Redação (26/03/2008)- Minas Gerais será o primeiro estado a exportar carne bovina para a União Européia, após a redução do número de fazendas exportadoras determinada pelo bloco este ano. O frigorífico Independência, de Janaúba, no Norte do estado, realiza nesta quarta-feira (26) o abate de um lote 429 animais, todos provenientes de fazendas mineiras aprovadas pelos europeus.
O produto foi vendido para a companhia Meat Import Zandbergen Brothers, da Holanda, uma dos maiores importadoras da Europa. O embarque, de cerca de 50 toneladas de carne desossada, será feito na próxima semana. Até então, toda a carne brasileira in natura exportada este ano para a UE era de contratos realizados antes da entrada em vigor das restrições européias.
As cinco fazendas que venderam os animais para o frigorífico Independência fazem parte de uma lista de 97 propriedades brasileiras selecionadas pela União Européia, após auditoria realizada, no início do mês, nas fazendas dos estados autorizados a exportar para o bloco. Duas estão no município de Jaíba, duas em Francisco Sá e uma em Joaquim Felício. Minas Gerais detém 82% das fazendas que estão na lista aprovada pelos europeus. Todas estão cadastradas no Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov).
"Esta primeira venda feita por Minas Gerais é fundamental para que o país mantenha abertas as portas do mercado europeu", explica o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Gilman Viana Rodrigues. Mesmo com as barreiras européias, ele acredita que este primeiro embarque nacional, depois das novas regras, mostram que é possível continuar vendendo para a UE. "É um estímulo para que outras propriedades se qualifiquem e aproveitem a oportunidade para vender aos países europeus".
A previsão do frigorífico Independência é fazer mais dois embarques em abril. "A tendência é que os embarques passem a ser semanais, até que, gradativamente, possamos voltar ao ritmo normal, que era de remessas quase diárias para a UE", afirma o diretor comercial do frigorífico, André Skirmut. Segundo ele, o Independência já fez contato com outras fazendas da lista para negociar futuras vendas.
Apesar de não ser o maior consumidor da carne brasileira que é exportada, o bloco europeu costuma comprar cortes nobres, com preços mais elevados. "Só com a redução da importação brasileira, o valor pago ao produtor pelos frigoríficos exportadores aumentou de 10% a 20% em relação ao mercado interno", explica Gilman Viana. Na Europa, o preço cobrado ao consumidor aumentou até 40%, dependendo do corte. O diretor comercial do Independência conta que o frigorífico também investe no relacionamento e profissionalização dos pecuaristas. "Fazemos um acompanhamento técnico do abate, com programas bonificação pela qualidade e classificação da carcaça e do couro’, informa Skimurt.
A unidade do frigorífico Independência, em Janaúba, funciona há dois anos. A instalação no município foi beneficiada pelo programa Minas Carne, criado pelo governo de Minas para incentivar a reabertura, no estado, de frigoríficos exportadores de carne bovina. As operações na unidade de Janaúba tiveram início com um volume de abate de 550 cabeças/dias. Após um ano e meio de atividade, a capacidade foi ampliada para 1.200 cabeças/dia. Segundo André Skimurt, "a instalação do frigorífico na região propiciou maior formalização da atividade, possibilitando que os produtores se adaptassem para fornecer matéria-prima de qualidade para os mercados com os quais o Independência negocia".
Novas auditorias
A partir de 31 de março, 40 técnicos do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) vão passar por um treinamento de auditores organizado pelo Ministério da Agricultura. O curso, de 80 horas, será ministrado por técnicos da União Européia. Após a capacitação, o IMA poderá auditar as fazendas do estado cadastradas no Sisbov e encaminhar ao Ministério uma nova lista de propriedades aptas a exportar para a UE. "A retomada das exportações para o bloco será gradual", explica Gilman Viana. Segundo ele, as vendas devem ser normalizadas até o final deste ano.
A inclusão de técnicos estaduais de defesa sanitária no trabalho de certificação das fazendas foi negociada no dia 18 de março, em Brasília, durante uma reunião entre o Conselho Nacional de Secretários de Estado de Agricultura (Conseagri) e o Ministério da Agricultura. Durante o encontro, o secretário Gilman Viana, presidente do Conseagri, pediu ao ministro Reinhold Stephanes a autorização para que os serviços estaduais de vigilância sanitária também pudessem fazer o trabalho de certificação das propriedades exportadoras. O pedido foi acatado pelo Ministério.
"A certificação feita por empresas privadas cadastradas junto ao Ministério tinha muitas falhas e estava prejudicando os pecuaristas. Com a mudança, o produtor terá a opção de escolher com quem fazer o trabalho de certificação", explica o secretário.