Redação (01/09/06)- Se depender da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), em curto prazo, os chineses terão novo instrumento para incrementar o comércio Brasil-China. Trata-se de um contrato específico de soja, que possibilitará a compra da oleaginosa diretamente do produtor, sem o intermédio de tradings e de grandes redes internacionais de comércio.
No ano passado, as exportações de soja para o mercado chinês somaram US$ 2,38 bilhões, o equivalente a 7,95 mil toneladas. O volume cresceu 41,63% em relação a 2004, mas o faturamento aumentou apenas 14,63%. Até julho, as exportações totalizaram US$ 1,72 bilhões, mas o volume está quase superando 2005. Já são 7,6 mil toneladas.
A iniciativa da BM&F em criar um contrato específico para a soja foi elogiada pelo presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul Liu.
Ele explicou que os produtores estão nas mãos de grandes tradings e têm dificuldade em escoar a produção dos campos. Como a BM&F tem condições de fazer cumprir contratos, isso dará mais credibilidade ao mercado e poderá aumentar as vendas de soja para a China. Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang, é possível vender soja diretamente, sem a interferência das tradings de grãos, mas ele não acredita na perda de mercado por parte destas.
Os chineses querem alternativas de compra e venda. A iniciativa da BM&F é mais uma alternativa para o intercâmbio dos dois países, conclui.
Infra-estrutura
O presidente do Conselho de Administração da BM&F, Manoel Felix Cintra Neto, explica que a soja chega nos portos de Paranaguá, Rio Grande e Santos com um preço que varia entre 40% a 50% referente ao transporte e os chineses têm uma preocupação enorme com a redução de preços.
Se eles quiserem ter o produto brasileiro mais barato, terão de investir em infra-estrutura, porque em termos de competitividade, o produtor brasileiro já fez tudo. O problema é o Custo Brasil, avalia Cintra Neto.
Uma delegação de 42 empresários chineses esteve na BM&F, nessa quarta-feira (30-08), para conhecer as parcerias público-privadas (PPPs) em que poderão investir no Estado de São Paulo. Na ocasião, estavam presentes empresas como Baosteel Group, China Harbour, Engineering Company, Zte Corporation, China Metals e Minerals, Chinatex, Grains and Oils, entre outras.
Essas companhias são basicamente formadas por siderúrgicas de aços e conexões, companhias de recursos florestais, de cooperação internacional, de construção portuária e de estradas, bancos de desenvolvimento, empresas dos setores médico, farmacêutico e de mineração.
O governo do estado apresentou ampla carteira de projetos de PPPs que inclui desde a Linha 4 do Metrô até parcerias em certificação digital para tentar solucionar o problema da segurança pública (veja matéria abaixo).
De acordo com o Cônsul Econômico e Comercial da China, Jiang Hui, São Paulo precisa divulgar amplamente o conceito das PPPs em seu país, pois a grande maioria dos empresários não as conhece. Ele informou, porém, que duas empresas chinesas demonstraram interesse nas parcerias, mas ainda não pode divulgar quais em quais setores atuariam.
Para o presidente da CBCDE, Paul Liu, o País tem de definir claramente o que é responsabilidade da iniciativa privada e o que é pertinente ao setor público. Também terá de esclarecer qual a taxa de retorno para cada investimento. Liu explica que há interesse de grupos chineses em investir no País, principalmente em logística e infra-estrutura, mas desde o lançamento das PPPs, as suas diretrizes não estão claras.
O executivo da CCIBC acredita que as parcerias público-privadas interessam aos chineses e que estes poderão trocar muitas experiências com o Brasil, porque a infra-estrutura chinesa e as usinas hidrelétricas foram resultado de concessões do governo e de investimentos de empresas privadas, principalmente em Hong Kong. Tang informou que empresas chinesas já sinalizaram o interesse em investir em infra-estrutura ferroviária, entre elas, a Citic Group que, recentemente, fez investimentos na Índia.