Redação (26/01/2009)- A seca que atinge a maior parte da Argentina já provocou a perda de 35% da produção de cereais e oleaginosas da safra 2007/08 e pode levar à perda de 20% em 2008/09. Para agravar a situação, as quatro maiores associações ruralistas do país – a Sociedade Rural, Federação Agrária, Confederações Rurais Argentinas (CRA) e a Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro) – avaliam a retomada dos protestos contra o governo a partir de final de fevereiro. O setor está descontente com os pesados impostos que a presidente Cristina Kirchner aplica ao setor.
Integrantes da Federação Agrária, a mais combativa do grupo, propuseram na semana passada a deflagração de uma "rebelião fiscal" contra a presidente Cristina. Um complicador para o governo argentino, que também enfrenta uma drástica queda na atividade industrial, o aumento do desemprego e da pobreza, além de decisivas eleições parlamentares.
As associações ruralistas exigem que o governo, além de fornecer subsídios para os agricultores afetados pela seca, também reduza as "retenções" (os impostos aplicados na exportação) dos produtos agrícolas, entre eles a soja (sobre a qual o governo aplica um imposto de 35%).
Nesta semana, possivelmente na quarta-feira, o governo anunciará medidas para amenizar os efeitos da seca. No entanto, consistiriam apenas em subsídios para os produtores atingidos. Mas os ruralistas pedem ao governo que também decrete a "emergência agropecuária" (com essa medida, os agricultores seriam beneficiados com o adiamento dos pagamentos dos impostos) No entanto, nos últimos dias, ministros do gabinete de Cristina Kirchner deixaram claro que não pretendem reduzir os impostos sobre as exportações nem implementar anistias tributárias.
Segundo estimativas das Confederações Rurais Argentinas (CRA), a seca provocará prejuízos de US$ 4,104 bilhões em 2009. Além da queda em mais de um terço da produção de grãos, a falta de chuvas já provocou a morte de 1,5 milhão de cabeças de gado. Os efeitos políticos também provocariam perdas adicionais de US$ 3,6 bilhões. No total, segundo cálculos da CRA – por causa do desestímulo a determinados cultivos (com a consequente redução da área plantada), as duras restrições para exportações (carne e trigo) e os pesados impostos, além da redução do uso de fertilizantes (por causa do alto custo) e a falta de chuvas – o setor agrícola argentino perderia S$ 7,7 bilhões.
A queda nas exportações agrícolas, segundo a consultoria Econews, geraria uma arrecadação tributária substancialmente menor para o governo Cristina, que deixaria de ganhar em 2009 US$ 3,5 bilhões em comparação com 2008. A Econews também sustenta que a forte queda da produção agrícola terá um forte impacto sobre o crescimento do PIB argentino. O cálculo é que o prejuízo equivaleria a 1% do PIB.
Antes da seca, o cálculo dos economistas era de que em 2009 o PIB argentino, na melhor das hipóteses, cresceria 2%. Na pior das hipóteses, teria uma queda de 2%. Mas, a falta de chuvas reforçaria a tendência de que o país mergulhará na recessão neste ano.
O Brasil, que depende altamente da importação de trigo argentino para abastecer o mercado interno, será um dos principais atingidos no exterior pela seca – e os problemas políticos – da Argentina. Os analistas calculam que, por causa dos fatores climáticos e políticos, a produção 2008-2009 será de apenas 8,3 milhões de toneladas, ou seja, 44% inferior à colheita anterior. Os especialistas afirmam que se a seca continuar assolando o país ao longo de 2009, a Argentina poderia deparar-se com o insólito cenário de ter que importar trigo para abastecer o mercado interno.