Redação (08/03/07) – Compreender a dimensão e a exata profundidade dos problemas que entravam o mercado de carne suína no Brasil, possibilitando aos criadores planejar e organizar adequadamente suas atividades. Este é o principal objetivo do12º Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (SNDS), promovido pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) e pela Associação dos Criadores de Suínos do Mato Grosso (Acrismat), entre os dias 25 e 28 de abril, em Cuiabá.
“Estamos produzindo e não temos para quem vender; estamos entregando o animal e tomando prejuízo”, resume Rubens Valentini, presidente da ABCS. Para ele, é indispensável romper a barreira da desinformação. “E o caminho melhor para isso”, diz Rubens, “é ouvir especialistas, gente abalizada que possa efetivamente indicar a gênese dos problemas e os caminhos para sua solução”.
O 12º SNDS se diferencia também por estar inteiramente organizado em torno de um único foco: a compreensão das necessidades, dos desejos, do que move o cliente na direção, ou não, da carne suína. “No lugar de fazer uma colcha de retalhos tratando de assuntos técnicos, comerciais e políticos, de forma desencadeada e dispersiva, montamos quatro seções de 3,5 horas com especialistas altamente gabaritados para nos ajudar a enxergar os caminhos que nos levarão para fora da crise estrutural que atravessamos”, diz o presidente da ABCS.
Os debatedores receberão os textos dos palestrantes anteriormente, de forma a que possam aprofundar as discussões e colaborar na busca de novos enfoques. Quem ganha com isso é a platéia, são os participantes que poderão ver respondida perguntas repetidas cotidianamente: nosso produto tem alta qualidade, é desenvolvido com eficiência e, no final das contas, muitas vezes não conseguimos cobrir os custos.
O Seminário está organizado para tentar esclarecer as duas grandes travas que constrangem a comercialização da carne suína: os mercados doméstico e externo.
No que diz respeito ao mercado internacional serão aprofundadas duas abordagens principais: a construção de uma estratégia para tornar a suinocultura independente dos problemas sanitários oriundos da bovinocultura; e o que fazer, depois disso, para efetivamente aumentar a participação brasileira no mercado internacional.
Rubens Valentini lembra que é muito pouco provável que o Brasil consiga se transformar num território livre da febre aftosa sem vacinação num horizonte de muitos anos. Nesse sentido, ninguém melhora para discorrer sobre o assunto do que o Diretor do Código de Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal, Alejandro Thiermann.
Mas, sanidade no mercado externo não é tudo. O exemplo de Santa Catarina é gritante, Há anos o Estado é considerado pela OIE livre de febre aftosa sem vacinação, mas nem por isso consegue tratamento diferenciado. Santa Catarina está há mais de ano sem exportar para a Rússia e não consegue vender para a União Européia, para os EUA, México, Japão e Coréia. “Por isso é importante ouvir desses compradores o que mais eles querem de nós além da superação das dificuldades sanitárias”, diz Rubens, que está embarcando amanhã para Tóquio, entre outros objetivos, para convidar um técnico do Ministério da Agricultura do Japão para participar do 12º SNDS.
No mercado doméstico, a carne suína está há mais de ano sendo comercializada a preços baixos para o suinocultor, mas nem assim a população está comendo mais. “Continuamos em torno de ridículos 12 kg per capita ano”, observa o presidente da ABCS. “O que está acontecendo?”, pergunta.
Rubens duvida que o setor esteja entendendo o funcionamento do varejo em relação à carne suína. E assim que o SNDS vai procurar desvendar as características do varejo moderno. “Quando eu era moleque, a carne de frango chegava à nossa mesa aos domingos e a gente ainda por cima tinha que matar o animal!”, conta Valentini. “Hoje o frango está inserido no cotidiano das pessoas, numa prova de que os avicultores entenderam o funcionamento do varejo para seu produto e nós não”, resume o presidente. Para discutir o assunto o SNDS vai contar com a participação de um dos maiores especialistas em marketing de varejo, Alberto Serrentino, de São Paulo.
O 12º SNDS mostra também a propriedade do velho ditado: não se deve dar ponto sem nó. É preciso examinar outros fatores que afetam a produção e o mercado. Um deles é o crescimento dos países asiáticos. E como é que estamos nos posicionando para nos prevenir dos problemas provocados por esse crescimento e como podemos tirar vantagens da nova demanda que está sendo gerada.
A China, por exemplo, na esteira de seu ritmo de crescimento econômico da ordem de 11% ao ano, já está entrando no mercado internacional comprando carne suína. E já consome 35 quilos per capita por ano, podendo representar um fator de desequilíbrio extremamente positivo para o mercado internacional como um todo. “Essas coisas, porém, não se fazem do dia para a noite nem sem conhecimento específico, por isso fomos buscar a contribuição de dois economistas estudiosos da geopolítica e especializados no mercado internacional, os professores Eduardo Viola e Carlos Pio, da UnB”, finaliza Valentini. De posse do cenário desenhado pelos professores, o governador Blairo Maggi vai nos dizer quais são os planos dos governantes do Centro-Oeste para enfrentar esses desafios.