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Sustentabilidade

Brasil: único país no mundo com o agro no mercado de carbono

O setor está deixando de ser alvo de críticas que o classificam como “vilão” do meio ambiente, para assumir o status de país redutor das emissões de CO2

Brasil: único país no mundo com o agro no mercado de carbono

A imagem do agro brasileiro no mundo está sendo fortalecida com a criação do mercado nacional regular de créditos de carbono. Nesse sentido, o setor está deixando de ser alvo de críticas que o classificam como “vilão” do meio ambiente, para assumir o status de país redutor das emissões de CO2, com potencial para absorver o carbono da atmosfera e transformá-lo em ativo ambiental. A afirmação é do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.

“O Brasil é o único país no mundo que tem o agro no mercado de carbono”, disse ele, ao participar de almoço oferecido pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Segundo o ministro, a utilização do carbono no processo de reestruturação dos solos, com fixação de matéria orgânica, além de melhorar a produtividade no campo, está fazendo com que a agricultura convencional brasileira seja a mais regenerativa do mundo, e com a garantia de preservação ambiental.

“A agricultura pode ser responsável por absorver cerca de 40% dos gases do efeito estufa na atmosfera, aumentando a produtividade. Outros países, ao perceberem esse processo, começam a se interessar pela compra de créditos de carbono”, afirmou Joaquim, lembrando que em um futuro próximo até mesmo os veículos poderão absorver carbono. “Hoje já existe tecnologia que transforma em hidrogênio o etanol que abastece os veículos. Esse hidrogênio, por sua vez, vai gerar energia que, ao entrar em contato com o oxigênio, transmite eletricidade para os motores”.

Economia verde

Durante o encontro na SNA, o ministro destacou sua preocupação em mostrar “o Brasil das energias verdes” na COP 27 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, no Egito). Ele ressaltou que o governo decidiu mudar a forma de trabalhar a questão ambiental, saindo de um modelo baseado em “multar e achar culpados”, para uma atuação efetiva junto ao setor privado, a fim de criar uma nova economia verde onde a agricultura está inserida.

Nesse contexto, lembrou dos recentes avanços nos setores de energia eólica, solar e da biomassa. “Podemos ser o país exportador de energia verde, e o crédito de carbono pode complementar esse processo, trazendo a viabilidade econômica imediata”, disse.

Desafio

O presidente da SNA, Antonio Alvarenga, comentou sobre a iniciativa do governo do Rio de Janeiro em implementar uma plataforma para a negociação de ativos de carbono, “que poderá trazer muitos recursos para o Brasil”, e falou sobre a necessidade de se combater as fake news ambientais. “Nosso desafio é mostrar isso ao mundo, que a agricultura preserva o meio ambiente. Há muitas pessoas que gostam de detratar o Brasil no exterior. Temos um futuro muito promissor do agro casado com o meio ambiente”, disse.

Joaquim, por sua vez, ressaltou a proximidade da Sociedade Nacional de Agricultura com as pautas ambientais e propôs a inclusão de startups verdes no âmbito do novo Hub de agtechs e edutechs que a SNA lançará no próximo dia 10 de novembro. “Tudo que se faz na agricultura, se for bem mensurado, poderá gerar ativo ambiental. Hoje não se produz nada no País se alguém não estiver cuidando da floresta, e isso é algo único no mundo. Temos de fazer desse aspecto um diferencial. Com isso, vamos virar o jogo”.

Setor privado

Para o ministro, a tecnologia é o que garante a produção no cenário ambiental. “Trazer um adicional de mata nativa de cada bioma para a produção agrícola vai fazer com que o consumidor tenha a consciência de que está comprando do Brasil porque o país protege as florestas. É preciso mostrar no exterior a origem de nossos produtos”. Nesse sentido, complementou Joaquim, “é a empresa brasileira que vai mostrar no exterior que somos um país verde e agrosustentável”.

O ministro disse ainda que, por meio de leis, decretos e portarias, o financiamento climático também chegará ao setor privado. “Abrimos a política do governo federal para o financiamento climático de usinas de biogás e biometano e investimentos em hidrogênio verde, energias renováveis e renovação de frota”.

Critérios

Participando do almoço na SNA, o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros, pontuou que “existe má vontade internacional quanto à possibilidade de o Brasil se tornar o protagonista mundial do agronegócio”. Segundo ele, “é preciso impor nossa vontade, mas obedecendo certos critérios de preservação para não criar dificuldades na área ambiental”.

Na área de padronização e normatização, o deputado federal Júlio Lopes anunciou que a ISO Brasil, entidade integrante da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), propôs à ISO internacional a criação de uma medida-padrão para o desmatamento.

Rio de Janeiro

Os projetos e propostas ambientais no âmbito do Estado do Rio também mereceram destaque durante o encontro na SNA. Paulo Renato Marques, presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), pediu uma atenção maior do governo federal para a recuperação de terras ociosas e o fomento de outras cadeias produtivas, entre elas, a da bovinocultura. “Precisamos trazer para o estado indústrias de processamento de carne”, disse.

“É muito importante que o agro no Rio ande de braços dados com o meio ambiente. Temos potencial de dobrar o contingente de pessoas que trabalham no campo. Vamos investir em agroflorestas e novas culturas. Precisamos ter um agro mais significativo”, concluiu Marques.

O diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, Sérgio Malta, sugeriu uma parceria entre a SNA, a CNC e a Associação Comercial do Rio (ACRJ) para a criação da Câmara de Comércio do Crédito de Carbono. A proposta ganhou o apoio de Paulo Protásio, também diretor da SNA, que, ao comentar sobre os sinais de avanço na economia do estado, defendeu a realização, na cidade do Rio, da reunião do G-20, programada para 2024.

O ex-ministro Márcio Fortes ressaltou papel ativo do Rio no mercado de carbono e nos setores de gestão de resíduos e de energias renováveis, e defendeu melhorias na área de licenciamento ambiental.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio (Fecomércio), Antonio Queiroz, destacou o trabalho da entidade focado na política nacional de resíduos e anunciou a construção de três usinas fotovoltaicas para o fornecimento de energia em unidades do Sesc e do Senac no estado.

Presenças

Também estiveram presentes ao almoço na SNA, entre outros, os deputados federais Marcelo Queiroz e Hugo Leal; o presidente da ACRJ, José Antonio do Nascimento Brito; os empresários Creston Fernandes, Cláudio Pereira e Angela Costa; o presidente da Funcex,  Antonio Carlos Pinheiro; o economista Roberto Fendt; os vice-presidentes da SNA, Hélio Sirimarco e Tito Ryff; os diretores da instituição Antonio Freitas, Francisco Villela, Rui Barreto, José Augusto de Castro, Jorge Ávila, Sylvia Wachsner, Thomás Tosta de Sá e Rui Otávio Andrade, e a editora da revista A Lavoura, Cristina Baran.