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Energia e alimentos sustentam os preços das commodities

Os principais fatores que colaboram para esse cenário mais estável são a importância que a soja e o milho alcançaram no mundo em relação à bioenergia.

Redação (28/01/2008)- Ao contrário do que ocorreu após os atentados de 11/9, o impacto da atual crise norte-americana sobre os preços das commodities deverá ser bem menor. Os principais fatores que colaboram para esse cenário mais estável são a importância que a soja e o milho alcançaram no mundo em relação à bioenergia, o aumento de cerca de 70% nos custos da produção nos últimos cinco anos e a crescente demanda dos países emergentes por alimentos. Só com esses fatores já seria muito difícil os preços voltarem aos patamares que estavam no final de 2001.

"As fortes oscilações que vêm ocorrendo nos últimos dias são reflexo da forte atuação dos grandes fundos multimercados nas negociações das commodities. Eles estão liquidando os contratos para cobrir as perdas que tiveram com a crise americana", explica Fernando Pimentel, sócio diretor da Agrosecurity. Para ele, a palavra de ordem do momento é volatilidade, mas diz que existe um limite de perda para os contratos. "A soja deve chegar no máximo a 11 centavos de dólar por bushel, e o milho na casa dos 3,60 centavos de dólar por bushel. Pode até ocorrer um ajuste, mas eles não voltam ao que era antes", prevê Pimentel.
Já Leonardo Sologuren, diretor da Céleres, explica que é normal ocorrer uma fuga do mercado das commodities durante uma sinalização de crise, em virtude de ser um segmento de capital de alto risco para as empresas. Mas o crescimento do consumo nos países emergentes puxados pela China, que hoje é responsável por 12% do mercado mundial de grãos, juntamente com o aumento da demanda por biocombustíveis amparam o comércio desses produtos. "O que me preocupa é se os preços altos vão causar restrição na demanda. Um exemplo é o biodiesel do óleo de soja. Com o preço muito alto não compensa para os produtores utilizá-lo como matéria-prima, causando uma queda na procura", analisa. Ele diz que só uma recessão global afetaria diretamente os preços das commodities, pois lembra que o mercado americano não é um grande consumidor de grãos. "Se a economia chinesa mostrar sinais de desaceleração, ou se houver um abandono no projeto dos biocombustíveis é possível que isso afete diretamente o Brasil".
No caso do trigo, essa crise que vem se desenhando não deverá afetar diretamente seus preços, pois seu mercado é mais físico e possui menos especulação. O principal aspecto que vem puxando os preços é o quadro mais apertado da relação estoque consumo. De acordo com o último relatório do departamento de agricultura americano (USDA), os estoques finais do mundo estão na casa dos 110 milhões de toneladas, 13 milhões a menos que no ano passado, o menor índice já registrado. "Mesmo se tudo sair perfeito e a produção mundial de 642 milhões de toneladas para 2008/09 se confirmar, ela só recuperaria os estoques perdidos nos dois últimos anos", avisa Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. Ele lembra que os americanos produziram uma safra maior, mas tiveram que cobrir a lacuna do Canadá e da Austrália, que sofreram quebras na produção.
Entretanto, no caso do café o cenário muda em relação às outras commodities. Os Estados Unidos são o segundo maior importador do produto no mundo, perdendo apenas para a Alemanha. "A precificação do café deve ficar em torno dos 130 centavos de dólar por libra peso em 2008, mas o clima é imprevisível. Se ocorrer alguma eventualidade nesse sentido, o cenário deverá ser revisto", diz Reginaldo Rezende, analista da Fcstone. Na sua opinião, ainda existe a possibilidade de o mercado financeiro atrapalhar, pois tudo é interligado. "A atuação dos grandes fundos nos mercados acionário e mobiliário dos EUA pode refletir diretamente no preço café, mas a tendência é positiva".