A economia em toda a América Latina sofreu um duro golpe com a pandemia causada pelo novo Coronavírus. A região já experimentava um crescimento aquém do esperado nos últimos cinco anos, motivado principalmente pelos menores patamares de preços da commodities, o maior motor das exportações latino-americanas. As desigualdades sociais, acompanhadas ainda pelos reflexos da crise econômica mundial de 2008, levou muitos países a registrarem protestos em massa de suas populações. As famílias viram suas rendas decaírem e a ascensão a classe média sofreu um forte recuo nestes últimos anos. Muitas famílias retornaram a seus patamares econômicos anteriores; muitas nem isso.
O Banco Mundial apontou um crescimento médio pífio da América Latina e Caribe em 2019, que fechou em 1,7%. Os resultados da região têm forte influência dos desempenhos econômicos de Argentina, Brasil e México. E ambas vêm registrando desacelerações ou quedas ao longo dos últimos anos. Junte-se a todo este cenário, o recente colapso nos preços do petróleo ocorridos neste ano e a forte disseminação do SARS-CoV-2 por toda a América Latina, com maior intensidade em alguns países. Entre eles, o Brasil e o México, tendo a Argentina estabelecido um melhor controle dos casos.
Uma previsão do Banco Mundial, feita em abril deste ano, indica um PIB negativo de 4,6% para a América Latina e Caribe, ressaltando que esta média não inclui a economia venezuelana. Os dois próximos anos apontam melhora, mesmo assim, com baixo crescimento médio. No caso brasileiro, a estimativa do Banco Mundial é de um PIB de -5% em 2020, projetando aumentos pouco significativos em 2021 e 2022, respectivamente, 1,5% e 2,3%.
Quando olhamos diretamente para o agronegócio brasileiro, o cenário se mostra diferente. As exportações agro do país ganharam força – mesmo diante do cenário de pandemia – e tendem a crescer mais. Há necessidade de alimentos no mundo, e o Brasil é um dos principais produtores e fornecedores, tendo uma produção estruturada e com base tecnológica, além de mercados abertos para os seus produtos, principalmente na Ásia.
No entanto, a Covid-19 é uma questão de saúde pública mundial, com alto impacto na atividade econômica devido a sua rápida transmissão aliada a poucas alternativas eficazes de controle. As principais, o isolamento e o distanciamento social. É algo devastador para os sistemas de saúde dos países, que entram em colapso frente a enormidade de casos graves. Os países que adotaram medidas com base científica, encarando o problema com seriedade, informando e orientando corretamente sua população tendem a superar mais rapidamente esta situação. Infelizmente, este não tem sido o caso brasileiro, que vive um caos político e um governo pouco afeito à Ciência. Os setores modernos do agronegócio têm de estar atentos a isto em relação a seu futuro. O mundo precisa de alimento, mas para que as exportações sigam avançando, é preciso que o país exportador tenha credibilidade em todas as áreas e saiba se sentar à mesa para discutir desafios e implementar soluções. O que não parece ser característica do atual governo brasileiro.
Humberto Luis Marques
Editor Avicultura Industrial