A crise afetou de forma direta os principais mercados do agronegócio brasileiro, como os Estados Unidos e União Europeia. A demanda por alimentos chegou próximo às taxas negativas ou nulas de crescimento de alguns países e isso acabou se refletindo nas exportações. Entre janeiro e setembro deste ano, as vendas brasileiras do agronegócio para o exterior totalizaram US$ 49,3 bilhões, 7,5% a menos que os US$ 53 bilhões contabilizados no mesmo período de 2008.
Para os especialistas, o resultado poderia ter sido pior se não fosse a abertura de novos mercados fora do eixo dos Estados Unidos e Europa. Mas para os próximos anos o cenário deve melhorar. Levantamentos recentes de vários órgãs internacionais, como o da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) apostam em um aumento da demanda de alimentos. E mais: todos apontam o Brasil como um dos principais produtores de grãos, proteína animal e biocombustíveis.
Stephanes esteve na noite de segunda-feira (19/10), em São Paulo, para a entrega do prêmio Melhores do Agronegócio 2009, realizado pela Revista Globo Rural, da Editora Globo. O evento reuniu representantes das principais companhias e entidades do setor e premiou as melhores empresas de 30 segmentos do agronegócio brasileiro. Na ocasião também foi lançado o Anuário do Agronegócio 2009, que traz o ranking das 500 maiores empresas do setor. “O Agronegócio já representa 30% do PIB brasileiro e com a retomada do crescimento esta participação deve aumentar no próximo ano”, disse Frederic Kachar, diretor geral da Editora Globo.
De acordo com o ministro da Agricultura, o dólar é um dos grandes fatores de preocupação do agronegócio nos dias de hoje. Ele acredita que a situação que a desvalorização da moeda americana diante do real faz com que as margens dos produtores sejam ainda mais baixas, colocando em risco a rentabilidade do campo, sobretudo em culturas como a soja. “Os agricultores compraram insumos num período de dólar alto e, assim, os custos de produção se tornaram mais elevados em comparação ao que se deve pagar pela colheita. E quanto maior a queda do dólar, pior a relação de troca de grãos por reais.”
Além da desvalorização da moeda, o nível de consumo também preocupa. Segundo a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o consumo mundial ainda não voltou aos níveis pré-crise econômica, o que impede a reação das cotações no mercado internacional. “Se continuar nesta toada, a performance ruim nas vendas em 2010 poderá influenciar negativamente o plantio no ano que vem e ameaçar o que o Brasil já conquistou no mercado internacional”, afirma a senadora.
Stephenes e Katia Abreu afirmam estar discutindo a questão do dólar em reuniões com Ministério da Fazenda e da Casa Civil para tentar encontrar uma saída. “Não podemos deixar que o dólar chegue a uma taxa inferior de R$ 1,50. Isso seria insustentável ao setor”, disse o ministro da Agricultura.
As receitas com exportações nacionais cresceram em média 13% ao ano na última década, devido a demanda maior, melhora nos preços e aumento de renda em países emergentes. Segundo especialistas, se o setor atingisse a metade dessa evolução por ano, o país acumularia US$ 1 trilhão nos próximos 10 anos. E para chegar até lá, todos são unâmines em dizer que são necessários focar investimentos em infraestrutura, avanços tecnológicos, questões ambientais e política agrícola de longo prazo. “Os investimentos virão com certeza, mas é importante acordos políticos”, afirmou Stephanes
Carga tributária – Para João de Almeida Sampaio Filho, secretário da Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, é importante que ocorra uma melhora na gestão dos negócios, prevendo também uma redução na sonegação de impostos e na corrupção.
Para que haja um aumento de competitividade dos empresários do setor, Sampaio acredita que será necessário uma reestruturação das empresas agropecuárias, mudanças de contratos e questões tributárias e de sonegação. “A carga tributária é uma questão que assola outros setores da economia também”, afirmou José Serra, governador de São Paulo. Em seu discurso no evento, Serra disse que o maior problema das empresas de agronegócio é a forte dependência dos insumos, que faz com que os custos cresçam. “A tendência é acelerar um conjunto de ações para a melhoria do sistema tributário e permitir cobrar menos de quem paga mais”, disse.
Questão ambiental – Além destas questões, como dólar e carga tributária, o setor não deve se esquecer da questão ambiental. Na pauta, estão o desmatamento zero, inclusive em áreas onde já está definido o percentual de utilização da terra e aplicação do Código Florestal, feito na década de 60. “A questão do meio ambiente deve ser tratada com equilíbrio. É preciso evitar o radicalismo que existe entre os dois lados”, afirmou o ministro Stephanes.
Em relação ao encontro internacional que deve ocorrer em dezembro, sobre mudanças climáticas, Stephanes reafirmou que “o setor agrícola é o que tem mais condições de contribuir na redução do efeito estufa, já que o Brasil é altamente ecológico, preservando um terço das florestas mundiais nativas.”