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Cresce o interesse pela criação da ema brasileira

Apesar de produzir carne, ovos, penas e couro a aposta está sendo feita como pet (animal de estimação).

Redação AI 15/01/2003 – Embora se fale muito na criação de avestruzes africanos no Brasil, há quem garanta que, a médio prazo, o que vai se impor mesmo é a criação da ema brasileira, mais adaptada às condições nacionais e imune aos problemas sanitários, bem mais produtiva e, por ser de porte menor, mais afável, melhor que o avestruz para ser mantida num sítio, fazenda ou casa de campo.

Mesmo produzindo carne, ovos, penas e couro de alta qualidade, a grande aposta que está sendo feita na ema é como pet (animal de estimação). Já há fila de pessoas interessadas nessa ave de pescoço comprido esticado e olhar curioso, à volta da piscina ou à margem do campinho de futebol, comendo capim, sementes, insetos e arriscando uma bicada no relógio ou no copo de caipirinha na beira do campo.

Quem aposta pesado na criação de emas é Alberto Whitaker, que começou com duas fêmeas e um macho, adquiridos em Goiânia (GO), e hoje mantém 80 matrizes na Fazenda Santa Clara, em Itaí (SP). Ele confessa que ficou encantado com a produtividade, de 20 a 25 filhotes/ano por fêmea. “O ideal para a incubação de ovos de ema é 60% de umidade, condição típica do Estado de São Paulo.”

Para conseguir escala comercial, Whitaker aliou-se ao biólogo Fernando Siqueira Magnani, ex-presidente da Sociedade de Zoológicos do Brasil e atual diretor do Parque Ecológico de São Carlos, que, juntamente com outro biólogo, Francisco Rogério Paschoal, estuda a ema há mais de dez anos.

Magnani diz que há pouco mais de uma dúzia de criadores de ema em escala comercial no Brasil. “Por ser animal silvestre nacional, só recentemente sua criação foi autorizada pelas autoridades ambientais.” Os Estados Unidos têm um plantel de cem emas, com a criação iniciada em 1950, suplantado apenas pelo Uruguai, onde uma única fazenda tem 2.700 cabeças.

Também a Argentina e o Canadá produzem a ave. “É importante a criação de emas no Brasil, porque em certos Estados, São Paulo entre eles, a ave está quase extinta na natureza e sua preservação depende da criação em cativeiro”, explica.

Quatro por um
– Para criar emas o ideal é quatro fêmeas por macho, com idade mínima de 17 meses, quando atingem a maturidade sexual, segundo Whitaker. No início do período reprodutivo, o macho emite um som estranho, parecido um mugido, e constrói o ninho – simples depressão no solo com meia dúzia de gravetos – onde todas as fêmeas fazem a postura, entre 20 e 25 ovos por período. Só quando a postura termina o macho se deita, começa a chocar e não se levanta mais. “Na natureza, as fêmeas abandonam o macho assim que ele começa a chocar e procuram outro macho, sendo fertilizadas, reiniciando a postura”, diz Magnani. “Em cativeiro isso não ocorre.”

Um bom macho incuba duas vezes por ano, se os filhotes forem retirados ainda pequenos, poupando-lhe o trabalho de criá-los. Os ovos também podem ser levados para uma incubadeira, o que motiva a fêmea a aumentar a postura. O cuidado, nesse caso, é manter a umidade em 60% e, em 39 dias os filhotes começam a emitir sons dentro dos ovos e no 41. dia ocorre a eclosão.

A ração inicial é a de frango de corte, complementada com muita fruta e verdura picada, substituída depois pela ração para ratitas. O biólogo garante que são raros os problemas de saúde, já que a ema é originária da América do Sul. Na média, há quebra de 15% em relação à postura, diz Magnani. A ema cresce depressa, não se estressa com a presença humana, cresce até 1,5 metro de altura, quando pesa cerca de 30 quilos.

