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Carne de frango avança na terra da parilla

Conhecida pela produção e exportação de carne bovina, a Argentina tem planos de se tornar um player importante também em carne de frango.

Redação AI (24/01/06) – Em 2005, o segmento registrou o melhor desempenho da história no país, e agora trabalha para ampliar a produção em 70% até 2010. É certo que a tradicional e apreciada parilla não perderá seu espaço, mas a idéia é desenvolver a demanda doméstica pela nova aposta e também ampliar suas vendas ao exterior.

A produção argentina de carne de frango alcançou 1,06 milhão de toneladas no ano passado, 15% mais que em 2004. Apesar de ter subido mais um degrau, a oferta ainda é pequena se comparada à do Brasil, que produziu 9,3 milhões de toneladas, segundo a União Brasileira de Avicultura (UBA), e exportou 2,76 milhões de toneladas em 2005.

 
 

Apesar da diferença expressiva, grandes empresas brasileiras admitem estar atentas à evolução a avicultura no país vizinho. Em recente entrevista ao Valor, o presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni, reconheceu que o avanço da produção na Argentina está sendo observado com atenção.

Um empresário argentino confirma que a boa fase está atraindo interessados de fora do país. “Recebemos propostas de mais de um lugar, e estamos abertos a conversar com quem esteja interessado em comprar ou em uma aliança estratégica”, disse Nestor Eggs, dono do frigorífico Noelma, instalado na Província de Entre Rios, que abriga o principal pólo avícola da Argentina. Sobre o interesse de companhias brasileiras, Eggs disse que não houve qualquer oferta concreta, mas que tem havido sondagens.

A situação dos produtores argentinos é hoje muito diferente da época em que o regime de conversibilidade do câmbio (quando um peso era igual a um dólar) praticamente impedia o acesso a outros mercados e ocasionava atritos com exportadores de frango brasileiros, que podiam oferecer o mesmo produto a um custo muito menor.

“Brasil e Argentina produzem hoje o frango mais barato do mundo”, diz Roberto Domenech, presidente da Cepa, câmara que reúne os produtores argentinos de aves. Ele admite que os custos de produção na Argentina estão menores devido ao câmbio, mas considera que essa é a única vantagem competitiva que os produtores locais têm em relação aos brasileiros. Isso porque, à diferença de outros setores, no caso do frango nunca houve, segundo Domenech, “assimetrias produtivas” com o Brasil. “Usamos as mesmas linhas genéticas, os ovos são incubados nas mesmas máquinas e os dois países produzem milho e soja”.

O dirigente afirma que os produtores locais conseguiram aproveitar rapidamente as vantagens trazidas pela desvalorização do peso porque mesmo durante a conversibilidade, quando seu negócio não era rentável, continuaram investindo em equipamentos. “Nem todos tiveram coragem de investir, mas aqueles que o fizeram estavam prontos no momento em que saímos da conversibilidade”.

Hoje, os avicultores operam praticamente sem ociosidade e conseguem vender todo o frango que produzem. “Para nós foi uma explosão. O mercado internacional teve um olfato rápido e imediatamente começaram a chegar os e-mails dos compradores que cultivávamos desde 1996”, lembra Domenech.

De 2001 para 2002, as exportações da Argentina saíram de 30 mil toneladas de frango (a maior parte de pés para a China) para 55 mil toneladas – neste caso, produtos com maior valor agregado, como frango em pedaços. Em 2005, os embarques somaram 140 mil toneladas.

Sem capacidade ociosa, as empresas do país vêm investindo desde 2004 e planejam continuar ampliando seus negócios neste ano. No caso da Noelma, estão previstos aportes de US$ 2,5 milhões em 2006, o que elevará os recursos aplicados desde 1993 para US$ 7 milhões. A empresa abate 2,2 milhões de frangos por mês e está entre os seis maiores produtores da Argentina.

A meta dos avicultores é chegar a 2010 com uma produção total de 1,8 milhão de toneladas – 500 mil para exportação. Outra meta é expandir o consumo interno, hoje em 25 quilos por habitante/ano, para 30 quilos. Para se ter uma idéia, um argentino consome em média 65 quilos de carne bovina por ano.