Redação AI (20/06/06)- A desaceleração na produção de carne de frango, imprimida pelo setor no ano, já reflete no consumo de milho. Em abril, pela primeira vez nos últimos 25 meses, a avicultura consumiu menos de 1 milhão de toneladas de milho -997 mil.
Mas não foi apenas a avicultura que reduziu o consumo. Dependente do setor externo, e com um embargo do principal comprador brasileiro, a cadeia de suinocultura também foi forçada a reduzir a produção e a consumir menos milho. Os russos liberaram o Rio Grande do Sul, mas ainda mantêm embargo para os outros Estados.
A queda de consumo de milho na avicultura, que vinha em ritmo acelerado até o ano passado, ocorreu depois de a gripe aviária ter chegado à Europa. Enquanto a doença ficou na Ásia, o Brasil se beneficiou e ganhou mercado, principalmente na Europa. Mas os europeus reduziram o consumo logo após a gripe bater às portas.
A queda de consumo ocorre após o término da safra de verão e o início da de inverno -a safrinha. Mesmo assim, o reflexo sobre os preços do milho devem ser limitados. Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), diz que o setor fez um ajuste agressivo, mas que, ao longo do ano, o consumo de milho deve empatar com os 13,8 milhões de toneladas do ano passado. Até abril, o consumo foi de 4,3 milhões de toneladas, volume próximo ao do mesmo período de 2005, segundo a Céleres.
José Carlos Teixeira, especialista no setor de avicultura, diz que “o ajuste mais forte já ocorreu, mas o setor não volta aos patamares anteriores de produção tão rapidamente. Mesmo com a redução de oferta de frango no mercado, os avicultores ainda operam sem margem de ganho”.
Teixeira acrescenta, no entanto, que o consumo de milho não deve cair mais e que haverá uma retomada em seu uso.
Em dezembro, o alojamento de pintinhos atingiu 414 milhões de aves, número que caiu para 333 milhões em abril, mas já houve uma recuperação para 375 milhões no mês passado, conforme dados provisórios. Em dezembro deste ano, no entanto, o alojamento não deverá retornar aos mesmos números de 2005, acredita Teixeira.
Mesmo diante desses números, Sologuren não acredita em quedas acentuadas de preços do milho no segundo semestre. Ele cita vários motivos que dão sustentação aos preços. Primeiro, o clima não está tão favorável para a produção, o que pode diminuir a oferta no inverno. Além disso, há uma indicação de preços melhores para o produto no final do ano, devido ao maior consumo de milho para a produção de etanol nos Estados Unidos. Essa recuperação de preços externos, somada à uma previsão de melhora no câmbio, pode dar sustentação às exportações.
Tomando como base os preços futuros do milho em Chicago e do dólar na BM&F, ambos para dezembro, se a saca de milho ficar abaixo de R$ 14 no mercado interno no final do ano, compensa para o produtor exportar. A paridade deste ano é bem mais vantajosa do que a de dezembro de 2005, quando esse valor era de apenas R$ 9.
Sologuren, que já refez as contas das exportações brasileiras neste ano, diz que, se os preços caírem no mercado interno, o externo é a saída. Para o ano, as estimativas de vendas externas subiram de 1,7 milhão para 2 milhões de toneladas.
Renda
A baixa remuneração nos preços do milho tem reduzido ainda mais a renda dos produtores, que já sofrem com a queda no valor da soja. Em maio do ano passado, a saca de milho estava a R$ 20 em Campinas (SP). Neste ano, esteve a R$ 15,55.
Dois problemas acompanham os produtores nos últimos anos: baixa produtividade e elevação dos custos. O analista da Céleres diz que de 2002 a 2005 os custos dobraram para os produtores de Cascavel (PR), área de produção próxima do porto de escoamento.
Outro problema que afeta a renda dos produtores brasileiros é o baixo rendimento de produção -3.000 quilos por hectare, um patamar bem inferior ao dos 9.000 quilos nos Estados Unidos.