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Perdas da lavoura de soja em função da chuva chegam a 10%

<p>Chuvas constantes desde o início de fevereiro resultam em prejuízo real de até 2% da produção de soja em algumas lavouras da Região Sul de Mato Grosso.</p>

Redação (15/02/07) – A maior ocorrência de chuvas desde o início de fevereiro comprometeu de 5% a 10% dos grãos de soja produzidos em algumas lavouras da Região Sul de Mato Grosso. Como a tolerância dos compradores é de no máximo 8% de grãos estragados, isto significa um prejuízo real de até 2% da produção. A Globalsat Monitoramento Agrícola, empresa de Rondonópolis que faz o acompanhamento da safra por meio de imagens de satélite, já encontrou sinais de perdas em algumas lavouras da região. O diretor técnico da empresa, Leandro Fabiani, diz que ainda se tratam de casos isolados, mas frisa que prejuízos maiores podem ocorrer caso as chuvas persistam.

Pelo menos no que depender da previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as notícias não são nada boas para os agricultores. O meteorologista da Coordenação Geral de Desenvolvimento e Pesquisa do órgão, Mozar de Araújo Salvador, destaca que as chuvas devem continuar até o fim de fevereiro. A previsão, é que somente a partir de março as precipitações voltem ao normal. Desde o início do mês até ontem, já choveu 94% do volume registrado durante todo o mês de fevereiro do ano passado na região de Rondonópolis.

Conforme dados do Inmet, até ontem, os municípios da região acumularam 160 milímetros de chuva. Já a taxa de pluviosidade do o mês de fevereiro do ano passado foi de 170 milímetros. Levando em consideração os primeiros 14 dias deste mês, em apenas cinco não houve precipitações. Os números apontam para a ocorrência de chuvas em 64% dos dias. No mesmo período do ano passado, o índice de chuvas foi de 50% -14 dias chuvosos no mês. Na opinião de Salvador, o maior volume pluviométrico está relacionado, em parte, com o El Nio, fenômeno natural que provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico.

Este ano, o centro de circulação de ar de alta pressão conhecido como Alto da Bolívia também contribuiu para o maior volume de chuvas em Mato Grosso. Salvador esclarece que o Alto da Bolívia normalmente fica posicionado sobre o território do país vizinho. No entanto, a corrente de ar foi deslocada mais a Oeste, o que permitiu a entrada de frentes frias trazendo chuvas para o Estado. Já esperávamos maior volume de precipitações para fevereiro. Mas apostamos na normalidade dos índices pluviométricos a partir do mês que vem, reitera.

O meteorologista reconhece que as chuvas são bem vindas pelos produtores, mas desde que na medida certa. O excesso de umidade nas lavouras, aliado ao calor típico do clima tropical, favorece o aparecimento de pragas e do fungo da ferrugem asiática. Além disso, as chuvas dificultam o transporte da produção. Muitas estradas ficam intransitáveis, o que dificulta o escoamento da safra, ressalta. Salvador acrescenta que outro problema é o atraso na colheita provocado pelas chuvas. Os produtores têm que deixar as máquinas paradas na lavoura. Isto atrasa a colheita e pode resultar na perda de qualidade dos grãos.

Soja precoce corre risco de estragar
A soja precoce, plantada por volta de outubro do ano passado, está correndo o risco de passar do ponto por causa das chuvas, conforme o diretor técnico da Globalsat, Leandro Fabiani. Por ter sido semeado mais cedo, nesta época o grão já está pronto para a colheita e o atraso ocasionado pelo tempo pode resultar em perdas. Segundo ele, após o fim do ciclo, a vagem estoura e o grão cai de forma natural. Além disso, quando chove o grão absorve mais umidade. Isto pode ocasionar o apodrecimento da soja mesmo com o grão ainda na planta, devido ao ataque de fungos.

