Redação 22/03/2002 – O transporte de suínos vivos ainda representa grande preocupação para os produtores e para as indústrias que primam pela qualidade da carne suína e de seus derivados. O tempo gasto no transporte desses animais das baias de terminação para os frigoríficos e, evidentemente, as condições dessa viagem podem vir a comprometer a qualidade do conjunto suíno vivo carcaça – carne. O grande problema revela-se na chamada sobrecarga fisiológica do transporte, ou seja, o estresse do animal.
Esta sobrecarga, conforme comenta o médico veterinário José V. Peloso, além do desconforto para os suínos, gera para os frigoríficos carcaças escoriadas, fraturadas, arranhadas e que podem ainda conter carne de qualidade inferior como a PSE (pálida, mole e exsudativa) ou DFD (escura, firme e ressecada na superfície após 24 horas da última alimentação). E isto pode acontecer quando são desrespeitadas as normas de transporte de suínos vivos, que recomenda o volume de 286 quilos por metro quadrado, além das condições favoráveis ao bem-estar do animal, como a ventilação e o tempo do transporte.
Nesse sentido, empresas especializadas em carrocerias para transportar animais vivos estão começando a investir em novas tecnologias e design para garantir o conforto dos suínos durante o deslocamento e a qualidade da carne abatida. Mas ainda é um melhoramento tímido. De acordo com Darlan Dalla Rosa, diretor da Triel-HT (RS), o transporte é o elemento que menos preocupou a cadeia suinícola nos últimos anos. “Ele não acompanhou os progressos conquistados na genética, manejo do animal e processamento da matéria-prima”. Mas o setor, segundo Dalla Roza, está em franco processo de mudança. Nos últimos tempos o transporte passou a ser tratado como elemento de alto grau de influência sobre a qualidade do produto. “O transporte não pode colocar em risco toda a energia despendida ao longo do processo de produção do suíno”.
Três grandes tendências já se destacam em meio ao transporte de suínos nos dias de hoje: aprimoramento genético, bem-estar animal e controle sanitário. Com o aprimoramento genético, afirma Dalla Rosa, os animais estão ganhando peso em tempo cada vez mais reduzido, indo para o abate cada vez mais cedo e tendo como importante característica a fragilidade. O bem-estar do animal está atrelado às necessidades de mecanismos simplificados de sua movimentação, evitando situações de maus tratos, principalmente para as empresas exportadoras. E o controle sanitário, segundo o diretor, passa pelo aumento das exigências do consumidor e pelos impactos negativos sobre o resultado da empresa (fruto de perdas por contaminação, por exemplo).
Tecnologia de ponta – Procurando desenvolver novas tecnologias, viáveis em termos de custo, e para facilitar o manejo no transporte, a Triel-HT incrementou a sua linha de carrocerias para o transporte de animais vivos. Há 17 anos no mercado, desenvolve tecnologias nas áreas de transporte de ração a granel e aves vivas. A partir de 1995, junto a estudos de mercados, voltou suas atividades também para a suinocultura. Os diretores e técnicos da companhia fizeram um levantamento sobre as condições do transporte de suínos vivos no Brasil. Constataram que a movimentação dos animais vivos em carrocerias de único piso era inviável aos produtores e às agroindústrias, pois limitava o número de animais a serem transportados e onerava a transação. Verificaram ainda falhas quanto ao material, número de divisórias, dispositivos das divisórias, altura e abertura das carrocerias, ventilação, rampas de acesso etc, dos modelos disponíveis no mercado.
Hoje, a Triel-HT dispõe de linhas de carrocerias metálicas, iguais as usadas na Europa, de dois e três pisos, em diversos modelos para leitões (5kg a 6kg), animais de recria (25kg a 30kg), matrizes, reprodutores e suínos terminados. “Trabalhamos em cima da profissionalização do segmento e da genética apurada dos animais, que mostrava essa tendência”, explica o diretor. Todos os modelos agregam tecnologias em nível de primeiro mundo, como: plataforma hidráulica traseira, piso móvel por sistema hidráulico, controle de temperatura, nebulização, injeção de ar forçado, pisos escamoteáveis e teto isotérmico.
