RAFAEL ARMINIO ERIG, Médico Veterinário, Mestrando no Curso Tecnologia e Ambiente, Instituto Federal Catarinense
IVAN BIANCHI, MSc, Dr., Instituto Federal Catarinense
No Brasil o agronegócio contribui de forma expressiva na geração de emprego e renda, sendo a cadeia produtiva da suinocultura um dos importantes segmentos, constituindo-se em termos globais no quarto maior produtor e exportador. Em contrapartida essa atividade gera um passivo ambiental importante, devido ao grande volume diário de resíduos produzidos. Os principais desafios para a sustentabilidade do setor é destinação correta dos volumes diários de dejetos, animais mortos e restos dos abates frigoríficos. A administração dessa problemática está relacionada ao tratamento adequado, armazenamento e na destinação final.
A permanente discussão sobre a sustentabilidade dessa cadeia de produção está em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU) na agenda 2020-2030. Para isso é necessário o uso de tecnologia já existente e a evolução dessas de forma a mitigar o potencial poluente dos resíduos. Além disso, existem alternativas que permitem agregar valor ao dejeto gerado de forma a buscar uma economia circular.
O melhoramento genético permitiu a produção de mais carne com menos animais (descarbonização), sem a necessidade de aumentar o plantel de matrizes. Os resíduos tratados de forma correta evitam problemas no solo, nos recursos hídricos e no ar. Ainda, se empregado tecnologias apropriadas, os resíduos das cadeias de produção, tanto de aves como suínos, podem gerar renda através de fertilizantes, farinhas e gorduras para inclusão em rações e biogás.
A escolha do tratamento adequado dos depende do seu potencial poluidor, disponibilidade de área, qualificação dos colaboradores, funcionalidade do sistema, eficácia do processo, legislação vigente e custos operacionais. As alternativas para tratamento dos dejetos temos o uso dos processos de biodigestão aeróbica e anaeróbica. As mais usuais compreendem o uso das esterqueiras, cama sobrepostas, biodigestores, lagos de estabilização e compostagem simples e mecanizadas. Para tratamentos dos resíduos de abate além do emprego em compostagens e biodigestores, é possível agregar valor com a produção de farinhas e gorduras.
O emprego de biodigestores tem sido cada vez mais frequente, pois, é uma alternativa de pré-tratamento e reciclagem dos dejetos. O objetivo é estabilizar a matéria orgânica, reduzindo o nível de coliformes e agregando valor através da produção de biogás, eletricidade e biofertilizantes. O uso de biodigestores é um dos passos no tratamento de dejetos, porém, não é uma solução definitiva. O efluente que sai do biodigestor em muitas situações ainda não está estabilizado, necessitando de tratamento complementar antes do seu destino.
Um dos grandes desafios na temática que envolve sustentabilidade na suinocultura é o uso e reuso consciente dos recursos naturais, em especial a água. Cada vez mais a água é descrita como um recurso natural escasso. Devido à alta demanda de uso em todo processo agropecuário, o reaproveitamento da água na cadeia produtiva é tema central. Além da adoção de cisternas (obrigatoriedade para obtenção e renovação de licenças ambientais) e a adequação do manejo da granja com técnicas de redução do consumo de água, o reuso da água que compõem os dejetos suínos deverá ser prática cada vez mais presente na cadeia produtiva da suinocultura.
As possibilidades da destinação da água de reuso podem ser a limpeza das instalações, consumo dos animais e até mesmo para piscicultura, hidroponia ou simplesmente retornar para um corpo hídrico. É claro que para esses destinos há necessidade do adequado tratamento e aprovação de acordo com a legislação vigente. O destino dos sólidos oriundo da separação da fração líquida é adubação do solo, compostagem ou produção de biogás. Mesmo o dejeto suíno possuindo baixa porcentagem de sólidos, a associação de elevadas cargas orgânicas (compostos nitrogenados, fósforo e ferro), nutricionais (cobre e zinco) e patógenos de sua composição, tornam a separação da fração líquida desafiadora.
Nossa linha de trabalho de mestrado é o reuso da água do efluente do dejeto suíno que passou pelo biodigestor. O foco do trabalho é a separação de fases (frações líquida e sólida) do efluente. Inicialmente o dejeto é destinado para biodigestão anaeróbica. Nas etapas seguintes do processo, o material passa por digestão aeróbica, floculação/coagulação e clarificação (remoção lodo da fase líquida). Por final, a água de reuso vinda da clarificação do efluente, segue para desinfecção e avaliação microbiológica e físico-química, armazenamento e então o reuso.
Para essa separação necessitamos o emprego das técnicas de coagulação e floculação. Testes com produtos (coagulantes/floculantes) químicos e naturais são indispensáveis para obtenção de parâmetros aceitáveis de funcionalidade e custo/benefício. A performance dos processos de coagulação/floculação é afetada por vários fatores ambientais, incluindo pH, dosagens de coagulante/floculante, taxa de mistura, tempo de mistura, temperatura e as características físicas do material coagulante/floculante, incluindo densidade e tamanho das partículas. Os dejetos e resíduos por si só, sem o adequado tratamento e destino, constituem-se um grande problema. No entanto, se conseguirmos aproveitar todo o seu potencial e inclui-lo novamente no processo produtivo, além de mitigar os danos ambientais torna-se mais uma alternativa de emprego e renda, valorizando as cadeias de produção de alimentos de origem animal