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Independência ou integração, eis a questão

<p>Os dois modelos de exploração suinícola foram discutidos na última edição do Ciclo de Evento da APCS realizada ontem (14/03), em Campinas (SP).</p>

Redação SI 14/03/05 – Responda rápido: qual o sistema de exploração suinícola é mais adequado à realidade brasileira, o independente ou o integrado? Qual desses dois sistemas é o mais lucrativo para o produtor? Essas e muitas outras questões foram amplamente debatidas ontem (14/03) durante mais uma edição do Ciclo de Eventos, promovido pela Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS). “Essa é uma discussão bastante oportuna, pois há uma curiosidade enorme entre os suinocultores em saber quais as vantagens e desvantagens desses dois sistemas”, afirmou José Adão Braun, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), durante a abertura do evento. “Esse debate certamente permitirá elucidar questões importantes e ajudará o suinocultor a entender melhor o funcionamento desses dois sistemas”.

Ao escolher o assunto como o tema principal de seu encontro a APCS deu um tiro certeiro: o auditório da Central da CATI, em Campinas, esteve completamente lotado. Além de suinocultores e dos técnicos de diversas empresas do setor, lideranças suinícolas de todo o Brasil marcaram presença no evento.

Mal necessário – Na primeira palestra do encontro, o suinocultor Júlio César Carneiro falou sobre as características do sistema de integração no Centro Oeste brasileiro. Segundo ele, os anos 90 marcaram a realocação espacial do sistema de integração no Brasil. “A saturação do modelo de integração na região Sul fez com que as agroindústrias buscassem um novo ambiente, uma nova região para seus projetos”, diz.

Nesse cenário, argumenta Carneiro, ao apresentar vantagens como potencial agrícola (grande oferta de milho e soja), localização geográfica e a existência incentivos dos governos local e federal voltados ao agronegócio (caso do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste) a região Centro Oeste atraiu a atenção das agroindústrias brasileiras.

Segundo ele, o perfil do integrado na região central, no entanto, fez com que o modelo de integração tivesse que sofrer alguns ajustes. Ao contrário da região Sul, o sistema de integração no Centro Oeste é formado por médios e grandes produtores e a suinocultura é mais uma dentre as atividades que ele desenvolve em sua propriedade. “Isso lhe dá um grande poder de barganha em sua relação com as agroindústrias”, afirma Carneiro. Ao tentar implementar o sistema de integração nos mesmo moldes da região Sul, explica, as agroindústrias enfrentaram algumas dificuldades com os produtores da região. “Os produtores temiam ficar muito dependentes da empresa integradora e sofrer interferências em seu negócio”, conta.

Mesmo com alguns contratempos, explica Carneiro, o sistema de integração contribuiu para impulsionar a atividade na região. Em sua opinião a integração é um mal necessário, pois garante uma remuneração baixa, porém continua aos suinocultores, sobretudo em tempos de crise. “O suinocultor integrado ganha pouco, mas ganha sempre”, diz Carneiro.

Nova modalidade – Já Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) foi o escolhido para falar sobre o modelo de integração praticado na região Sul do Brasil. Segundo ele, a suinocultura catarinense está totalmente alicerçada no sistema de integração. Atualmente o Estado possui 9271 produtores integrados e apenas 472 independentes. “O modelo de integração não é ruim e foi, em grande parte, responsável pelo desenvolvimento tecnológico da suinocultura catarinense”, afirma Wolmir. “Agora, em muitos casos, o sistema de integração precisa de ajustes. Tem que ser bom tanto para o produtor quanto para a agroindústria”, completa.

Wolmir chamou a atenção para o crescimento de uma nova modalidade dentro do sistema de integração catarinense: a do suinocultor verticalizado. Nesse tipo de contrato firmado entre produtores e agroindústrias, explica Wolmir, até os animais pertencem à agroindústria. “O modelo verticalizado não pode ser considerado um sistema de parceria, pois torna o produtor refém da agroindústria, avalia. Trata-se de um modelo imposto no qual o suinocultor, em sua grande maioria, sequer garante uma margem de lucro. Mas esse é o meio encontrado pelo produtor para permanecer na atividade”.

Segundo Wolmir, a última crise da suinocultura brasileira “empurrou” um grande número de produtores para o sistema verticalizado. “Durante a crise houve uma avalanche de produtores que migraram para o sistema verticalizado”, diz. O presidente da ACCS cita o exemplo da região Oeste de Santa Catarina para mostrar o crescimento dessa modalidade de integração no Estado. De acordo com Wolmir, 90% dos suinocultores da região são integrados e, destes, 68% adoram o sistema verticalizado nos últimos anos. “Esse é um movimento preocupante. Nessa modalidade o suinocultor deixa de ser o ator principal, deixa de sonhar, e passa a ser apenas um funcionário da agroindústria, um prestador de serviço”.

Independente – Na última apresentação, Antonio Ianni, suinocultor e vice-residente da APCS falou sobre o sistema de exploração suinícola independente e de suas diferenças com o sistema de integração. De acordo com Ianni, as duas formas são úteis e intrinsecamente relacionadas à cultura local, estrutura fundiária, número de animais por propriedade etc. “Não existe uma fórmula pronta que nos diga qual o sistema melhor ou pior”, afirma Ianni. “A escolha do produtor por um determinado modelo está intimamente relacionada à sua localização, a sua cultura, ao tamanho e porte de sua propriedade etc.”, explica.

Com uma produção anual de 150 mil toneladas de carne, a suinocultura paulista está estruturada no sistema independente. Em São Paulo, 100% dos suinocultores adotam esse modelo de exploração. Segundo Ianni, o perfil do suinocultor paulista é fator determinante na escolha do sistema independente. “O suinocultor paulista é um empresário ousado, disposto a correr riscos e que nem sempre tem a suinocultura como a única e exclusiva fonte de renda e negócios”, diz. De acordo com Ianni, o sistema independente traz maiores riscos ao produtor. Em contrapartida, garante lucros maiores. “Todo negócio de alto risco garante uma maior lucratividade. O suinocultor paulista ganha muito e perde muito também”, diz Ianni.

Para o presidente da APCS Valdomiro Ferreira Júnior, o evento superou suas expectativas. “Estamos bastante satisfeitos com o debate, que foi bastante produtivo. O público compareceu em massa e tivemos reunida aqui boa parte da liderança suinícola nacional”, comemora Ferreira.

A próxima edição do Ciclo de Eventos da APCS será realizado no mês de junho e o tema será Mecanismos do Mercado de Exportação.