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Revendo práticas

<p>A revisão dos resultados técnicos e econômicos do desmame aos 21 dias foi o tema apresentado pelo professor do Departamento de Zootecnia da UFV na abertura do VI Seminário de Suinocultura que está sendo realizado na AveSui Regiões.</p>

Redação SI (11/04/07) – A prática do desmame aos 21 dias, ao lado dos avanços nas áreas de genética e nutrição, foi decisiva para o crescimento da suinocultura brasileira. Muitos especialistas relacionam a adoção dessa prática ao aumento dos índices de produção e produtividade do rebanho brasileiro. É crescente, no entanto, o número de pesquisadores que defende uma maior reflexão sobre esse tipo de manejo. Para eles, os problemas sanitários, produtivos, reprodutivos e de bem-estar decorrentes do desmame aos 21 dias (ou menos) impõem a necessidade de reavaliação de tal prática.

A análise dos resultados da prática do desmame aos 21 dias foi o tema central da palestra apresentada pelo engenheiro agrícola e professor da Titular do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, Aloízio Soares Ferreira, na abertura do VI Seminário de Suinocultura que está sendo realizado na AveSui Regiões.

Segundo Ferreira, pesquisas recentes e estudos empíricos permitem questionar a viabilidade técnica, econômica, produtiva e reprodutiva da prática do desmame aos 21 dias. “São estudos que demonstram que, na realidade, os índices produtivos obtidos com o desmame aos 21 e 28 dias são similares e que a produção em quilos de terminados por porca ao ano custa menos e é maior com desmame aos 28 dias”, afirma.

Produtos alternativos – O especialista chamou a atenção para a proibição do uso de antibióticos nas dietas pós-desmame na União Européia e para a crescente preocupação dos consumidores europeus com o bem-estar animal. Segundo Ferreira, o uso de produtos alternativos com ação antimicrobiana é mais viável em animais com desmame aos 28 dias. O especialista defende ainda que leitões desmamados aos 28 dias sofrem menos estresse e que, por extensão, estão submetidos a melhores condições de bem-estar. “O que pode resultar em melhores condições de saúde e melhores condições para expressão de suas capacidades de ganho de peso e conversão alimentar”, comenta. “Sem contar que a garantia do bem-estar animal já é um requisito fundamental para acessar o mercado europeu”. 

Ferreira apresentou um experimento realizado no Setor de Suinocultura da UFV que constatou que os animais desmamados aos 28 dias apresentaram comportamento agonísticos, de belly nosing (uns leitões fuçam a barriga dos outros) e de vocalização menores que os desmamados aos 21 dias, e ainda, que o tempo de permanência dos leitões nos comedouros e bebedouros foi maior para os animais desmamados aos 28 dias.

Desconstruindo argumentos – Segundo Ferreira, dois argumentos sustentam a prática de desmame aos 21 dias. O primeiro deles defende que quanto mais precoce o desmame, maior será o número de partos por porca/ano e, consequentemente, maior o número de suínos terminados por porca/ano. “Entretanto o que se tem verificado não é isto”, afirma Ferreira. “A taxa de parto tem sido menor em rebanhos que praticam desmame mais precoce. Rebanhos com desmame aos 14 dias têm tido taxas de parto menores do que rebanhos com desmame aos 21 dias, que por sua vez têm tido taxas de parto menores do que rebanhos com desmame aos 28 dias”, explica.

Segundo ele, estudos demonstram taxas de reposição de fêmeas de pelo menos 50,0% em rebanhos com desmame aos 14 dias, pelo menos 40,0% em rebanhos com desmame aos 21 dias, e menores do que 33,0% em rebanhos com desmame aos 28 dias. “E quanto maior for a substituição de fêmeas menor será a taxa real de fertilidade, porque o número de fêmeas em fases improdutivas e total no plantel será aumentado”, avalia.

Já o segundo argumento que sustenta a prática de desmame aos 21 dias, explica Ferreira, diz que quanto mais cedo separar os leitões das porcas, menores serão os riscos de transmissão vertical de enfermidades. Segundo Ferreira, tal argumento está calcado na teoria de que o leitão recém-nascido depende da imunidade passiva transmitida pela porca. Ou seja, ao nascer, o animal recebe via colostro imunoglobulinas que são capazes de atravessar a parede intestinal durante as primeiras horas de vida do leitão.

Colostro – Depois disso, o animal recebe o leite materno que proporciona imunidade local nas paredes intestinais através de imunoglobulinas. “Baseando-se nisto, Harris aventou a hipótese de que o risco de transmissão vertical de enfermidades pode ser reduzido com a diminuição da idade ao desmame e este pesquisador, sugeriu que a idade de desmame aos 14 dias seria a mais recomendável para se evitar a transmissão vertical de Actnobacillus cholerasuis e outras bactérias e vírus”, explica. “Entretanto, Pijoan alertou que a prática de desmame precoce, com a finalidade de diminuir contágio de certas enfermidades, tem exacerbado a contaminação por outras”.

De acordo com Ferreira, a prática do desmame aos 21 dias impôs o uso maciço de antibióticos e antibacterisostáticos para leitões no período pós desmame na fase de creche. Fato que, segundo ele, permite constatar que, se por um lado pode haver vantagem do ponto de vista sanitário do desmame precoce, por outro há riscos do ponto de vista imunológico e nutricional. “O que por si só impõe a necessidade de ponderação desta prática”, avalia o especialista. Para Ferreira, a idade adequada para desmame de leitões se dá aos 28 dias.