Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Maior oferta e aceitação de transgênico desvalorizam milho

A diferença entre o mercado interno e o externo está em R$ 3 por saca a mais para o produto que fica no País.

Redação (02/05/2008)- O alto prêmio conseguido pelo milho brasileiro no segundo semestre do ano passado – quando o ágio chegou até a US$ 65 por tonelada em relação ao americano – não deve se repetir em 2008. No entanto, as cotações mais elevadas do cereal neste ano "podem compensar esta perda". Para analistas, a conjuntura do mercado naquela época permitia este pagamento – além do fato de o País produzir o grão não-modificado.
"O prêmio pode não ser da mesma magnitude", diz o diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica. Segundo ele, no segundo semestre do ano passado, a Europa veio atrás do milho brasileiro porque havia escassez de trigo para ração – e o grão estava com preço elevado. Agora, com uma safra maior deste cereal, a tendência é de redução nos preços mas, por outro lado, o milho terá preços mais elevados em Chicago, que compensariam esta diferença. Em relação ao mesmo período do ano passado, o preço médio praticado na exportação está 47% mais alto. Por enquanto, segundo a Safras & Mercado, o mercado brasileiro teria disposição em vender entre US$ 260/280 a tonelada, enquanto o mercado externo estaria disposto a pagar abaixo do produto dos Estados Unidos, a US$ 240 a tonelada.
No ano passado, parte do mercado creditava o alto prêmio pelo fato de o País comercializar milho não-transgênico. Mas os analistas não conseguem dimensionar quanto foi por este motivo e qual foi a participação da conjuntura geral. O certo é que a Europa liberou a importação de alguns produtos transgênicos e, com isso, está comprando bastante da Argentina. Estima-se que os europeus já tenham embarcado 4 milhões de toneladas do país vizinho e que, ao mesmo tempo, a Argentina esteja chegando ao limite de exportações sem taxação do governo: 10 milhões de toneladas. Os vizinhos têm disponíveis para venda externa de 14 milhões de toneladas.
Cogo lembra que a preferência por compra de milho convencional depende do país dentro da União Européia. Segundo ele, a França prefere este produto, enquanto a Holanda adquire os dois. "Por isso, a venda da Argentina não deve interferir", acredita. Na sua avaliação, o Brasil vai bater recorde de exportações de milho em 2008, somando 10 milhões de toneladas. Para Fábio Turquino Barros, da AgraFNP, o País tem esta disponibilidade de exportação independente de ter ou não grão convencional. "Cada vez mais a demanda eleva o prêmio mais que a questão da transgenia", afirma Barros. Ele acredita que a demanda maior que a oferta persista por pelo menos mais três anos, proporcionando as vendas externas do País.

Para Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Céleres, a movimentação grande de procura pelo milho brasileiro no segundo semestre do ano passado se deveu, principalmente, porque era entressafra nos Estados Unidos e a Argentina, segundo maior exportador mundial, já não tinha mais produto disponível. "Por isso se pagou o prêmio alto. Mas havia também uma parcela interessada no grão não-transgênico", acrescenta. Ele cita como exemplo, a Espanha, que foi um dos principais compradores do Brasil no ano passado e, em 2008, já adquiriu 3 milhões de toneladas do grão da Argentina. Sologuren diz ainda que, independente da questão da transgenia, a Europa vai precisar importar milho – pois tem crescido a área de canola para biodiesel na região – e os três fornecedores mundiais são os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil. O sócio-diretor da Céleres acredita que a cotação mais elevada do cereal em 2008 "pagará" o prêmio obtido no ano passado.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Odacir Klein, acredita que, mesmo com a flexibilização da Europa em relação à transgenia, o prêmio obtido pelo País no ano passado foi mais em função disso que de oferta do cereal. E, apesar de os europeus estarem comprando massivamente dos argentinos, ele não acredita que as vendas externas do País caiam. "O que pode ocorrer é oscilação geográfica", acredita.
Mercado interno pressiona
Os embarques brasileiros realizados até o momento foram de transações realizadas no ano passado. Segundo analistas, aos preços do mercado interno acima da paridade de exportação estão praticamente "paralisando" novas negociações. Mas eles acreditam que a partir do segundo semestre, as vendas externas "embalem".
De acordo com a Cogo Consultoria Agroeconômica, a diferença entre o mercado interno e o externo está em R$ 3 por saca a mais para o produto que fica no País. "Quando este quadro se reverter, amplia a exportação".
Barros acrescenta que a questão cambial é que tem proporcionado esta diferença. Mas, segundo ele, apesar das vendas estarem "lentas", muitas tradings já estão enviando o grão para armazéns próximos aos portos, sinalizando de que vão exportar. O sócio-diretor da Céleres lembra também que muitos produtores estão segurando a comercialização do grão, apostando que os preços vão subir.