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Milho segue ''script'' e lidera alta das commodities em janeiro

<p>Janeiro teve uma das maiores valorizações internacionais entre as principais commodities agrícolas.</p>

Redação (01/02/07) – Ainda que muitos especialistas americanos tenham considerado o recente discurso do presidente George W. Bush em favor do uso de combustíveis alternativos nos EUA quase uma “ducha de água fria” para os produtores de milho do país, em razão dos sinais de estímulo ao uso de outras matérias-primas e às importações, o “efeito etanol” prevaleceu e o grão voltou a registrar, em janeiro, a maior valorização internacional entre as principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior.

Segundo cálculos do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega – normalmente os que apresentam maior liquidez – de produtos negociados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), o bushel do milho alcançou US$ 4,0165 no mês passado, 5,62% mais que em dezembro – apesar da forte queda no pregão imediatamente posterior à fala de Bush. Nos últimos doze meses, a valorização chegou a 80,15%, a maior entre as oito commodities para o período; no intervalo de 24 meses até janeiro, a alta atingiu 93,38%.

Para o analista Leonardo Sologuren, da Céleres, que desde o início não viu nada frustrante para o milho americano nas declarações de Bush, os ganhos eram esperados. Ele lembra que, em relatório de oferta e demanda de grãos divulgado em janeiro, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) reduziu sua estimativa para a próxima safra do país (2007/08) e sinalizou uma relação entre estoques e consumo no mercado americano de 6,4%, ante uma média histórica de 15%.

No caso da demanda por milho para a produção de etanol, Sologuren acredita que ela seguirá aquecida mesmo com as margens menores para a fabricação do combustível por conta da alta do grão, e que é consenso que outras matérias-primas serão necessárias para atender às metas de uso de energias alternativas ao petróleo. Para o analista, a queda de preços na sessão imediatamente posterior ao discurso de Bush foi determinada, na verdade, por um movimento de realizações de lucros.

Como se tornou rotina nos últimos tempos, a soja seguiu à reboque do milho em Chicago em janeiro, em grande parte devido à ação dos fundos de investimentos. A cotação média da matéria-prima (que, como o milho, serve tanto para a produção de alimentos e rações quanto para biocombustíveis) alcançou US$ 7,1075 no mês passado, 4,97% acima do patamar de dezembro. Nos últimos doze meses, os ganhos já são de 19,87%; no período de 24 meses, de 35,11%, segundo os critérios do Valor Data.

Neste mercado, a alta mensal chegou a surpreender. “As apostas sinalizavam para uma média superior na primeira quinzena de janeiro, mas inferior na segunda em relação ao mesmo período de dezembro. Mas isso não aconteceu, em parte pelo efeito dos fundos e em parte pela expectativa de que a colheita na América do Sul fosse ainda mais acelerada”, afirma Renato Sayeg, da Tetras Corretora.

Para as cotações do trigo, o mês passado foi menos generoso em Chicago. Em média, a cotação atingiu US$ 4,7849 por bushel, 4,87% menos que em dezembro. O recuo foi determinado por fatores técnicos, mas os fundamentos deixam espaço para valorizações. Segundo Vinícius Ito, da Fimat Futures, o clima mais frio em regiões produtoras dos EUA e o aumento dos preços de milho e soja continuam oferecendo algum suporte ao cereal, cujas cotações apresentaram salto de 38,52% nos últimos doze meses.

Se continuam ativos na bolsa de Chicago, os fundos de investimentos recuaram em Nova York e o movimento tirou parte da sustentação das commodities agrícolas transacionadas naquele mercado. O açúcar sentiu o baque e, também em virtude da expectativa de superávit global do produto – conforme Alexandre Oliveira, também da Fimat -, seu preço médio caiu 5,2% em relação a dezembro, para 11,02 centavos de dólar por libra-peso. No ano-móvel até janeiro, a retração já alcançou 31,78%, mas nos últimos 24 meses ainda há ganhos de 19,63%.

A segunda maior queda nova-iorquina na comparação entre janeiro e dezembro foi a do café (4,14%), cujo preço médio ficou em US$ 1,2240 por libra-peso. A necessidade de os países exportadores “fazerem caixa” influenciou o comportamento do mercado. “Havia uma perspectiva de que os preços subissem em janeiro, mas foi frustrada pelas vendas dos fundos”, disse Rodrigo Costa, da Fimat. Em 12 meses, a valorização foi agora reduzida para apenas 0,52%.

Mesmo as cotações do suco de laranja, “estrela ascendente” em Nova York desde 2004, com os problemas de oferta na Flórida, recuou em janeiro. A cotação média desceu para US$ 1,9680 por libra-peso, preservando uma expressiva valorização de 134,32% nos últimos 24 meses – a maior entre as commodities pesquisadas no intervalo em questão.

Algodão e cacau, por fim, variaram pouco no mês passado. No primeiro caso houve baixa de 0,21%, por conta da baixa demanda no mercado físico, e no segundo houve alta de 0,09%. Aqui, segundo Thomas Hartmann, da TH Consultoria, o cenário permanece de equilíbrio entre oferta e demanda globais.