Alternativa econômica – A criação comercial de emas vem despontando no País como uma alternativa econômica rentável. Um plantel de dez casais pode garantir receita bruta anual de R$ 70 mil, sendo de 70% o lucro líquido e 30% de despesas, segundo o diretor da empresa Zoo Way Assessoria e Projetos para a criação de animais silvestres, o zootecnista mineiro Fábio Hosken. Conforme explica, o investimento inicial, em instalações, matrizes, reprodutores, assessoria técnica e capital de giro é de R$ 30 mil e o retorno ocorre depois de dois anos. “Cada animal de 40 quilos rende 20 quilos de carcaça, além de gordura, couro e penas.”

Com o criatório de animais silvestres localizado em Belo Horizonte, Hosken logo visualizou a ema como uma fonte de renda. “É um bom negócio, está em franca expansão e tem mercado garantido.” Segundo o zootecnista, a ave pegou carona na criação de avestruz e tem produtos diferenciados, porém tão nobres quanto os de avestruz. “Além disso, é um recurso genético da nossa fauna.”

Hosken cria emas para a venda de matrizes, reprodutores e filhotes, visando à formação do plantel de Minas Gerais. “Dentro de 18 meses teremos carne de emas mineiras”, prevê.

Marca gaúcha – Atualmente, o Estado é abastecido pelos criadores do Rio Grande do Sul, por meio da Associação Brasileira de Criadores de Emas (Abrace), que vende a carne de vários criatórios. A carne de ema gaúcha em Belo Horizonte chega ao preço de R$ 50 pelo quilo do filé (da coxa e da sobrecoxa). A ema não tem carne no peito.

Além da gordura, usada pela indústria farmacêutica, cosmética e mecânica de alta precisão, o couro, muito resistente segundo o zootecnista, é utilizado para fazer bolsas, sapatos e carteiras e tem cotação internacional. “Um couro de ema curtido e trabalhado (tingido e tratado) é exportado por R$ 150.” Já a carne é exportada a US$ 17,5 o quilo. Conforme observa Hosken, a venda de animais é bastante lucrativa.

Adultos chipados (macho ou fêmea) são vendidos por R$ 1 mil cada, enquanto os filhotes de três meses saem por R$ 400 cada. Já o preço do ovo fertilizado alcança R$ 50 cada.

Casais ou trios – No Zoo Way as emas são criadas em casais ou no máximo em trios (um macho e duas fêmeas). “É mais funcional”, justifica Hosken. Ele recomenda começar a criação com dez casais, que precisam de uma área de 2 hectares de pastagens, divididos em piquetes de mil a 5 mil metros quadrados (piquetes de terminação).

Os cuidados são simples, garante ele. Os filhotes de até 3 meses de idade exigem mais atenção, como aquecimento. “É a fase crítica”, diz. Também merece atenção a época de reprodução. A fêmea põe um ovo a cada três dias, entre julho e dezembro. Enquanto o macho defende o ninho, cuida das avezinhas e as defende, a fêmea chega até a ser agressiva com os filhotes. “Pôr 25 a 30 ovos de 600 a 800 gramas cada não é fácil”, argumenta o criador.

A alimentação é à base de capim e ração comercial. “A mesma indicada para avestruz.” Hosken indica dar vermífugos às aves a cada quatro meses, além de exames de fezes no plantel. “Deve-se evitar o contato das aves com animais domésticos soltos, como aves em geral, para evitar doenças.” A exemplo do criador paulista, Alberto Whitaker, o diretor da Zoo Way também aconselha a evitar a presença de cães por perto do criatório. “Além de poder atacar as aves, seu latido causa estresse.”

Registro – Por ser um animal silvestre, o criatório de emas deve ter registro de criador no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), segundo portaria 118/1997. Para conseguir a autorização, o interessado deve encaminhar projeto assinado por um responsável técnico pelo criatório, que pode ser biólogo, veterinário, agrônomo ou zootecnista, além de anexar documentos.

O Zoo Way dá três cursos de criação de emas por ano. Quem quiser receitas e informações sobre carne de emas, há o site www.saborsilvestre.com.br