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Situação controlada

Isolado, novo registro da Doença de Aujesky não trará reflexos negativos para a suinocultura catarinense, dizem especialistas.

Redação SI 20/08/2004 – Embora inspire cuidados especiais, o novo foco da Doença de Aujeszky (DA) registrado numa propriedade suinícola do município de Descanso (SC), não compromete o status sanitário da suinocultura catarinense. Segundo os especilistas, o fato não irá interferir no andamento da atividade no Estado, nem nas ações do Programa de Erradicação da DA em Santa Catarina. Tampouco trará reflexos econômicos significativos para os produtores e às agroindústrias. 

Em consenso, entidades de classe, instituições de pesquisa e órgãos oficiais da região afirmam que o registro de um foco de Aujeszky é uma ocorrência normal num Estado que vive um processo de erradicação da enfermidade. “Trata-se de um foco isolado e que já está totalmente controlado. Portanto, não há motivos para alarme”, explica Janice Zanella, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves e Coordenadora do Comitê Técnico do Programa de Erradicação de Aujeszky em Santa Catarina. 

“Nosso Estado não é livre da doença de Aujeszky e quando se executa um programa de erradicação é possível que, esporadicamente, haja registro de alguns focos da enfermidade”, afirma Roni Barbosa, consultor de Defesa Sanitária da Secretaria da Agricultura e Política Rural de Santa Catarina. Soma-se a isto, o fato de a Aujeszky ser, epidemiologicamente, uma enfermidade de ocorrência mais freqüente no inverno. “A maior dificuldade em controlar esta doença está por conta de se tratar de um vírus que estabelece infecção latente no suíno, o que faz com que o animal possa se tornar um portador sadio e somente o exame laboratorial é que poderá certificar se o suíno está ou não infectado com o vírus da DA. Desta forma, o comércio de reprodutores deve ser feita somente de granja certificada”, explica Janice Zanella. 

O Comitê Técnico foi formado no início do programa de erradicação da DA em Santa Catarina e é composto por representantes de várias instituições. Entre elas a Embrapa Suínos e Aves, Ministério da Agricultura e Abastecimento de Santa Catarina, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura [através da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e do Centro de Diagnóstico em Saúde Animal (Cedisa)], Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarnes) e Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS).

Transparência e agilidade

A ocorrência deste foco encerra um período de nove meses sem o registro da doença de Aujeszky em Santa Catarina. A propriedade onde foi detectada a enfermidade, uma unidade produtora de leitões, com um plantel de 937 animais (274 matrizes, 13 reprodutores e 650 leitões de até quatro meses de idade), já havia apresentado sorologia positiva para Aujeszky. O grande trunfo do setor suinícola catarinense nesse episódio é que a granja em questão já fazia parte do Programa de Erradicação de Aujeszky, (estava sendo vacinada contra DA), o que possibilitou a agilidade necessária para a implementação imediata das medidas para o controle da doença e, por extensão, a redução dos possíveis efeitos e reflexos que sua ocorrência poderia causar para a atividade. 

Como se sabe, todos os produtores que integram o Programa de Erradicação de Aujeszky são obrigados a seguir um rigoroso conjunto de regras, que os impossibilita, por exemplo, de vender animais ou ampliar o plantel, entre outras recomendações. Todas as propriedades que integram o Programa de Erradicação ficam sob constante monitoria e são testadas, por meio de exame sorológico, a cada 60 dias. “Tudo o que precisava ser feito está sendo feito. O comitê técnico do programa, com apoio das instituições ligadas ao setor estão empenhados e esse problema logo será solucionado”, diz Wolmir de Souza, presidente da Associação de Criadores de Suínos de Santa Catarina (ACCS).

De acordo com Roni Barbosa, da Secretaria de Agricultura de Santa Catariana, a propriedade suinícola do município de Descanso foi imediatamente interditada assim que os primeiros exames sorológicos indicaram presença da infecção. A granja já foi despovoada e todos os animais serão sacrificados num prazo de 30 dias. As fêmeas condenadas e que estão em estado adiantado de gestação serão indenizadas pelo Fundo de Indenização, de acordo com as tabelas existentes. Já as fêmeas lactantes poderão ser mantidas na granja até o desmame dos leitões, obedecendo o prazo de 30 dias. Os procedimentos sanitários prevêem ainda a desinfecção das instalações e vazio sanitário antes do repovoamento para evitar a transmissão da doença. O repovoamento da granja será orientado pelo veterinário oficial, seguindo as normas já existentes no programa, dentre elas o repovoamento com suínos de granjas certificadas como livres para a DA. 

Embora não haja a constatação de outros focos da enfermidade em nenhuma outra propriedade ou município da região e do Estado, a Cidasc intensificou o monitoramento das propriedades e a fiscalização no transporte dos animais. “Esse foco está restrito a essa propriedade”, avalia Barbosa. Mesmo com todas as medidas sanitárias adotadas, o município de Descanso ficará impossibilitado de exportar carne suína para a Rússia durante os próximos 12 meses.

Impactos

Segundo a ACCS, o registro deste novo foco da Aujeszky não deve trazer reflexos econômicos negativos para o setor. A boa fase pela qual passa a suinocultura nacional e o fato de o mercado russo ser o único a impor restrições à doença são os argumentos utilizados para embasar tal afirmação. “O mercado está aquecido, há falta de animais, e o único país que restringe a compra por causa da doença de Aujeszky é a Rússia, provavelmente por barreiras não tarifárias, explica Wolmir. De fato, a suinocultura brasileira atravessa um bom momento. O preço do quilo de suíno vivo pago ao produtor subiu esta semana em Santa Catarina de R$ 2,15 para R$ 2,20, com bônus de tipificação de carcaça chegando a R$ 2,37. O reajuste acumulado no semestre chega a 30%, registrando um aumento de R$ 0,50 por quilo. “Acredito que o ocorrido não traga nenhum impacto sério para a suinocultura catarinense”, emenda Roni Barbosa. “O setor está vivendo uma boa fase econômica e nada de mais sério deve acontecer”.

 

                      Trabalho minucioso

A doença de Aujeszky foi identificada no Brasil em 1912. Iniciado em 2001, o Programa de Erradicação da DA é o responsável pelo controle e sensível redução da ocorrência de focos da enfermidade no Estado. Para se ter uma idéia, no ano de sua implantação, Santa Catarina registrava 13 novos focos da enfermidade por ano, que mesmo assim significava menos de 1% das granjas do estado. Hoje, apesar do incremento da realização de testes de diagnóstico, com o trabalho do programa de erradicação, a doença ocorre de forma esporádica, as granjas infectadas estão no programa de vacinação e em monitoria sorológica.
 
Os EUA, por exemplo, estão há mais de 15 anos centrando esforços para erradicar a doença. Países como a França e a Alemanha também levaram décadas e tiveram um enorme trabalho para eliminar a enfermidade de seus rebanhos. Um dos grandes entraves para a erradicação da doença é o comércio ilegal de reprodutores entre os suinocultores. Sabe-se que no Brasil o comércio de reprodutores suínos só é permitido quando oriundos de granjas certificadas, conforme atesta a IN-19 do MAPA, onde a DA é uma enfermidade de certificação obrigatória. O programa de erradicação da DA em Santa Catarina já envolveu mais de 900 propriedades, sendo que a maioria já está livre da doença. Graças à execução do programa de erradicação a Aujeszky está sob controle no Estado.