O número de startups do agronegócio continua em expansão no Brasil, apesar dos resquícios da pandemia e do momento turbulento na economia, que afetou o desempenho e o surgimento dessas empresas em outros setores. O total de agtechs ativas no país chegou a 1.703 na temporada 2021/22, 8,2% mais que em 2020/21 (1.574), de acordo com a nova edição do Radar Agtech Brasil 2022, produzido por Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens.
Na esteira das mudanças nos hábitos de produção e consumo decorrentes da crise da covid-19, a maior parte das agtechs brasileiras desenvolvem soluções para resolver problemas “depois da porteira”, principalmente com alimentos inovadores e novas tendências alimentares. São 756 empresas nessa modalidade, ou 44,4% do total.
Os investimentos globais em startups do setor agropecuário que trabalham com tecnologia aplicada a alimentos “depois das fazendas”, as agfoodtechs, chegaram a US$ 51,7 bilhões em 2021, segundo dados do Radar Agtech e da Agfunder, valor 85% superior ao de 2020 (US$ 27,8 bilhões).
No Brasil, os investimentos recebidos pelas agtechs antes, dentro e depois da porteira também têm crescido em ritmo acelerado. No primeiro semestre de 2022, as startups brasileiras do agro receberam US$ 122,9 milhões, quase o mesmo valor de todo ano de 2021, quando foram investidos US$ 125,9 milhões. Esse cenário, influenciado pelo ambiente mais propício ao empreendedorismo, com a aprovação de algumas regulamentações, torna 2022 o ano “mais próspero” da série histórica em volume de investimentos – apesar da instabilidade na economia e das taxas de juros elevadas.
Apenas Acre, Alagoas e Rondônia ainda não têm nenhuma agtech, e 87% das empresas continuam concentradas nas regiões Sudeste e Sul. São Paulo tem 800 startups do agronegócio, 47% do total no país, e acompanha a tendência nacional com 385 empreendimentos focados em soluções “depois da fazenda” – 154 deles dedicados a alimentos inovadores. Paraná (176), Minas (154), Rio Grande do Sul (133) e Santa Catarina (128) vêm na sequência. O Radar Agtech mostrou que a Embrapa interage com 42 hubs de inovação regionais espalhados pelo Brasil, com potencial de ampliar as soluções tecnológicas geradas pela pesquisa agropecuária e levá-las mais rapidamente ao mercado.
Das 1.703 agtechs catalogadas, 242 atuam “antes da fazenda”, em áreas como crédito rural, seguro e créditos de carbono (61 empresas) e fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal (53 empresas). Outras 705 startups oferecem soluções para “dentro da fazenda”, principalmente com sistema de gestão da propriedade rural (173 empresas) e plataforma integradora de sistemas/bases de dados (122 empresas).
São 756 agtechs atuando “depois da fazenda”, a maioria (281) com alimentos inovadores e novas tendências alimentares e 123 empresas com marketplaces e plataformas de negociação e venda de produtos agropecuários. Segundo o estudo, o crescimento dessas categorias ganhou força com a pandemia, quando ocorreram mudanças significativas nos hábitos dos consumidores.
As principais tendências globais de investimentos para os próximos anos são os mercados de insumos biológicos, agfintechs, marketplace para o agronegócio e climatechs. Nesta edição, o Radar Agtech também mapeou a atuação feminina no mercado de inovação do agronegócio. No Brasil, menos de 30% das startups são comandadas por mulheres: 520 das 1.703 catalogadas.
São 407 empresas com apenas uma sócia, ou 78% do total. Já 93 agtechs (18%) têm duas sócias e apenas 20 empresas (4%) têm três sócias ou mais. A presença é mais nos empreendimentos que atuam no segmento “depois da fazenda”.