional reduziu o ritmo de esmagamento em suas unidades em 15%, de 370 mil toneladas para 325 mil toneladas por mês. Segundo Glaser, a empresa está parando suas unidades de cinco a 7 dias por mês para evitar a super estocagem.
Fontes do setor informaram que Bunge e Louis Dreyfus também têm feito paralisações nas unidades, que variam de cinco a dez dias por mês. Procuradas, as companhias informaram que os executivos responsáveis pela área não estavam disponíveis para entrevista.
"Hoje todas as indústrias operam com margens negativas. O preço da soja está alto e particularmente os produtores do Mato Grosso e de Goiás trabalham com cotações acima da média", afirma Glaser. Ainda conforme ele, há pouca oferta de soja em grão nesses Estados. "Acredito que os produtores estão segurando o grão à espera de aumento nos preços, porque a exportação também está fraca. Em abril do ano passado o Brasil exportou 4 milhões de toneladas; neste ano as indústrias vão fazer uns 2,8 milhões", observa.
Para Seneri Paludo, analista da Agência Rural, dois fatores explicam os preços diferenciados da soja no Mato Grosso e em Goiás. Um deles é que a maioria dos agricultores fez a venda antecipada do grão. "Até 15 de março, 72% da safra do Mato Grosso já estava vendida e 51% da safra brasileira havia sido comercializada. Diminuiu a oferta de soja no mercado físico. Quem precisa comprar o grão tem de pagar mais caro", afirma.
Outro fator é a disponibilidade nas mãos de poucos produtores que, de fato, esperam novas altas para vender a safra remanescente. "O que se observa é que, mesmo com o preço aquecido, há pouca negociação. As indústrias também pararam porque não têm matéria-prima disponível", diz. Na semana passada, a saca vendida em Sorriso (MT) saiu a R$ 23,40 e em Rondonópolis (MT), a R$ 25,50. No porto de Paranaguá (PR), a saca foi cotada a R$ 31,50. "O que diferencia a cotação entre os dois Estados é o frete, que custa R$ 10 por saca. As indústrias de fato estão pagando mais caro pela soja do Centro-Oeste", conclui.