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Granjeiros do Paraná começam a recuperar prejuízos

Na última semana, o preço pago pela caixa de ovos reagiu significativamente, mas ainda não cobre os prejuízos.

Redação AI (17/02/06) – O granjeiro Inge Boer produz cerca de 200 caixas de ovos por semana, com um total de 11,7 mil galinhas. Ele conta que o custo de produção de uma caixa fica em quase R$ 35 – entre R$ 20 e R$ 25 são gastos apenas com ração. Hoje, esse custo começa a empatar com o valor pago pelo produto.

Entretanto, entre dezembro de 2005 e janeiro deste ano, o preço pago ao produtor não chegava a cobrir nem mesmo a ração utilizada para alimentação das galinhas. Entre dezembro e janeiro, o preço chegou a R$ 20 a caixa. Mas além da ração, que fica entre R$ 20 e R$ 25, tem ainda mão-de-obra, impostos, enumera. Com o balanço dos prejuízos contabilizados, Boer cita que a perda semanal foi de R$ 2 mil.

O produtor Richard Arend Jan Rabbers destaca que na última semana o preço pago pela caixa reagiu significativamente. Ele ressalta que chegou a receber, entre dezembro e janeiro, até R$ 22,5 por caixa, enquanto o custo de produção atingia R$ 27. Hoje, o mesmo volume de ovos, com o mesmo custo de produção, é vendido por valores entre R$ 32,7 (ovo extra) e R$ 31,7 (ovo grande). Trabalho desde meados dos anos 80. O preço já foi mais baixo, mas o custo de produção era menor. Não me lembro de ter ficado tão ruim quanto nos últimos tempos. Mas agora já reagiu, subiu em uma semana quase R$ 10, assinala, ao destacar que neste período já está conseguindo ter retorno financeiro com a produção.

Se por um lado está comemorando a melhora dos preços, por outro lamenta o prejuízo de R$ 3,595,62 em janeiro. mas os baixos preços e o prejuízo começaram antes do final do ano, quando normalmente os preços caem. Em setembro de 2005, ano que também considerou ruim, o produtor registrou, na contabilidade final, um déficit de R$ 17,124 mil. O preço não estava bom e eu estava com galinhas novas, que estavam comendo sem botar, diz, lembrando que o preço médio pago naquele mês foi de R$ 0,96 a dúzia.

O pior preço médio recebido por Rabbers foi em outubro, quando uma dúzia de ovos estava sendo vendida a R$ 0,81. Neste mês, seu prejuízo foi de R$ 12,038 mil. Janeiro de 2005 registrou o segundo pior preço médio do ano, com a dúzia sendo vendida a R$ 0,88.

O que eu espero é que o preço melhore, tanto dos ovos quanto de outros produtos [agropecuários]. Todo mundo fala, passa na televisão, que o consumidor está feliz com o preço baixo, mas a médio e longo prazo o preço vai lá em cima de novo porque muita gente pára com a atividade [devido aos prejuízos], assinala.

Criação tem manejo fácil

Se os riscos e a instabilidade em termos de preços são um fator negativo para a criação de galinhas de postura, a facilidade no cuidado e trato das aves soma a favor de quem quer iniciar na atividade. O produtor Inge Boer, que lida há dez anos com avicultura de postura, tem hoje 11.714 aves. Para cuidar das galinhas, ele dispõe de apenas dois funcionários, que fornecem a alimentação, mantêm os bebedouros em pleno funcionamento, fazem a coleta dos ovos e ligam a luz das 4 às 7 horas e das 19 às 22 horas (a iluminação artificial é necessária para melhorar a qualidade da casca do ovo).

