Redação (19/03/07) – O prêmio, que há seis meses era de US$ 8, em média, recuou para US$ 3. Empresários ouvidos pelo Valor afirmam que a queda deve-se ao aumento da oferta global de soja não-transgênica e do desinteresse dos importadores em pagar bônus, já que os preços da commodity estão acima da média histórica no mercado externo.
De acordo com estudo do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), embora o plantio de soja transgênica no mundo tenha aumentado 7,7% na safra 2006/07, alcançando 58,6 milhões de hectares, a sua participação em relação à produção global de soja diminuiu, de 60%, para 57%. No Brasil, ocorreu o inverso. A participação da soja transgênica sobre o plantio total aumentou de 42% para 54,3%, passando de 9,4 milhões para 11,2 milhões de hectares, conforme estudo feito pela consultoria Céleres.
A expansão da soja transgênica obrigou empresas que atuam no país e exportam grão convencional a conceder prêmios aos produtores, para garantir oferta. A Solae Company, joint venture entre DuPont e Bunge, iniciou o trabalho na safra 2005/06 e repetiu no ciclo atual o pagamento de bônus de 8% sobre o preço da saca. A Caramuru Alimentos, começou nesta safra a pagar prêmio de US$ 0,50 por saca.
"A meta é originar 120 mil toneladas de soja convencional neste ano, e é necessário estimular os produtores", afirma Daniel Casara, diretor de operações para América Latina da Solae Company. Em 2006 a empresa processou 100 mil toneladas de soja não-transgênica.
Para Cesar Borges, vice-presidente da Caramuru, o prêmio pago hoje pelos importadores não tem sido rentável para as indústrias, que têm como ônus o pagamento de bônus aos produtores e a segregação do grão. Para ele, a soja convencional tende a se tornar cada vez mais um nicho de mercado. "Se a oferta aumenta, o bônus cai muito. Não compensa uma oferta global elevada."
Mas, para quem nunca recebeu bônus, os prêmios, mesmo baixos, agradam. O Grupo Vanguarda, que sempre vendeu soja não-transgênica via Bunge e Cargill , iniciou neste ano a exportação direta ao mercado europeu. Conforme José Henrique Hasse, gerente de vendas do grupo, a expectativa é exportar diretamente 120 mil toneladas neste ano e 200 mil toneladas em 2008. "Hoje as indústrias não pagam prêmio aos produtores do Mato Grosso. Nossa meta é exportar toda a produção diretamente já no próximo ano."
Daniel Sebben, analista da Agência Rural, observou que, recentemente, carregamentos de soja do norte do Mato Grosso que iam para a Europa foram barrados no porto de Itaqui (MA) por conterem traços de transgenia. "Os produtores do Estado não recebem prêmios pela soja convencional e ainda têm problemas para vender o grão transgênico", observa. Na sexta-feira, o preço médio da saca negociada no Paraná foi de R$ 29,25, queda de 0,34% no dia, segundo o Deral. Na bolsa de Chicago, os preços futuros da oleaginosa subiram, com compras de especuladores influenciados pelos comentários de grande redução da área plantada com a cultura nos EUA e pela alta do óleo. O contrato para julho valorizou 2,25 centavos de dólar, para US$ 7,69 por bushel.