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Grito do Ipiranga

<p>Produtores do MT mantêm mobilização nas rodovias.</p>

Redação (19/05/06)- Entre a grande expectativa por medidas concretas do Governo Federal e o receio de novas frustrações, na próxima quinta-feira (25.05), os produtores rurais dos municípios que participam do movimento Grito do Ipiranga, em Mato Grosso, decidiram manter a mobilização nas rodovias do Estado. A estratégia é agir com bom senso, evitar conflitos, mas não permitir o trânsito de grãos e insumos. Veículos com passageiros, cargas vivas e perecíveis estão liberados. Porém, cada cidade terá critérios próprios no direcionamento do protesto nos próximos sete dias. No dia 26 de maio, os produtores se reúnem para avaliar o novo pacote.

O movimento continua, mas com menos tensão. Em alguns lugares os produtores rurais vão liberar 100%, como aconteceu em Rondonópolis, no sul do Estado, e em outros ainda estão segurando os caminhões. Nós solicitamos que prevaleça o bom senso para evitar que a opinião pública se volte contra as nossas legítimas reivindicações, explicou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Pereira.

De acordo com Pereira, a esperança de todos é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cumpra a promessa e anuncie medidas efetivas e duradouras, portanto, até que isso aconteça, é preciso ter paciência. Ninguém pretende gerar conflitos porque, dessa forma, vamos perder o foco da manifestação, considerou. Mas, a gente não sabe que tipo de desdobramento pode haver se as medidas não atenderem as expectativas dos produtores rurais, alertou.

A reunião foi marcada pela discussão acirrada entre os agricultores que estão, há mais de um mês, envolvidos no protesto. Uns defendem a continuidade do bloqueio e outros a suspensão. A proposta de manter a mobilização com liberação dos caminhões carregados com grãos que estão bloqueados nas rodovias, principalmente, na BR 163, e só então, voltar a impedir o trânsito de cargas agrícolas, não foi aprovada pelos representantes de 21 dos 43 municípios onde acontece o Grito do Ipiranga.

Esta é a decisão mais acertada. Não se justifica, sair de uma mobilização de sucesso como esta, que surgiu das bases, em função da promessa de que, talvez, alguma coisa vai acontecer. Nós vamos dar um voto de confiança ao presidente da República, mas só até o dia marcado. Se não tiver nada, até 25 de maio, é possível que o movimento recrudesça, apontou o presidente do Sindicato Rural de Tangará da Serra, Normando Corral. Na MT 170, no município, a 240 km de Cuiabá, não há proibição do tráfego de carros pequenos, ambulâncias e ônibus, e os caminhões de grãos são liberados em dois horários, sem nenhum problema. Nós estamos com os dois pés atrás, porque este é um governo de esquerda e nunca nos olhou com bons olhos. Por isso, não temos grandes esperanças disse Corral, em relação ao Governo Federal.

Em Rondonópolis (212 km da Capital), na BR 364, o produtor Domingos Sávio Xavier, disse que a liberação de caminhões foi uma estratégia até hoje (quinta-feira) e uma reunião, no final da tarde, define os rumos daqui para frente. Não conseguimos segurar caminhões carregados na pista. Vamos continuar com os tratores à beira da pista, por enquanto, permitindo o carregamento nas trades e o transporte dos produtos. Isso não significa, o fim do movimento, esta é a estratégia de hoje, a mobilização continua. Amanhã pode ser diferente, afirmou Xavier.

No norte do Estado, os municípios que estão no eixo da BR 163, como Sorriso que enfrentaram a truculência da Polícia Rodoviária Federal, no cumprimento da liminar do juiz federal, Sebastião Julier da Silva, os produtores garantem que em nenhum momento o trânsito foi bloqueado totalmente. Só houve um trancaço, de uma hora pela manhã e outra à tarde na terça-feira (16.05). Porque a Polícia Federal não vai prender os corruptos que roubaram, não foram punidos, não devolveram o dinheiro e continuam com o poder nas mãos, desabafou o produtor José Nilton Mafra, de Ipiranga do Norte (450 km de Cuiabá), município que deu início ao protesto, em 17 de abril. Nossa reivindicação é justa. Queremos continuar na atividade, gerar empregos e produzir riquezas para o País, como fizemos até a Safra 2005/2006, assegurou o produtor.

O vice-presidente da Associação de Produtores de Soja (Aprosoja-MT) Nadir Sucolotti, reforçou o alerta ao governo Lula que se a agropecuária não for valorizada, não há como plantar na próxima Safra,. Estamos apreensivos. O governo vencendo o produtor no cansaço e, ele, está perdendo a cabeça. Se há um culpado, é o governo federal, que não ouve a base e não dá respostas à altura. Ao contrário, o governo está criando caos no campo, com o câmbio e o preço do óleo diesel, entre outras coisas, criticou Sucolotti.

Em Sinop, também na BR 163, os produtores devem recuar quando a polícia chegar, segundo o presidente do sindicato rural, Antônio Galvan. Não vamos bloquear na totalidade, vamos amenizar, mas é bom avisar que ainda temos fôlego para 10, 20, 30 dias. Estamos dispostos a ficar até resolver o problema. Em relação ao dia 25 de maio, sempre vai haver desconfiança. O que vem deste governo não dá pra acreditar, considerou Galvan.

SEM TRÉGUA

Pela manhã, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, participou da maior parte da reunião. Ele fez um apelo aos produtores rurais para que dêem uma trégua nos bloqueios e liberando totalmente as rodovias estaduais e federais. Peço um voto de confiança ao presidente Lula e a liberação das estradas. Precisamos de paciência neste momento. Vamos (o governo) entrar em colapso se isso não acontecer, avaliou Maggi. O representante da indústria de alimentos, Marcos Lorgan, esteve na reunião e disse que apóia o movimento apesar da iminência da demissão de cerca de duas mil pessoas e a falta de matéria prima na Capital do Estado, em especial, o arroz.