A liberação chinesa para importação de milho brasileiro deve sair ainda este ano, permitindo embarques do cereal já na safra 2013/14, disse ontem (3) um alto funcionário do Ministério da Agricultura do Brasil.
“O processo é burocrático, demorado, porque envolve informações e questionários, preenchimento em mandarim, com descrição de doenças existentes no Brasil… A nossa expectativa é que isso se resolva ainda esse ano”, disse à Reuters o diretor do Departamento de Assuntos Comerciais, da Secretaria de Relações Internacionais do ministério, Benedito Rosa.
A China passou de exportadora a importadora de milho há poucos anos e os volumes adquiridos no exterior têm crescido anualmente.
Na safra 2012/13 o país asiático importou 3 milhões de toneladas, volume que deverá saltar para 7 milhões em 2013/14, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA.
Por outro lado, o Brasil elevou sua produção de milho em 60 por cento nos últimos 10 anos, atingindo um recorde de cerca de 80 milhões de toneladas em 2012/13. Com uma oferta doméstica tão abundante, é consenso no mercado que o Brasil precisa elevar exportações.
“Para 2013/14, tudo indica que já estaremos colocando milho no mercado chinês”, estimou Rosa. “Mas no curto prazo não creio que serão volumes expressivos.”
Praticamente toda a importação chinesa de milho tem origem nos EUA e a avaliação do diretor do Ministério da Agricultura é que levará um tempo até que empresas brasileiras tenham uma relação tão próxima quanto a que as exportadoras norte-americanas têm com os chineses.
O Brasil exportou um recorde de praticamente 20 milhões de toneladas de milho ao longo de 2012, na esteira de uma quebra de safra nos EUA, maior fornecedor mundial.
As projeções apontam que os norte-americanos deverão conseguir recuperar a produção na safra 2013/14, que começa a ser colhida em poucas semanas, recuperando também parte do espaço perdido no mercado internacional.
“O processo (de importação de milho brasileiro) será gradual, mas, em se tratando de China, tudo é possível em termos de volumes”, disse Benedito Rosa. “Se nós exportarmos em 2014/15 algo como 3 ou 4 milhões de toneladas, será um bom começo.”
O ministro da Agricultura da China disse na segunda-feira que o país deve aumentar gradualmente suas importações a fim de atender a crescente demanda, contrastando com declarações anteriores de que a China deveria continuar autossuficiente em relação ao milho, e de que o cereal não irá seguir o caminho da soja – produto cujas importações globais já são dominadas pelos chineses.
Pragas e burocracia – A última pendência com a China, segundo Benedito Rosa, são formulários relacionados a questões fitossanitárias. Os chineses querem garantias de que pragas e doenças existentes no Brasil não apresentem risco às lavouras do país asiático, que colhe mais de 200 milhões de toneladas anualmente.
Como o Brasil já é exportador de milho para mercados exigentes como Japão e Coreia do Sul, o diretor do ministério está confiante de que as pendências com a China sejam apenas questões burocráticas.
“Mercados exigentes quanto à qualidade e presença de resíduos já dão um selo de qualidade respeitável ao Brasil”, argumentou. “Mas o processo técnico-burocrático é lento.”
Em agosto, empresas argentinas comemoraram a liberação da primeira carga de milho transgênico para entrada no mercado chinês, algo que era esperado há anos.
No caso do Brasil, tudo indica, as importações deverão ser liberadas sem nenhuma restrição quanto à biotecnologia. Três quartos das lavouras brasileiras são plantadas com milho transgênico.
“Até agora não há nenhuma manifestação feita ao Ministério da Agricultura de caráter restritivo à presença de milho OGM destinado à China”, disse Rosa, em referência à sigla para organismos geneticamente.