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Indústria da carne

<p>Em 1999, o País apresenta a sua maior produção de carne dos últimos dez anos, segundo dados da FAO (órgão das Nações Unidas voltado à alimentação). A produção de suínos cresceu 77,04% em 1999, em comparação a 1990.</p>

Redação SI (142-2000) – A instabilidade cambial no início do ano foi motivo para que o mercado de carnes apresentasse duas configurações distintas: uma para o mercado nacional, outra para o internacional. O poder aquisitivo do brasileiro caiu muito. Sentimos uma alteração no consumo de carnes: a de primeira foi substituída pela de segunda. A declaração é de Mussio de Alencar Branco, sócio proprietário do Frigorífico Salgueiro Ltda. (Frisal). Para aqueles que têm seus produtos voltados ao atendimento da demanda do consumo interno, 1999 vai ser lembrado por grandes dificuldades. Por sua vez, as exportações foram uma alternativa rentável. Segundo Luiz Carlos Birochi, do departamento de vendas da Cryovac, empresa de embalagens ligadas ao ramo de carnes, os frigoríficos que quiseram se manter lucrativos tiveram de dirigir seus produtos ao mercado externo. Vários deles já estão com as suas cotas de exportação preenchidas até o início do próximo ano, comenta.

Mas, mesmo nesta situação, a produção brasileira de carnes foi a maior dos últimos dez anos, devendo ultrapassar a marca de 12.192.830 toneladas, segundos dados da FAO (órgão das Nações Unidas voltado à alimentação) ver tabela 1. Este número é 4,32% maior que o de 1998, e 6,74% maior que o de 1997, onde a produção atingiu as marcas de 11.687.830 toneladas e 11.422.830 toneladas, respectivamente. Analisando os números históricos do setor observa-se que os resultados foram satisfatórios. A produção de 1999, por exemplo, foi 58,16% superior a de 1990, dez anos atrás, quando atingiu 7.709.088 toneladas. Tais números representam todos os tipos de carne.

Já o mercado dos Estados Unidos (EUA), que dá as cartas no mercado internacional de carnes, está assistindo a diminuição das exportações agropecuárias. A informação é do boletim U.S. Trade Update, publicado pelo Economic Research Service (ERS), instituição ligada ao departamento de agricultura daquele país. Comparando o ano fiscal de 1999 (de outubro/98 a setembro/99) com o anterior, observa-se um recuo de 9%, ou de US$ 4,6 bilhões. A receita total deste ano fiscal foi de US$ 49,1 bilhões, enquanto a do ano anterior foi de US$ 53,7 bilhões. As importações agropecuárias, no entanto, somaram a quantia de US$ 37,4 bilhões. O superávit caiu US$ 5,1 bilhões em relação ao mesmo período do ano anterior, ficando em US$ 11,7 bilhões.

Luiz Birochi: só quem exportou seus produtos lucrou no mercado.

Suíno/frango/boi No setor de suínos, em 1998, o Brasil contabilizou um plantel de 36,2 milhões de cabeças. Mas, até o mês de setembro de 1999, o plantel nacional já estava em 37,4 milhões de cabeças, representando um aumento de 2,46%. O dado é da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). O crescimento da produção histórica de suínos, entretanto, chama a atenção, segundo dados da FAO: a produção de 1999 cresceu 77,04%, quando comparada com a de 1990, dez anos atrás. Em 1999 a produção de carne suína deve atingir 1.859.000 toneladas (segundo a FAO), enquanto a de 1990 foi de 1.050.000 toneladas. Porém, as exportações deste tipo de carne, de acordo com Oscar Frick, da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), está 6% abaixo do volume registrado no ano anterior. Deve fechar o ano em 85,6 mil toneladas. As receitas neste setor tiveram um desempenho ainda pior: Até setembro o fatumento caiu 23%, totalizando US$ 86,9 milhões.

Mussio Branco: 1999 foi difícil para o mercado interno de carnes

Contudo, a produção de proteína animal que mais cresceu foi a de frango. Para isso, pode-se destacar dois fatores:

1) Baixa no preço: hoje o frango custa 1/3 do preço do início da década.

2) Imagem: o frango, enquanto carne branca, é visto pelos consumidores como mais saudável que a carne vermelha.

Comparando-se o consumo per capita de proteína animal no decorrer da década de 1990 (ver tabela 2), entre suínos, frangos e bovinos, observa-se o crescimento constante da carne de frango em relação às demais. As informações são da economista da Perdigão S.A., Marisilda Guerra, que também mostram uma queda drástica no consumo de bovinos. No início da década, a carne de boi representava cerca de 64% do consumo total no País, sendo que os suínos 12%, aproximadamente, e os frangos cerca de 24%. Já no meio da década (1995), o consumo de bovinos já tinha caído para cerca de 55%, enquanto que os suínos estavam em torno de 13% e os frangos aumentaram para 32%, aproximadamente. Em 1999, o consumo de bovinos caiu para 47%, os suínos se mantiveram relativamente estáveis, em torno de 15%, enquanto os frangos apresentavam a marca de 38%. Atualmente, no mercado interno, o consumo de frangos gira em torno de 30 quilos ao ano, segundo Marisilda Guerra. A carne suíno registra cerca de 12 quilos.

No mercado de bovinos, o Brasil deve fechar com um rebanho de 151,2 milhões de cabeças, o que representará um aumento de 0,59% em relação ao rebanho do ano anterior, quando era de 150,3 milhões de cabeças. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com números aproximados para 1999. De acordo com a Conab, as exportações de carne bovina tiveram um salto de 64,86%. Foram embarcados 610 mil toneladas, contra 370 mil toneladas no ano passado. Neste mesmo período, as importações diminuíram 31,64%. Em 1998 foram importadas 79 mil toneladas e, neste ano, apenas 25 mil toneladas.

Tendências para o próximo ano De acordo com Marisilda Guerra, há necessidade de o governo implantar uma política de fomento à produção de grãos para que a produção animal se mantenha nos mesmos níveis. A falta de milho e soja no mercado afeta diretamente o setor de proteína animal. Segundo ela, durante a década de 1990, por exemplo, o mercado de milho e soja cresceu 48%, enquanto que a produção de frango deu um salto de 138%. Se não houver aumento na oferta de grãos a produção de proteína animal no País pode ficar inviabilizada, diz.

Há ainda a previsão de que a concentração comercial entre as empresas aumente, o que é uma tendência mundial. Um exemplo disso é a fusão de frigoríficos. Há hoje cerca de 50 deles no mercado brasileiro e a tendência é que restem, no futuro, apenas 12, comenta Birochi, da Cryovac. Ele também aponta que a produção animal como commodity não é tão economicamente viável como a industrialização. Porém, poucas empresas têm capital para bancar grandes investimentos para atuar no mercado de processamento de carnes com altos padrões para enfrentar a concorrência. Isso vem reforçar a tese da concentração das empresas.