Da Redação 09/11/2005 – Às vésperas de completar um mês, a crise deflagrada pela confirmação do ressurgimento da febre aftosa em gado do Mato Grosso do Sul já não parece tão feia aos olhos de algumas das principais empresas exportadoras de carne bovina e suína que atuam no país. Os frigoríficos ainda aguardam os resultados dos exames sobre as suspeitas de focos da doença no Paraná (que devem ser divulgados amanhã), mas, hoje, as perspectivas apontam para reflexos negativos limitados em 2005 e para uma pronta retomada assim que o problema estiver sob controle.
O Friboi, maior frigorífico exportador de carne bovina do país, prevê uma redução mínima na receita com os embarques neste ano, apesar de embargos nacionais ou regionais erguidos por 49 países a carnes brasileiras em decorrência dos focos sul-mato-grossenses. Segundo José Batista Júnior, presidente do Friboi, a previsão inicial de exportar US$ 700 milhões a partir do Brasil em 2005 deverá ser afetada em 3% ou 4%. Em 2004, foram US$ 520 milhões. Incluindo os negócios do Swift Armour Argentina, adquirido em setembro, o grupo prevê receita com exportações de US$ 900 milhões. “O surgimento da aftosa no Brasil foi bom, porque os preços externos e os importadores descobriram que precisam da carne brasileira”, disse
Fontes desse mercado notaram que a queda das exportações brasileiras para a União Européia em outubro, aliada ao aumento da demanda em virtude do temor provocado pela gripe das aves, elevou o preço da tonelada de filé mignon naquele mercado de US$ 8 mil para US$ 14 mil. No caso do contra-filé, também um corte considerado nobre, o aumento foi de 100%, para US$ 5 mil. Vale lembrar que o Brasil está no topo do ranking dos maiores exportadores globais de cortes bovinos.
Júnior confirmou, ainda, que o Friboi realocou a produção de cada Estado conforme o destino e que, assim, não reduziu os abates. As exportações de carne in natura, produzidas em unidade do Mato Grosso do Sul, estão sendo alimentadas por plantas em Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Segundo o executivo, muitos países já começam a negociar a retomada das entregas de carne brasileira. “Acredito que até janeiro os mercados serão reabertos”. O Friboi é a quarta maior empresa em abate de bois no mundo e a maior do país, com 22 unidades e processamento de até 4 milhões de cabeças por ano. Para 2005, prevê faturamento de R$ 4,2 bilhões, ante os R$ 3,72 bilhões alcançados em 2004.
Júnior vê como desafios ao desenvolvimento do setor frigorífico em 2006 a abertura dos mercados dos EUA e Japão, agregação de valor aos produtos, controle dos problemas sanitários, melhoria do sistema de logística e redução da informalidade. Segundo ele, é preciso incentivar o consumo interno para que o país consiga reagir a uma crise externa, como fizeram os EUA com o surgimento de “vaca louca” em 2003.
Batista Júnior disse que os negócios do Friboi na Argentina estão ajudando a ampliar sua participação no mercado mundial de carne cozida e in natura e que hoje as operações no vizinho ajudam a equilibrar as perdas que a empresa tem no Brasil por conta do câmbio. Além da aquisição do Swift Armour, o Friboi apresentou proposta de arrendamento de uma unidade do frigorífico argentino Cepa, em licitação promovido pela Justiça do país vizinho.
A vantagem de contar com operações na Argentina também é destacada por Sérgio Barroso, presidente da Cargill Agrícola. Segundo o executivo, a empresa também tem procurado fazer um mix entre as operações no Brasil e na Argentina para compensar a perda de competitividade que sofre com a valorização do real sobre o dólar. A Cargill entrou no mercado brasileiro de carnes suína e de frango com a aquisição da Seara junto a acionistas da Bunge.
A Sadia, que em setembro retomou um frigorífico no Mato Grosso que arrendava ao Friboi e voltou de vez à carne bovina, por enquanto também relativiza os reflexos negativos da crise sanitária, mas mostra-se preocupada com os exames em curso no Paraná em virtude de seu complexo de suínos em Toledo. “Se a doença for confirmada no Paraná, teremos de remanejar unidades tendo em vista as plantas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. Vai sangrar, mas sem hemorragia”, disse Luiz Murat, diretor financeiro da empresa.