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"Apagão estatístico" afeta mercado do milho

<p>Mudanças no perfil de consumo e quebra de safra abaixo do previsto levaram a erros de análise, especialmente nos estoques.</p>

Da Redação 20/12/2005 – O milho vive um “apagão estatístico”. Tudo que se previu para 2005 não aconteceu. A alta dos preços e as estimativas de importações não ocorreram.

Ao contrário, os produtores terminam o ano recebendo os menores preços desde 2002 e o país retorna às exportações, apesar do dólar desvalorizado.

Nem mesmo a redução da safra para 35 milhões de toneladas, com quebra de 7 milhões sobre a anterior, reanimou os preços. Diante desse quadro indefinido, os mais prejudicados foram os produtores, que, em algumas áreas do Centro-Oeste, receberam valores inferiores aos custos de produção.

As razões para esses desencontros são várias, mas uma delas é consenso: os estoques foram mal-avaliados. E muitos apontam a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) como a raiz desse erro. A entidade governamental iniciou o ano prevendo estoques de passagem de 2004 para 2005 de 4 milhões de toneladas, volume reavaliado para 4,9 milhões no final do primeiro semestre e para 7,9 milhões no mês passado.

Mas para Carlos Eduardo Tavares, gerente de Oleaginosas e Produtos Pecuários da Conab, não foi apenas a empresa do governo que errou. “Este foi um ano terrível e ninguém acertou nada.”

Segundo Tavares, as empresas privadas chegaram a estimar importações de até 6 milhões de toneladas neste ano. As compras externas não vão atingir 10% desse volume. O próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, estimou as importações de até 4 milhões de toneladas.

Guilherme Dias, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e professor da USP, diz que a agricultura está mudando e essas mudanças não estão sendo bem-avaliadas.

Para Leonardo Sologuren, especialista em milho da Consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), esse cenário atual do milho se deve a “uma obscuridade estatística” no mercado.

O primeiro erro, segundo ele, foram as avaliações de estoques de passagem. Enquanto a Céleres estimava 5,7 milhões de toneladas, outras entidades esperavam estoques de apenas 2 milhões.

Sologuren destaca, ainda, uma mudança de comportamento do mercado no segundo semestre nos últimos três anos. A safrinha se consolidou e responde por mais de 20% da oferta anual.

Sologuren destaca, ainda, outros fatores que ajudaram na queda: exportações menores, devido ao real valorizado; maiores vendas por parte dos produtores, que estão descapitalizados; e concorrência de sorgo, milheto e trigo de baixa qualidade.

Daniel Dias, especialista em milho do Instituto FNP, de São Paulo, também destaca as “discrepâncias estatísticas” pelo cenário atual do milho. Ele cita o aumento de estoques de 92% em apenas 60 dias pela Conab. Mesmo com a diminuição de oferta e a restrição de área, os preços não reagiram devido a essas subavaliações de estoques.

Outro que atribui o imbróglio do mercado à avaliação errada dos estoques é Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba. “O maior tombo do mercado veio dos números da Conab, já que o crédito nos dados oficiais é grande.” Muraro diz que a safrinha também surpreendeu. “Foi ruim no Paraná e em Mato Grosso do Sul, mas muito boa em Mato Grosso. Com isso, não se configurou a escassez prevista.”

O analista José Pitoli também credita a “erro de conta” a atual situação do mercado. Os estoques de passagem eram de 6 milhões de toneladas, a seca não afetou tanto o milho como a soja e a redução da área na safrinha foi menor do que a prevista.

“A soma desses fatores, apesar da intervenção do governo no mercado na compra de estoques, provocou a queda dos preços”, segundo Pitoli.

Exportações

A agência Reuters informa que depois de nove meses o Brasil volta a exportar volumes significativos de milho, com o embarque de 57 mil toneladas vendidas ao Irã nesta semana. Outras 250 mil já foram comercializadas com o país, dizem traders à Reuters.
“Se ocorrer uma alta do dólar, o Brasil tem condições de voltar a ser fornecedor para mercados cativos, como Coréia, Portugal e Espanha”, afirma um corretor.

O que mudou

Tavares, da Conab, tem uma explicação para os erros na avaliação dos estoques neste ano. Ela passa pelas mudanças apontadas pelo professor Guilherme Dias, da USP, no mercado agrícola.
Estudo feito pela Conab neste ano sobre a utilização de milho nas cadeias de frango, suinocultura e gado de leite mostrou que o consumo estava superavaliado.

Tavares cita o exemplo da avicultura, onde o período de produção de frango recuou de 65 dias para 42. Com isso, o consumo de milho também declinou, o que não estava contemplado nos números do ano passado, diz ele.

Perspectivas

Apesar das baixas nos últimos meses, os preços do milho já começam a mostrar sinais de melhora. Tavares diz que os produtores -principalmente os do Paraná- já não demonstram tanto interesse em participar dos programas de compra do governo.

Já Sologuren diz que, em janeiro, os preços médios serão melhores que os atuais. Dias diz que a partir de março se configura a área da safrinha, que vai dar o tom do cenário de preços para 2006.