Com isso, a produção perde qualidade. Como não é possível extrair óleo vegetal dos grãos avariados [danificados], eles não são aceitos pelas indústrias. Os grãos avariados servem apenas para fazer ração animal, diz. O presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis, Ricardo Tomczyk, acredita que por enquanto, apenas os produtores que iniciaram a colheita da lavoura estão tendo prejuízos. O atraso na colheita provoca a deterioração dos grãos. Ele calcula que até ontem no máximo 10% da soja plantada na Região Sul do Estado foi colhida.

MOBILIZAÇÃO

Nas Regiões Norte e Médio Norte, onde o plantio da soja ocorre mais cedo e o ciclo de desenvolvimento da planta está mais avançado, os produtores já estão falando em perdas de 20% da produção. Por conta da perspectiva de maiores prejuízos, lideranças agrícolas dessas regiões estão organizando um movimento para reivindicar uma nova renegociação de dívidas. No ano passado as pendências da safra 2004/2005 e 2005/2006 já foram prorrogadas. Uma reunião será realizada sábado (17), em Lucas do Rio Verde, quando será elaborada uma proposta de reescalonamento dos débitos.

Produtividade terá queda média de 10%
Com a continuidade das chuvas, a produtividade média das lavouras de soja poderá sofrer redução de 10%, conforme estima o agricultor Osvaldo Luiz Rubin Pasqualotto, que cultiva uma área de 7 mil hectares em Juscimeira (52 km de Rondonópolis). Ele conta que o número de grãos deteriorados devido à umidade já chega a 10% do total e que as lavouras semeadas mais tarde, entre novembro e dezembro, podem ter quebra no rendimento em função da ocorrência de pragas e da maior incidência da ferrugem asiática. Ele lembra que as chuvas criam um ambiente favorável ao surgimento de doenças nas plantações.

Nesta safra, Pasqualotto conta que a produtividade média da soja estava oscilando entre 48 e 52 sacas por hectare. Aproximadamente 15% da área cultivada pelo agricultor já foi colhida. A previsão, no entanto, é que com as chuvas o rendimento caia para até 43 sacas por hectare. Ele projeta ainda que será necessário realizar pelo menos mais uma aplicação de fungicidas nas plantações antes do término da colheita como forma de controlar a ferrugem asiática. Isto vai significar um gasto extra de três a quatro sacas de soja por hectare, diz.

MILHO

O início do plantio da safrinha de milho também está atrasado na propriedade de Pasqualotto. Ele atribui a culpa às chuvas, que não permitem a continuidade da colheita da soja, tornando impossível também começar a rotatividade de cultura. Ele lembra que a safra de inverno do grão entra para cobrir o solo ocupado com a oleaginosa durante o ciclo de verão. De acordo com o produtor, o milho começou a ser semeado há cerca de dez dias, porém os trabalhos precisaram ser interrompidos. Assim que a chuva der uma trégua pretendemos retomar o plantio.

Algodão também é prejudicado com chuva
Os tratos culturais do algodão também ficam prejudicados com a maior incidência de chuvas. De acordo com o diretor técnico da Globalsat, Leandro Fabiani, etapas que precisam ser cumpridas ao longo do desenvolvimento da lavoura, como o controle de ervas daninhas, por exemplo, não podem ser realizadas sob um grande volume de precipitações. O controle de insetos, como o bicudo do algodoeiro, também fica mais difícil. Isto, associado à má destruição das soqueiras (restos de algodão que ficam no chão após o término da safra), pode resultar em prejuízos aos cotonicultores.

A chuva em si não é capaz de aumentar a incidência do bicudo do algodoeiro. Mas como as populações da praga já estão instalas nas lavouras, o trabalho fica mais difícil. E se a pulverização não for feita na época cerca, depois não adianta mais aplicar inseticidas, porque o ovo já foi depositado dentro da maçã do algodão, atesta. Para Fabiani, agora é difícil quantificar os prejuízos. As perdas serão percebidas somente depois que as maçãs abrirem, diz. Ele acrescenta ainda que no ano passado a Globalsat alertou os produtores sobre a necessidade de destruir as soqueiras para evitar a praga.