Redação (03/05/06)- Em 2003, a carne brasileira vivia um bom momento no mercado varejista da Inglaterra, ganhando cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados do país. Por outro lado, a boa fase começava a incomodar os pecuaristas ingleses. Em alguns dias, deu-se início a uma campanha difamatória que durou dois anos e culminou na redução do crescimento das exportações brasileiras para o mercado inglês.
Em 2005, as exportações de carne do Brasil para a União Européia cresceram 10% em relação a 2004. Analisada sob outro ângulo, a estatística não parece traçar um panorama tão otimista. Segundo o consultor Jean-Yves Carfantan, esse percentual poderia ter sido bem maior caso houvesse uma maior preocupação com a imagem dos produtos exportados.
As armas da campanha eram piquetes montados em frente à rede Somerfield, a quarta maior empresa do setor na Inglaterra, que vendia a carne produzida no Brasil. O discurso propagado em panfletos e alto-falantes acabou convencendo muitos consumidores. Eles abordavam as pessoas e diziam que se ela comprasse aquela carne estaria contribuindo para a exploração mão de obra infantil ou para o desmatamento na Amazônia, relata o consultor.
A reviravolta na história aconteceu quando a maior rede inglesa, a Tesco, resolveu fazer uma parceria com empresas, associações de pecuaristas e frigoríficos brasileiros. A saída encontrada por eles acabou se tornando a solução do problema: a convite do grupo, pecuaristas da Inglaterra vieram ao Brasil conhecer o sistema de produção de carne e percorreram fazendas e frigoríficos.
No entanto, esse é apenas um exemplo isolado e ainda não reflete uma prática comum à maioria dos integrantes da cadeia pecuária brasileira. O exportador, alerta Carfantan, tem que se comunicar com o consumidor. Se o Brasil não construir a imagem de seus produtos, essa imagem vai depender não do seu produto, mas sim da imagem do país produzida pela mídia européia, explica.
De acordo com o consultor, o Brasil aos poucos começa a ser visto como uma nação tecnologicamente inovadora, mas os estereótipos ainda permeiam muitos discursos produzidos lá fora. Ainda há alguns clichês como pensarem que as pessoas vivem na praia, depois jogam futebol, assistem Fórmula I e uma vez por ano fazem o carnaval, conta.