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Simpósio realizado na USP discutiu ações emergenciais em vigilância sanitária

Febre aftosa e BSE (doença da vaca louca) foram destaques no encontro.

Da Redação 18/06/01 11:00 – A febre aftosa está fazendo um grande estrago na América do Sul. Segundo dados do Centro Pan-Americano de Aftosa (Panaftosa), 49,50% do rebanho bovino do continente, composto por 290 milhões de cabeças, está localizado em área afetada pela doença. No Brasil, os problemas por enquanto se restringem ao Rio Grande do Sul. A Secretaria de Agricultura gaúcha informou, em meados de junho, que desde 5 de maio – data do reaparecimento da enfermidade no Estado – foram sacrificados 1.118 animais em 21 focos detectados, distribuídos nas cidades de Santana do Livramento, Alegrete, Quaraí e Dom Pedrito, na fronteira oeste; em Jari, na região central; e Rio Grande, no litoral sul. Para discutir ações emergenciais para os programas de vigilância epidemiológica brasileiros, no sentido de deter o problema e evitar o reaparecimento futuro, foi realizado em São Paulo, de 12 a 14 de junho, o simpósio Febre aftosa e BSE (doença da vaca louca) situação brasileira e européia.

Soares, Cancellotti e Ferreira

“O Brasil está cercado por países que ainda padecem com a aftosa”, diz Fernando Ferreira, professor doutor da disciplina de epidemiologia do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). “Assim, mesmo quando concluirmos a erradicação da aftosa deveremos estar preparados para a reintrodução de focos da doença. Por isso é preciso saber como agir em situaçõe como essa. E agir rapidamente”. Ferreira, juntamente com o chefe do VPS, José Soares Ferreira Neto, coordenaram o simpósio. Entre os palestrantes, destaque para representantes da vigilância sanitária animal do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAA) e para participação internacional de Franco Maria Cancellotti, diretor do Instituto Zooprofilattico Sperimentale delle Venezie (Itália). “Cancellotti esteve diretamente envolvido no programa de erradicação da aftosa na Itália, que serviu de modelo aos programas de vigilância da União Européia”, diz Ferreira.

Entre os mais de 60 participantes do evento houve consenso de que o reaparecimento da aftosa no Cone Sul foi motivado por erros nas políticas de controle sanitário. Um deles foi a redução de recursos financeiros para a prevenção, à medida que se alcançou sucesso na eliminação da doença na região. “As reintroduções da aftosa na Europa e na América do Sul têm mostrado como é preciso manter e investir na estruturação de sistemas de vigilância e defesa animal”, diz Geraldo Marcos de Moraes, médico veterinário da divisão de epidemiologia do Departamento de Defesa Animal do MAA. Moraes descreveu em sua palestra o programa de erradicação da aftosa do Brasil, que deslanchou a partir de 1992 e pretende extirpar a enfermidade de todo território nacional até 2005. “A diminuição dos investimentos em sistemas de defesa sanitária não podiam ter acontecido à medida que a doença foi sendo controlada. É justamente a partir do controle que é preciso aumentar os investimentos. Vigilância maior, contratação e capacitação de recursos humanos precisam ser uma constante. Os problemas recentes devem nos servir de alerta”, comenta. Desde 1996, anualmente, o setor privado nacional vem investindo cerca de US$ 110 milhões no programa de erradicação da febre aftosa, somado a outros US$ 47 milhões em verbas públicas, informa Moraes.

Vaca Louca – O Brasil não tem registro da presença da doença da “vaca louca” em seu território. Mesmo assim, o simpósio realizado na USP debateu o problema. “É precisa estabelecer medidas de emergência para que se a doença da vaca louca for introduzida a partir da importação de animais possamos fazer rapidamente o diagnóstico e eliminação das cabeças contaminadas”, explica o professor Fernando Ferreira. A estrutura adequada de vigilância epidemiológica deve comportar laboratórios para diagnóstico da doença e processos que permitam a rastreabilidade de todo o plantel, desde sua origem no campo até o momento em que chega à mesa do consumidor. “Como a doença da vaca louca não tem uma característica de difusibilidade tão intensa como outras enfermidades infecciosas, se nos nós estruturarmos nesse momento, e controlarmos o comércio com os países que tem o problema, acredito que as ações emergenciais nunca serão necessárias”.