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Soja

Argentina na briga

Argentina deve reduzir taxa e aumentar competição na soja. Safras do país vizinho e brasileira devem ser recordes.

Argentina na briga

As safras de soja no Brasil e Argentina na temporada 2009/2010 caminham para uma produção recorde. Além disso, o país vizinho deverá assistir à retomada dos embarques tendo em vista que legisladores de oposição ao governo Kirchner querem cortar as taxas de exportação da oleaginosa em US$ 1,5 bilhão.

Após diversos embates em torno das retenciones (como é conhecido o imposto à exportação na Argentina) a probabilidade de que os tributos sejam reduzidos é grande. Os legisladores da oposição irão superar, em número, os apoiadores da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, nas duas casas do Congresso, quando os eleitos do pleito de junho assumirem seus cargos, no dia 10. A prioridade na agenda desses legisladores é reduzir as taxas de exportação de soja de 35% para 25%. Ricardo Buryaile, produtor rural eleito pela legenda Unión Cívica Radical, afirma que isso representa uma redução de US$ 1,5 bilhão na renda do governo.

No ano passado, as tentativas de Cristina Kirchner de aumentar os impostos de exportação provocaram quatro meses de protestos de produtores, o que fez com que sua popularidade caísse 20%. A proposta de aumento das taxas foi rejeitada por apenas um voto no Senado.

Alberto Bernal, diretor de pesquisa de mercados emergentes da Bulltick Securities Corp., em Miami, disse que uma redução nas taxas seria uma notícia excelente para estimular a economia. “O aumento da renda e as taxas de vendas irão se sobrepor à redução nas taxas de exportação de soja”, afirmou Bernal.

As taxas e os limites governamentais impostos nas exportações agrícolas estão desencorajando os produtores a investir no aumento da produção, segundo Ernesto Ambrosetti, economista da Sociedade Rural da Argentina (SRA). “Sem a intervenção governamental nos mercados de exportação e com taxas menores, a Argentina poderia voltar a produzir safras recordes para o mundo”, disse Ambrosetti. “Uma redução gradual das taxas de exportação iria aumentar a produção e criar uma sensação de segurança para os produtores”, completou o economista da SRA.

A produção de grãos e oleaginosas da Argentina caiu 28% no ano comercial que acabou em junho, para 68,2 milhões de toneladas, vindo de um recorde de 95 milhões de toneladas no ano anterior, de acordo com a SRA.

Os gastos com maquinários agrícolas, por sua vez, caíram em 40% este ano, em relação a 2008, como resultado das taxas e da pior estiagem do século, segundo José Maria Alustiza, presidente da Câmara de Produtores de Máquinas Agrícolas.

Andamento da safra

A maior incidência de chuvas nos últimos dias acelerou a evolução do plantio da soja na Argentina. Até a última semana, os agricultores haviam semeado 65,5% da área prevista neste ciclo, 15,9% superior a última semana e 5,9% a mais que no mesmo período da temporada anterior.

Nesta safra, a área plantada totalizará uma recorde de 19 milhões de hectares, de acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que a produção argentina do grão nesta safra será de 53 milhões de toneladas.

No Brasil, as precipitações também favoreceram o plantio. No Mato Grosso, maior estado produtor do País, o último levantamento feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) sobre a área reforçou o aumento da superfície plantada em 6,5%, para 6,07 milhões de hectares. Mantendo a projeção estatística para a produtividade, de 3 mil quilos por hectare, o estado alcançará 18,2 milhões de toneladas, um recorde para a região.

A recuperação da produção Argentina e um cenário político que aponta para a retomada das exportações do país ocorre ao mesmo tempo em que os Estados Unidos registram recorde nas vendas de soja para a China. Só na última semana os exportadores privados norte-americanos anunciaram ao USDA a venda de 232 mil toneladas do grão para o país asiático a serem entregues na temporada 2009/2010. Com isso a expectativa para o próximo ciclo é de maior volatilidade e um aumento na competição mundial por um mercado ditado pelo apetite chinês.