Para Sérgio Rodrigues, que trabalha com Boer na granja, o trabalho é tranqüilo. Ele conta que aos domingos trabalha até o meio-dia, mais para alimentar as aves. Quanto à saúde das galinhas, Richard Arend Jan Rabbers diz que não tem do que se queixar. Desde que lida com avicultura, há cerca de 25 anos, nunca teve problemas mais graves. Alguns anos atrás deu um problema nas vias respiratórias, mas é coisa simples. É colocar alguma vitamina ou medicamento na água e está resolvido. O frango com certeza dá mais serviço, diz o produtor, que trabalhou com criação de frangos de meados dos anos 80 até 1994 ou 1995. Para cuidar da granja que tem cerca de 20 mil galinhas, Rabbers conta com apenas quatro funcionários.

Lucratividade em queda

Embora tenha registrado uma média de lucros que não parece baixa, o produtor Richard Arend Jan Rabbers vê que o dinheiro está cada vez mais escasso para os granjeiros. Com um saldo positivo de R$ 34.196,39 de janeiro a dezembro de 2005, o que resulta numa rentabilidade média de R$ 2,849 por mês, Rabbers avalia que a produção de ovos pode ter resultados muito melhores.

Em 2004, quando a rentabilidade também esteve abaixo do potencial segundo o produtor, a sobra do ano foi de R$ 52,88 mil, numa média de R$ 4,407 mil mensais. Já em 2003, embora não tenha os valores do ano todo, Rabbers cita que de janeiro a março a sobra total foi de R$ 42.645,11, o que resulta numa média de R$ 14,25 mil ao mês. Mas pode ter caído o preço depois, o que deve realmente ter acontecido. Acredito que o saldo final deva ter ficado em torno de R$ 7 mil, compara.

Outro valor interessante é o referente a dezembro de 2005, quando o produtor vendeu a dúzia a um preço médio de R$ 0,90, registrando um lucro de apenas R$ 1.635,60. No balanço final de 2005, o produtor contabilizou gastos de R$ 300.331,67 para a aquisição de ração para as aves – um total de 768,22 toneladas – preço médio de R$ 0,39 o quilo; R$ 44.597,50 em mão-de-obra, incluindo encargos sociais, décimo terceiro salário e férias dos funcionários; R$ 69.133,31 de depreciação das aves (valor utilizado para comprar novas aves); R$ 12 mil para depreciação de gaiolas; R$ 5.0447,13 em eletricidade; R$ 98 em embalagens; e R$ 2.736,75 em vacinas. P>Crise provoca venda de aves

Para tentar se safar da crise que considerou a pior de todos os tempos desde que lida com a produção de ovos, o granjeiro Inge Boer antecipou a venda de um lote de galinhas em busca de economizar em ração. Nesta leva, Boer vendeu 1,7 mil galinhas, embora os planos iniciais eram de se desfazer de mais. Tinha pensado em vender 4 mil, mas acabamos vendendo menos, diz.

O incentivo a se desfazer das aves foi dado pelos baixos preços praticados ao produtor entre janeiro e fevereiro, que resultaram em prejuízo, mas a venda de aves mais velhas é comum nas propriedades. Boer destaca que a comercialização das aves é feita de dois em dois meses, o que proporciona uma rotatividade na granja, sem causar um grande impacto na produção – já que as galinhas mais jovens produzem ovos menores, que têm preços mais baixos. Mas decidimos antecipar por causa dos preços, porque galinha não sabe que é feriado, férias [neste período, devido à baixa procura o preço cai], brinca.

O produtor Richard Arend Jan Rabbers conta que no período mais forte da crise também pensou em se desfazer de um lote de aves. Pensei em descartar, mas resolvi segurar mais um pouco e nessa me dei bem, diz o produtor, que tem uma granja com 20 mil galinhas, que produzem 42 caixas de 30 dúzias diárias.

Além do descarte de aves, outra alternativa utilizada pelos granjeiros para reduzir os custos em momentos de baixos preços e grande volume de produto no mercado é fazer a muda das aves. Segundo Rabbers, a muda consiste em causar uma espécie de estresse na ave, deixando-a sem água, sem comida e sem luz artificial, o que faz com que a galinha reduza a produção. Por outro lado, ela, depois, retorna a produzir e permanece útil ao granjeiro por mais tempo que o normal. O problema da muda é que a casca do ovo enfraquece, diz Rabbers.