As eleições presidenciais dos Estados Unidos, com Kamala Harris e Donald Trump na disputa, têm o potencial de influenciar a balança comercial agropecuária mundial, com impactos diretos e indiretos no Brasil. A posição dos candidatos sobre temas críticos como tarifas, protecionismo, sustentabilidade e mudanças climáticas revela as diferentes abordagens para o futuro das exportações norte-americanas e sua posição geopolítica, especialmente com a desaceleração da demanda chinesa por produtos agrícolas dos EUA.
A guerra comercial iniciada durante o governo Trump, que gerou tarifas sobre produtos agrícolas americanos, impulsionou a China a buscar novos fornecedores, especialmente no Brasil, que se consolidou como principal exportador de soja e milho para o gigante asiático. Atualmente, mais de 70% da soja importada pela China é brasileira, e, entre janeiro e agosto de 2024, o Brasil exportou 63,9 milhões de toneladas de soja para o país, segundo a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).
O real desvalorizado e o avanço logístico têm aumentado a competitividade brasileira, permitindo ao país fortalecer sua participação em mercados estratégicos, além de assumir a liderança na exportação de algodão.
De acordo com a S&P Global Commodities Insights, Kamala Harris visa conquistar o voto da economia rural americana, especialmente em estados cruciais, com um plano de diversificação das exportações e combate ao que considera práticas comerciais injustas. Com a meta de emissões líquidas zero até 2050, Harris propõe incentivos para a bioenergia e resiliência na cadeia de suprimentos, buscando atrair pequenos e médios agricultores.
Trump, por outro lado, mantém um discurso voltado ao protecionismo, com apoio a tarifas e políticas que priorizem a produção interna. Sua campanha promete reduzir regulamentações da EPA, aliviar restrições tarifárias e implementar cortes de impostos, com apoio declarado das associações de produtores de grãos e do setor pecuarista.
Analistas apontam que o setor agropecuário dos EUA está em um “ponto de inflexão” entre a expansão sustentável e a competitividade, com divergências nas políticas de preço, subsídios e abertura comercial. Para o Brasil, as políticas adotadas pelos candidatos podem representar um ponto de ajuste na disputa por mercados estratégicos.
A China, mercado de importância vital para produtos agrícolas americanos, tem intensificado as importações da América do Sul, principalmente soja e milho brasileiros, numa tentativa de reduzir a dependência dos EUA. Estima-se que, na safra 2023/24, as exportações americanas para a China representem 52,45% para soja e 10,98% para trigo. A continuidade de tarifas e sanções pode resultar em mais vantagens para o Brasil em um cenário onde Pequim busca fornecedores mais confiáveis.
Embora ambos os candidatos demonstrem interesse pelo setor de biocombustíveis, suas posições divergem na implementação de práticas sustentáveis e climáticas, elemento que pode impactar ainda mais a competitividade da agroindústria dos EUA e abrir novas oportunidades para o Brasil no cenário global.