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A evolução do vírus PCV2

Genótipos PCV2b e PCV2d têm sido relatados com maior predominância no Brasil, prejudicando a rentabilidade e a produtividade das granjas.

Crédito: Dalvan Carlo Veit

O Circovírus suíno tipo 2 ou PCV2, como é mundialmente conhecido, apesar de pequeno, é o menor vírus de replicação livre conhecido entre todos os vertebrados, mas seus impactos podem ser enormes. Conhecido há mais de duas décadas, o PCV2 está envolvido com uma ampla gama de doenças e problemas de produção em suínos, principalmente na síndrome de definhamento multissistêmico pós-desmame (PMWS), síndrome da nefropatia por dermatite suína (PDNS) e problemas reprodutivos associados ao vírus. Na situação atual, sua atuação no complexo de doenças respiratórias suínas (PRDC) e na doença subclínica tem desafiado a sanidade e a lucratividade dos plantéis.

Outro ponto a salientar é a capacidade do PCV2 de envolver outros patógenos no desencadeamento do quadro clínico, destacando a natureza complexa e multifatorial da Doença Associada ao PCV2 (PCVAD). O vírus afeta o funcionamento do sistema imunológico dos suínos, e seus impactos imunomoduladores são observados tanto na patologia clínica quanto na exacerbação de outras doenças já presentes no rebanho. Alguns estudos também indicam que a infecção pelo PCV2 pode comprometer a resposta a outras vacinas.

A forma mais comum da doença causada pelo PCV2 é a subclínica, onde não há sinais clínicos claros, com mínimas lesões e moderada ou baixa quantidade de vírus presente, mas associada a perda de desempenho, como a redução no ganho de peso médio diário. De acordo com Alarcon et al. (2013), o custo da infecção subclínica do PCV2 é de 8,10 libras por suíno afetado, o que equivale a uma perda de R$ 58,60 por animal que chega ao abate.

As perdas causadas pela infecção subclínica nem sempre são evidentes, pois o crescimento dos suínos afetados, embora abaixo do potencial genético, pode ser percebido como “normal”, comprometendo a rentabilidade da produção. Utilizando as informações de Alarcon, se considerarmos um plantel de 1000 matrizes, onde 20% da produção é afetada pela infecção subclínica, as perdas anuais podem ultrapassar 45 mil libras, ou R$ 325,8 mil.

A definição de Alarcon et al. para casos subclínicos envolve suínos infectados com PCV2, que não apresentam PMWS clínica, mas possuem crescimento reduzido e maior susceptibilidade a coinfecções. A ocorrência de surtos e a doença subclínica em grande escala têm desafiado veterinários e pesquisadores, especialmente em suínos vacinados com vacinas compostas por PCV2a.

Estudos sobre a diversidade gênica do PCV2 sugerem o envolvimento de genótipos heterólogos em relação às vacinas aplicadas. Em um estudo de Gava et al. (2018), com 11 suínos de granjas do sul do Brasil com doença sistêmica de PCV2, foi identificada a presença de PCV2b (81,8%) e PCV2d (18,2%). Alterações de aminoácidos importantes para o reconhecimento de anticorpos foram encontradas na comparação entre as sequências, o que pode indicar uma ligação ineficiente de anticorpos, sendo um fator relevante nas falhas de proteção desses suínos.

Análises recentes mostram que até 25% das cepas de campo do PCV2 são recombinantes de diversos genótipos, o que reforça a importância de uma proteção ampla ao selecionar uma vacina contra o vírus. A recombinação ocorre quando dois vírus co-infectam uma célula e geram descendentes com frações de ambos os pais. De acordo com Franzo & Segalez (2018), até 2011 os genótipos PCV2a e PCV2b eram os mais relatados, mas desde 2014 o PCV2d passou a ser o mais prevalente globalmente.

No Brasil, um estudo de Nascimento et al. (2020) analisou 27 amostras clínicas coletadas em 2019 de rebanhos vacinados em cinco estados, que apresentavam sinais de doença associada ao PCV2 (PCVAD). Após o sequenciamento, 33,3% das amostras foram classificadas como PCV2b e 66,7% como PCV2d. A rápida evolução do PCV2, com uma alta porcentagem de vírus recombinantes, reforça a importância de uma ampla cobertura vacinal.

Um estudo comparou a cobertura antigênica de duas vacinas comerciais, avaliando sua eficácia contra cepas recombinantes de campo de PCV2. A primeira vacina, bivalente, contém PCV2a e PCV2b, enquanto a segunda contém apenas PCV2a. Através da análise EpiCC, que avalia a resposta imunológica baseada em epítopos de células T, a vacina bivalente apresentou uma cobertura 38% maior contra as cepas de campo predominantes, em comparação com a vacina contendo apenas PCV2a.

  • Dalvan Carlo Veit, médico veterinário, gerente técnico de Suínos da Zoetis
    ** 1,00 libras = 7,24 reais (Cambio de 31/07/2024)