Redação SI (Edição 166/2003) – O setor de alimentação animal calcula que em 2002 sua produção atingiu a marca de 42,7 milhões de toneladas. Os dados ainda estão sendo finalizados, mas confirmado este número, ele irá representar um aumento de 10% em relação ao que foi produzido em 2001 e um pouco acima da previsão inicial para o ano, que era de 41,6 milhões de toneladas. O faturamento deve se manter na casa dos US$ 7 bilhões. Apesar do maior volume, o ano não foi tão fácil para o setor, que teve que enfrentar a alta do dólar, a baixa disponibilidade de milho e a crise na suinocultura, que junto com a avicultura, representam pouco mais de 80% de toda a produção do setor.
Marcos Haaland, presidente do Sindirações. A indústria não conseguiu repassar na mesma proporção o aumento do custo para seu produto |
Na suinocultura, os altos preços dos macroingredientes, como milho e farelo de soja, utilizados na composição das rações, contribuíram para agravar a crise na atividade, num ano que não poderia ter sido pior para o suinocultor. A superoferta de animais, gerada pela expectativa de crescimento da exportação, fez o preço do suíno cair. Embora os embarques para o exterior tenham crescido significativamente, as exportações representam uma demanda de somente 5% da produção nacional, sendo que ela cresceu mais de 30% nos dois últimos anos. A crise obrigou muitos produtores a abandonar a atividade e terminou por afetar toda a cadeia produtiva, inclusive a de alimentação animal. “Eu não tenho os números ainda, mas as vendas caíram em função da crise do setor”, afirma Marcos de Mello Mattos Haaland, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
Em sua maioria, responsáveis pela aquisição dos macroingredientes, os suinocultores se viram espremidos de um lado com a alta do custo de produção e de outro com a queda do preço de seu produto. De acordo com um levantamento do Sindirações, entre janeiro e outubro de 2002 o suíno vivo teve uma retração de 12,5% em seu preço, enquanto que o milho aumentou 99,2%, a soja 54% e o premix 48,11%. “Recentemente o preço do suíno voltou a subir, mas é necessário ele se firmar por dois ou três meses para verificarmos se haverá uma perspectiva melhor”, comenta Haaland.
Custo das rações – Já o segmento avícola teve um desempenho dentro do esperado e sem grandes surpresas. Embora interfira muito pouco nos negócios de rações comerciais, ele é extremamente importante para os fabricantes de premix. Este setor foi um dos que mais sentiu com a disparada da moeda americana, já que insumos como aminoácidos e vitaminas, são em sua maioria importados. O presidente do Sindirações acredita que a indústria de ração não conseguiu repassar na mesma proporção o aumento do custo para o seu produto final, terminando por absorver parte dele. “Devemos ver nos resultados consolidados das indústrias uma perda de rentabilidade em função disto”.
Mesmo assim as rações tiveram uma alta acumulada de janeiro a outubro de 64,25%, segundo levantamento do próprio Sindirações. Mais que o dobro de 2001, quando o acúmulo anual ficou em cerca de 30%. A tonelada da soja começou o ano custando por volta de R$ 550 e chegou a R$ 750 próximo do final dele. O milho também teve um salto de seu valor chegando a ser comercializado em alguns locais por até R$ 27 a saca. Para este ano, algumas análises indicam que a área plantada de milho deve diminuir, mas como a produtividade deve ser maior, espera-se que a colheita se mantenha em algo próximo dos 36 milhões, conforme está previsto para o fechamento da safra passada. Ainda assim há incertezas quanto ao futuro. “O cenário do milho para os próximos 18 meses eu diria que é nebuloso”, acredita Haaland.
Alternativas para substituição do milho nas rações até existem e o sorgo é a principal delas. Mas, assim como as outras opções, sua disponibilidade é pequena e sazonal, não atendendo a demanda da indústria. O presidente do Sindirações acredita que o caminho natural seria aumentar a importação de milho, como já vinha sinalizando o governo brasileiro, inclusive isentando estas importações da Tarifa Externa Comum (TEC), aplicada à negociações com países fora do Mercosul. “Exatamente para suprir o mercado interno e não ter um impacto maior na economia, porque no fim o que se tem é leite mais caro, carne de frango mais cara, porque entra tudo no cálculo”.
E isto realmente ocorreu na semana seguinte a esta entrevista, quando no dia 20 de novembro o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) encaminhou ao Itamaraty uma proposta para redução da TEC de 9,5% para 2% para os próximos três meses. Naquele momento, o governo brasileiro acreditava que cerca de um milhão de toneladas do grão poderiam ser importadas neste período. O Brasil também indicou que caso não chegasse a um acordo com os parceiros do Mercosul, iria incluir o milho na lista de exceção da TEC.
O acordo saiu no final de novembro. Em reunião do Grupo do Mercado Comum (GMC) foi aceita a redução para 2% da tarifa, mas a importação de milho fora do Mercosul foi limitada a 600 mil toneladas, sendo que as 400 mil toneladas restantes poderiam vir da Argentina. O seu governo afirmou que teria como embarcar imediatamente esta quantidade do produto e deu garantias de que este milho não era transgênico.
Expansão – Nos outros segmentos de alimentação animal como o de estrutiocultura, aqüicultura e pet food a produção de rações tem gerado até crescimentos espantosos, mas seus volumes ainda são muito pequenos. Embora cada segmento deva ser avaliado de forma separada ao se apontar maior ou menor aumento de produção, 2003 deve manter a tendência de ligeiro crescimento de tonelagem em todos os segmentos, inclusive avicultura e suinocultura.
O setor de pet food continua sendo o mais taxado com impostos. A carga tributária que incide sobre este tipo de produto chega a cerca de 40% do preço pago pelo consumidor. “Esto é algo que nos preocupa porque de um lado encarece demais o produto, desincentivando o consumo, e de outro incentiva a informalidade”, ressalta Haaland, que diz já haver alguns pleitos para a redução desta carga tributária para pequenos animais.
Expectativa – Este ano deve ser bem melhor que 2002, é o que espera o Sindirações. O seu presidente acredita que a volatilidade do dólar deve diminuir facilitando um posicionamento das empresas para se protegerem, coisa dificultada ano passado com as altas e baixas da moeda americana. “Num cenário mais estável, mesmo que ele esteja alto, tem como você trabalhar”, explica. “Então acredito que será um ano melhor para o setor sim”.
O mais aguardado parece ser a indicação do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o novo governo federal (esta edição foi fechada antes da divulgação no nome do novo ministro). O setor espera com ansiedade, principalmente para conhecer a linha de trabalho que será adotada. “Não quero parecer partidário, mas tivemos um bom ministro, que foi o Pratini de Moraes”, destaca o presidente do Sindirações. “Ele realmente deu um desenvolvimento para todo o setor agropecuário e esperamos que isto tenha continuidade”.