Redação AI (14/03/06)- A queda do consumo de frango em diversos países, por causa da gripe aviária, já apresenta reflexos na produção brasileira de aves e preocupa os trabalhadores do setor. O receio tem dois focos: a possibilidade de demissões e o risco de contaminação pelo vírus H5N1, caso a doença chegue ao Brasil. Durante o 6 Encontro Nacional do Frango, realizado no último fim de semana, em Uberlândia (MG), as discussões dos representantes de trabalhadores no setor avícola se voltaram para as possíveis conseqüências da gripe aviária. As exportações brasileiras já caíram cerca de 30%, conforme afirmaram os organizadores do evento.
“Este encontro era para discutir as negociações salariais da categoria, mas fomos pegos de surpresa com a crise que está se instaurando”, explicou o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Uberlândia (Stiau), Humberto de Barros Ferreira. Dos mais de 12 mil empregados do setor, no Município, cerca de 5,4 mil trabalham na Sadia, que é maior empregadora do setor, na cidade.
Segundo o sindicalista, há boatos de que a empresa estuda dar férias coletivas, em função de uma suposta queda na produção. Um indício desta situação é que teriam sido suspensas as férias regulares de diversos trabalhadores, que já estavam programadas. A assessoria de imprensa da empresa informou, no entanto, que “a Sadia ainda está avaliando os impactos da gripe aviária e, por enquanto, não tomou nenhuma decisão sobre reduzir ou não a produção”.
Cerca de 50% do volume de produtos da marca é destinado ao mercado externo. Do total, 38% são partes de aves e 34% são aves inteiras. O restante é de suínos, industrializados e outros. Em 2005, as exportações da empresa somaram R$ 4,1 bilhões, um aumento de 13,7%, em relação ao ano anterior. Os números representam a quebra de um recorde histórico, ao superar a marca de 1 milhão de toneladas de produtos exportados.
Na avaliação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT), Siderlei Oliveira, as conseqüências da gripe aviária serão intensificadas no Brasil daqui a um mês. Isto porque, segundo, algumas indústrias começaram a reduzir, há cerca de 10 dias, a quantidade de ovos nos incubatórios e do alojamento de pintinhos. A intenção dos empresários, conforme salientou, visa provocar a queda do volume de frango até mesmo no mercado interno, o que naturalmente forçaria a elevação dos preços do produto.
Siderlei Oliveira demonstrou também preocupação com a saúde dos trabalhadores do setor e afirmou que está cobrando uma resposta do Ministério da Saúde sobre a vacinação do pessoal. Os primeiros a serem imunizados, conforme defende, deverão ser os integrados, produtores que fornecem as aves para as indústrias; em seguida, os funcionários das fábricas.
O presidente da Confederação disse também que vai encaminhar ao Ministério do Trabalho uma proposta visando à criação de um fundo de sustentabilidade para o setor, em períodos de crise. O fundo seria composto de 1% dos recursos oriundos das exportações de aves e seria utilizado, por exemplo, para evitar as demissões, ao garantir uma remuneração para os trabalhadores. “O setor de aves impulsionou a economia brasileira e trouxe destaque o Brasil como exportador de frango. O bônus já foi colhido, agora, o ônus não pode ser só para nós (trabalhadores)”, defendeu.
Unidade da Sadia em Concórdia vai interromper abate de frangos
O Encontro Nacional do Frango, que aconteceu pela primeira vez em Uberlândia, reuniu 95% dos representantes de trabalhadores em indústrias do setor avícola, distribuídos em 16 sindicatos, de oito Estados brasileiros. Conforme relataram alguns dos participantes que vieram do Sul, naquela região, os reflexos da gripe do frango – que já atingiu países Ásia, Europa e África ? chegaram aos empregados das unidades de produção.
Geferson Carminatte, membro da direção de um sindicato de Concórdia (SC), informou que, na unidade da Sadia daquele município, houve uma redução de 25% na produção e a empresa vai interromper o abate de frangos entre os dias 28 deste mês e 4 de abril. De acordo com o sindicalista, não houve demissões porque foi negociada a redistribuição de 250 trabalhadores dentro da própria fábrica. Outros 250 deverão deixar a fábrica espontaneamente e as vagas não deverão ser preenchidas novamente, pelo menos, por enquanto.
Além de tratar das conseqüências da queda na produção, o que está sendo esperado, os sindicalistas ressaltaram que não vão “fazer o jogo do patrão”, ou seja, dar à crise uma dimensão que ela não tem e esquecer da pauta de reivindicações dos funcionários. Eles vão negociar recomposição salarial para as datas-base e questionar sobre a quantidade de trabalhadores lecionados por causa do ritmo intenso de trabalho e práticas repetitivas.
Em Lajeado (RS), a Avipal, principal empregadora do setor avícola, no município, com 4,5 mil funcionários, deve dar férias coletivas a partir do dia 13 de abril para os trabalhadores que têm mais de oito meses de trabalho. A informação é do presidente dos trabalhadores, Adão José Gossmann. Segundo ele, a empresa já eliminou ovos e sacrificou pintinhos que representariam parte da produção no mês que vem. A unidade de Porto Alegre já está em férias coletivas, conforme afirmou o sindicalista. “Não há mais espaço para colocar estoques e a empresa alega que está trabalhando com R$ 0,30 de prejuízo por quilo de frango”, relatou