Redação (14/01/2009)- Apesar da derrapada das exportações de carne suína no último trimestre de 2008 por causa da crise financeira internacional, as perspectivas para este ano são positivas e os embarques podem voltar a crescer, avalia Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína). Seu otimismo, que pode parecer extemporâneo diante do quadro de crise, tem uma razão: a possibilidade de abertura de novos mercados neste ano. "O ano de 2009 tem tudo para ser o grande ano de aberturas de mercados", afirma.
Só com quatro novos mercados em potencial – China, Japão, EUA e União Européia -, o Brasil poderia exportar cerca de 900 mil toneladas a mais por ano em 10 anos, segundo cálculos de Camargo Neto com base em estimativas da FAO – agência para agricultura e alimentação das Nações Unidas – sobre a importação dessas regiões.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 1,48 bilhão em carne suína, 20% mais que em 2007. Em volume, porém, houve queda de quase 13%, para 529 mil toneladas. A Abipecs havia estimado vendas de 600 mil toneladas, repetindo 2007, mas nos últimos dois meses do ano passado, principalmente, os embarques caíram 50%. Boa parte dessa queda se deveu à redução das vendas para a Rússia, um dos países mais afetados pela crise. Em 2008, as vendas ao país caíram 19%, para 225,79 mil toneladas.
Para Camargo Neto, a crise financeira torna ainda mais urgente a necessidade de abertura de novos mercados. E de reduzir a de dependência do mercado russo. Entre os países que podem se abrir à carne suína brasileira estão China, Japão, EUA, Filipinas e África do Sul, neste último caso uma reabertura, além da União Européia.
No caso da China, após vinda de missão em novembro, falta aprovar regiões produtoras e estabelecimentos de abate e processamento, segundo Camargo. "É essencial que o governo brasileiro sinalize interesse e prioridade conseguindo acelerar o processo junto ao órgão sanitário chinês". A estimativa é de que o país tem potencial para importar 105 mil toneladas por ano do Brasil.
Ele também está otimista com os EUA, que deve concluir a análise de risco para carne suína do Brasil neste mês, quando termina o governo Bush. Os próximos passos são análise econômica e consulta pública. Na avaliação do executivo, a abertura dos EUA – cujo potencial de compra anual é de 84 mil toneladas – poderia abrir caminho para o suíno brasileiro em outros mercados.
Já o Japão poderia fazer metade de suas importações de carne suína no Brasil (625 mil toneladas), segundo as projeções da Abipecs. Atualmente, o Ministério da Agricultura brasileiro responde a um questionário sobre sanidade do rebanho suíno enviado pelo Japão.
Ele acredita que a vinda de missão da UE para avaliar a sanidade em bovinos "limpa a frente para a missão de suínos", ainda sem data marcada. Na visão de Camargo Neto, apesar do acesso regulado por cotas, a abertura pela UE seria uma chancela à qualidade da carne suína brasileira.
Além desses países, as Filipinas também devem enviar missão ao Brasil ainda este mês. Há ainda a África do Sul que, para ele, não tem razões para manter o embargo ao produto brasileiro, iniciado após os casos de aftosa no Mato Grosso do Sul, no fim de 2005.
Num quadro de manutenção do mercado interno este ano – onde as vendas cresceram em 2008 – , não haveria carne suína suficiente no caso da abertura de novos mercados. "Se abrir alguns deles, falta carne", observa Camargo Neto.