O Rio Grande do Norte pode se tornar o primeiro estado brasileiro e polo da América Latina a ter uma infraestrutura disponível para estudos que focam no uso de recirculação química com captura de dióxido de carbono (CO2) para produção de energia oriunda de biomassa. O anúncio foi feito pelo Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), que receberá uma planta piloto para realização de experimentos. A Unidade de Recirculação Química (URQ) para Biomassa, como é oficialmente chamada, está em preparação na Europa, e tem previsão de embarque para o início de 2024.
As atividades de preparo serão desenvolvidas até 31 de janeiro, na cidade de Zaragoza, na Espanha, por meio de cooperação com o Instituto de Carboquimica (ICB), centro de pesquisa público vinculado ao Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol (CSIC) e referência mundial em processos que envolvem o uso da recirculação química. Integrantes da equipe técnica e de pesquisa do ISI acompanharão in loco a montagem, o comissionamento e os testes iniciais no velho continente, para o posterior envio da estrutura para o Brasil.
A expectativa é alavancar projetos na área para que soluções pensadas e desenvolvidas nos laboratórios cheguem o mais breve possível à indústria. Abrem novas perspectivas de aplicação e agregação de valor para produtos de alto potencial energético, como a biomassa, ao mesmo tempo em que apontam caminhos para redução de emissões de CO2 nos processos produtivos.
A recirculação química é uma tecnologia que retém o gás ao invés da liberação prejudicial à atmosfera, em processos de reforma e combustão de combustíveis fósseis. Dentro da escala TRL (do inglês Technology Readiness Levels), que vai de 1 a 9 para medir o quão prontos produtos ou processos estão em desenvolvimento para o mercado, ela se encontra no nível 6.
“A expectativa é que a infraestrutura venha para complementar os equipamentos e processos já existentes no Instituto, com o objetivo de captar projetos em novas rotas tecnológicas e contribuir com a ascensão da tecnologia para níveis comerciais”, comenta o pesquisador líder do Laboratório de Sustentabilidade do ISI-ER, Juan Ruiz.
Em outra Unidade de Recirculação Química que o Senai opera em Natal desde 2014, projetos sobre combustíveis gasosos e líquidos, como gás natural, biogás, etanol e glicerina têm avançado nos últimos anos e servem de base para o desenvolvimento atual de um combustível sustentável de aviação que busca reduzir as emissões de CO2 do transporte aéreo brasileiro.
A solução para combustíveis sólidos objetiva ampliar o desenvolvimento dessa tecnologia a partir de 2024. Um dado já registrado é que, mesmo se tratando de uma tecnologia ainda em desenvolvimento, a recirculação química já se mostrou bastante versátil com relação às fontes de combustíveis que podem ser usadas (gás, líquido ou sólido) e aos processos que podem ser ajustados (combustão e reforma). ”É possível obter em todos os casos, após processos de separação, correntes concentradas de CO2, as quais podem ser destinadas à captura e/ou conversão de produtos de maior valor agregado”, observa Ruiz.
A aquisição e implantação da nova unidade no Rio Grande do Norte é parte de uma iniciativa que também prevê a capacitação de recursos humanos do Senai para o desenvolvimento de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) na área. A iniciativa é financiada pelo Plano de Desenvolvimento de Competências (PDC) do Senai nacional, resultado de um projeto que envolve o ISI-ER e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI-BIO), do Rio de Janeiro, sob coordenação do Instituto Senai de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa), do Mato Grosso do Sul. A parceria inclui preparação de pessoal, incremento tecnológico das equipes e a própria implantação.