Redação SI 09/12/2002 – Praticamente banida dos Países Baixos e sofrendo duro questionamento ambiental no restante da Europa, a suinocultura aponta o focinho para o Brasil, mais precisamente para Mato Grosso. A associação dos fatores clima, luminosidade, produção de matéria-prima para as granjas, aproveitamento de dejetos na adubação orgânica, associação com a avicultura e piscicultura criam condições amplamente favoráveis a essa atividade econômica que responde pela produção da carne mais consumida no mundo desde que o homem aprendeu a lidar com a terra ao inventar a agropecuária.
Mesmo com extraordinário potencial para a suinocultura, e com grandes grupos internacionais de olho nessa perspectiva, Mato Grosso tem na pecuária suína uma atividade incipiente, que não passa de 36 mil matrizes em suas granjas tecnificadas que integram o programa estadual “Granjas de Qualidade”. Fora dessas pocilgas chafurdam em chiqueiros de fundo de quintal, principalmente nas pequenas propriedades, milhares de outras fêmeas, essas sem raça, o chamado porco caipira. Cruzamento de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea/MT) apontam para a existência de 400 mil porcas.
`Um pingo d”água`. Com esta curta frase o vice-presidente de Comercialização e Produção da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Valdomir Ottonelli, define a pequena quantidade de animais voltados para a produção do porco carne. Diretor do maior frigorífico para abate suíno no estado, o Excelência, em Nova Mutum, Ottonelli foge do assunto “preço de produção”, mais que vampiro da cruz. E é exatamente o elevado custo do milho e da soja – os dois principais itens da alimentação da porcada que pesa contra o terminador – o criador que engorda para abate.
O preço da soja e do milho dispararam no mercado. Cotada pelo dólar, a soja é o principal commodity agrícola brasileiro e de Mato Grosso. O milho, anda em baixa nos estoques reguladores e dá os primeiros sinais que exigirá importação para suprir o mercado nacional interno. Por isso, tanto um quanto outro têm preços acima da realidade da suinocultura que não pode pagar mais que R$ 1,50 pelo quilo do porco em pé.
O custo de produção anda pelos olhos da cara. O preço do quilo vivo está estabilizado há anos. Daí, torna-se difícil manter o atual patamar de produção anual, em torno de 800 mil cabeças. Numa situação assim, pensar em aumentar a oferta, beira a utopia.
Burocracia – O primeiro grande passo para a suinocultura ganhar fôlego é mergulhar de cabeça no mercado internacional cotado pela moeda norte-americana. Mas, para isso, terá que quebrar uma indigesta barreira fiscal interna. Trata-se de obter licença para o frigorífico Excelência, de Nova Mutum, e pertencente à Cooperativa Intercoop, do médio-norte, botar sua variada linha de produção nos quatro cantos do mundo.
O Excelência está com a faca no peito: para se habilitar à exportação tem que apresentar um calhamaço de papel impossível de se conseguir. O governo exige que além do frigorífico e da cooperativa, todos os cooperados e seus conjugues, bem como outras empresas das quais sejam donos ou sócios apresentem certidões negativas da Receita Federal, Secretaria da Fazenda, Ibama, Serasa, SPC, Incra, prefeituras, Justiça Federal e outras mais.
A única maneira de desburocratizar essa exigência seria a alteração da legislação em vigor, pela Assembléia Legislativa. Por se tratar de algo praticamente impossível neste final de ano e de legislatura, o governador Rogério Salles assumiu compromisso de assinar nesta semana, uma licença temporária especial para exportação. O setor aguarda confiante e apreensivo.