Redação (12/04/07) – De lá para cá, despencaram as vendas de carne suína, que começam a dar sinais de melhora. E houve uma forte elevação nos embarques de carne bovina.
O ranking interno dos principais Estados exportadores também mudou bastante nesse período. Mais afetado pelo embargo à carne suína, Santa Catarina perdeu a liderança para o Rio Grande do Sul. Nos bovinos, as empresas de São Paulo cederam espaço ao crescimento dos frigoríficos instalados em Goiás e Mato Grosso.
A crise da febre aftosa, que se espalhou por Mato Grosso do Sul, atingiu o Paraná e também prejudicou São Paulo, resultou no sacrifício de 41 mil animais. No total, o Tesouro Nacional gastou R$ 23,3 milhões com indenizações. E o governo sul-mato-grossense quer mais R$ 36 milhões para remunerar pecuaristas das cidades de Eldorado, Japorã e Mundo Novo cujo rebanho de 24 mil cabeças já foi submetido ao abate sanitário para eliminar a atividade do vírus da doença na complicada região de fronteira seca com o Paraguai.
Mas mesmo com as portas fechadas, os efeitos foram diferentes para exportadores de carne bovina e suína. As vendas de carne bovina cresceram em valor e volume desde o surgimento do foco de aftosa. Os embarques (carne in natura e industrializada) aumentaram 16,8% em volume na comparação entre os 12 meses anteriores ao foco (até setembro de 2005) e os últimos 12 meses (até março deste ano), segundo a Secretária do Comércio Exterior (Secex).
Em suínos, o volume caiu 9,5% no mesmo período. A Rússia passou a comprar mais carne bovina brasileira. As vendas passaram de 12,6 mil para 131,2 mil toneladas na comparação entre o primeiro trimestre de 2005 e o mesmo período de 2007. O Egito, também "fechado", passou de 41,1 mil para 50,8 mil toneladas. Principal cliente do agronegócio nacional, a UE segue "fechada" à carne bovina de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. No mês passado, uma missão visitou a região para conferir a situação sanitária. Mas Países Baixos, Reino Unido e Itália compraram mais este ano do que em 2005.
Antônio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), afirma que as vendas externas seguem em alta porque, atualmente, o Brasil é um dos únicos países produtores com capacidade para suprir a demanda por carne bovina no mundo. Ele cita ainda a "capilaridade" dos frigoríficos brasileiros. Parte deles conseguiu redirecionar a produção para exportação porque têm plantas em Estados não afetados pelos embargos, como o Mato Grosso.
Em suínos, porém, a situação foi um pouco distinta. A Rússia, segundo maior comprador de carnes brasileiras, reabriu apenas parcialmente para bovinos e suínos do Rio Grande do Sul e Mato Grosso, além de bovinos de São Paulo e Goiás. E reduziu suas importações de suínos de 64 mil para 48,5 mil toneladas. Mas a "fechada" Cingapura elevou suas compras de 3,6 mil para 9,2 mil toneladas no período. A Ucrânia, também "embargada", dobrou suas importações para 12,6 mil toneladas.
A situação do Brasil poderia ser pior, avalia o governo. Pelos critérios da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), defendidos pelo país como referência na Organização Mundial do Comércio (OMC), apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Acre e Rondônia poderiam exportar, já que são os únicos Estados reconhecidos como áreas livres de aftosa. "O Brasil está refém da situação de Mato Grosso do Sul. Enquanto não se resolver a questão sanitária por lá, será difícil reabrirmos os mercados", afirma o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto.
No mercado de suínos, o embargo serviu para mudar o ranking das vendas. Santa Catarina perdeu a liderança para os gaúchos nas vendas de "in natura" e viu forte crescimento do Paraná na industrializada.
Mesmo recém-chegado, o ministro Reinhold Stephanes já elegeu a defesa agropecuária como principal prioridade. E ontem, em reunião na Câmara, afirmou que o "combate efetivo" à aftosa precisa de R$ 80 milhões anuais. "É o dinheiro para estabilizar a zona de segurança na faixa de fronteira, de Rondônia ao Paraná, com Bolívia e Paraguai. Para isso, vamos precisar de ajuda, muita ajuda aqui dos colegas", disse.(Colaborou Alda do Amaral Rocha, de São Paulo)