Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado hoje na “Nature Communications” revela que a bactéria causadora do cancro cítrico realiza processos biológicos que podem ser aproveitados na fabricação de produtos a partir de biomassa. A pesquisa foi realizada ao longo de cinco anos pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em parceria com pesquisadores da USP e da Unicamp, com apoio da Fapesp.
De acordo com os pesquisadores, a bactéria Xanthomonas mobiliza uma classe de enzimas que até então era desconhecida. Essas enzimas têm uma capacidade excepcional de atuar nas ligações químicas e degradar o xiloglucano, um dos mais complexos carboidratos da parede celular das plantas.
Atualmente, a Xanthomonas é, na agricultura, sinônimo de prejuízo aos produtores de citros e tornou-se endêmico no Estado de São Paulo. A doença está presente em 17% dos pomares do cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro, de acordo com o último levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que é mantido por produtores de laranja e indústrias de suco.
Ao compreender o modus operandi da bactéria, porém, os cientistas abrem caminho para seu uso em processos industriais de produtos que podem substituir materiais de origem fóssil, como o etanol feito a partir da celulose presente no bagaço e na palha da cana (celulósico, ou de segunda geração).
“Essas descobertas nos fornecem novas alternativas para aumentar a capacidade de utilização de biomassa vegetal em biorrefinarias, que são muito valiosas do ponto de vista biotecnológico”, afirmou Mario Murakami, coordenador da pesquisa e diretor científico do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), pertencente ao CNPEM.
Segundo Murakami, o estudo também pode “colaborar com o desenvolvimento de novas estratégias de combate” ao cancro cítrico, já que agora se sabe novos componentes de atuação da bactéria.