“Todos os projetos foram desenvolvidos, testados e aprovados pela nossa empresa, em parceria com agroindústrias de todo o Brasil”, diz o diretor. Os estudos e os investimentos valeram a pena. Conforme várias comparações, esses acessórios comprovaram diversas vantagens, como a redução do índice de mortalidade, redução do índice de PSE, redução de lesões, redução do risco de contaminação (pois não retêm resíduos e facilitam a desinfecção), eliminação das distorções de peso (não absorvem líquidos), maior durabilidade, menor peso, maior bem-estar ao animal e maior rentabilidade ao transportador.
Alvo de discussões – A preocupação com a qualidade do transporte dos suínos vivos começa a disseminar-se entre os campos científicos e produtivos da suinocultura. Prova disso foi a III Conferência Internacional sobre Ciência e Tecnologia de Produção e Industrialização de Suínos (Suinotec), promovida pelo Centro de Tecnologia de Carnes (CTC) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) em São Paulo (SP), em setembro de 1999. No evento foram discutidas as condições de transporte de suínos no Brasil, qualidade da carne e bem-estar animal e as novas tecnologias que estão sendo aplicadas nos países da União Européia.
De acordo com o pesquisador Expedito Tadeu, do CTC, o transporte de suínos agrega vários aspectos, como os ambientais, custo do frete e perdas no processo. Em relação ao impacto ambiental, Tadeu explica que a legislação requer que a carroceria tenha um piso com boa vedação, para reter os dejetos dos animais (fezes e urina), evitando assim a poluição das estradas utilizadas no transporte. O custo do frete e as perdas no processo (escoriações na pele, mortalidade e redução na qualidade de carne) relacionam-se com o número de animais transportados por viagem. Quanto mais suínos por caminhão, menor será a quantidade dessas viagens. Lotações exageradas, porém, ressalta o especialista, podem resultar em sérios problemas para os animais, como altos índices de hematomas, arranhões, fraturas ósseas, morte e estresse, o que compromete o rendimento da indústria e sua lucratividade.
Por outro lado, o transporte de poucos animais encarece o custo do frete e aumenta a incidência de lesões corporais nos animais, pela maior possibilidade destes chocarem-se contra as laterais das carrocerias. “Ainda são poucas as pesquisas realizadas nessa área no Brasil”, diz o especialista. Segundo Groth (1987), 0,5 metro quadrado por animal fornece uma condição boa para os suínos durante o transporte. Já no Brasil, a densidade populacional nas carrocerias praticada pela maioria das indústrias é de 286 quilos por metro quadrado, ou, 0,35 metros quadrados por animal de 100 quilos. O custo do transporte desses animais também é outro ponto preocupante para os produtores e para as agroindústrias. Segundo dados do Anualpec de 1999, o custo do frete para o transporte de suínos vivos gira em torno de 1% do custo total de um animal terminado.
Embora as condições de transporte tenham sido melhoradas no País, com investimento em carrocerias adequadas para a suinocultura, Tadeu salienta que ainda são necessários mais trabalhos e pesquisas nesse campo, concentrando esforços no embarque e desembarque dos animais, que, conforme sua ressalva, são hoje os pontos críticos do processo de abate. Nesse sentido, o Ital/CTC, em parceria ao Instituto Dinamarquês de Carne, vai iniciar um projeto junto às empresas do setor de carnes para que sejam apontados os principais parâmetros no processo de abate a serem melhorados. O projeto visa assegurar o bem-estar do animal, a segurança das pessoas e a lucratividade das empresas.
Baú e gaiola Para transportar as avós e os machos de suas unidades, a Seghers Genetics do Brasil, localizada em Patos de Minas (MG), utiliza carrocerias tipo baú com controle remoto (na cabine) de temperatura e ventilação, por meio de sensores eletrônicos e painéis digitais. O médico veterinário Glauber Souza de Machado explica que o interior dos baús é dividido em baias, permitindo separar os machos, quando necessário. “Nele, há depósito de água e bebedouros disponíveis para todas as baias”. |
Reportagem publicada na edição de Abr/Mai-2000 da revista Suinocultura Industrial.