O economista-chefe do Rabobank, Maurício Oreng, traçou um panorama sobre a economia global e um diagnóstico sobre brasileira na abertura do XVII Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (SNDS), que ocorre até a próxima sexta-feira, no Hotel Tauá, em Atibaia (SP).
A 17° edição do encontro bianual é organizada pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) em parceria com a Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), com apoio do Sebrae Nacional.
O especialista considerou que, apesar das indefinições externas, como a política econômica do governo Trump nos Estados Unidos, as principais preocupações são mesmo do mercado interno e da crise política.
Segundo ele, o mercado está revendo a expectativa de crescimento da economia americana. “O governo Trump, com muitos problemas políticos internos, não conseguiu implementar as políticas que poderiam de estímulo à indústria americana”, disse.
A balança comercial Brasil-EUA representa apenas 1,3% do PIB nacional e apenas 13% do total das nossa exportação. Ou seja, o possível protecionismo do Trump não vai nos matar. “O risco maior seria ele entrar em uma guerra comercial com a China que é nosso principal parceiro e investidor”, apontou.
Oreng lembra que o Brasil tem baixo nível de poupança interna e, assim, precisa do financiamento externo. Por isso, a política de juros dos Estados Unidos, definida pelo FED (Federal Reserve), impacta nos investimentos externos.
“Eles sinalizam aumento da taxa, mas acreditamos em um ritmo lento, o que mantém o custo de financiamento e não prejudica o mercado brasileiro”, explicou.
Sobre a China, o Rabobank tem uma visão negativa, no sentido de redução no ritmo de crescimento. Caso confirmado, este quadro seria desfavorável ao Brasil, uma vez que boa parte das exportações brasileiras ao país asiático estão ligadas ao ritmo de crescimento chinês.
“A China tem um problema inverso ao brasileiro, alto investimento e baixo aumento da demanda. Isso pode ser ruim para o Brasil, pois é um modelo que aponta para a diminuição do ritmo de evolução da economia chinesa”, analisou.
Mercado interno
Sobre a economia brasileira, o economista-chefe do Rabobank Brasil prevê uma estabilização do PIB em 2017, apesar do último triênio mostrar ligeira melhoria. “Se contarmos os últimos três ou quatro anos, tivemos a maior queda do PIB da história. Nem países parecidos com o nosso não tiveram algo parecido, pelo contrário, continuaram crescendo”, constatou.
Segundo Oreng, o Brasil precisa urgentemente de reformas fiscal, previdenciária e trabalhista. “É indispensável um ajuste fiscal, ainda que gradual, pois as despesas do governo são pesadas demais. Temos que cortar gastos e, também, fazer reformas da previdência e trabalhista”, afirmou.
A crise política é apontada como um fator de indefinição neste quadro. De acordo com ele, a base política para aprovação destas modernizações no Congresso diminuiu depois das denúncias envolvendo o Presidente da República.
“As chances de aprovar a reforma trabalhista, por exemplo, caiu de 80% para 50%. Esta indefinição nos próximos meses e, talvez em 2018, é ruim. Ainda assim, temos uma posição de contas internas muito boa, bastante diferente das de 2014 e 2015”, avaliou.
O déficit de 4,5% do PIB de dois anos atrás e caiu para 1%, investimento estrangeiro direto cobre mais de quatro vezes este valos, a taxa Selic vai continuar caindo (talvez 8,5 ao final do ano), o dólar deve oscilar entre R$ 3,10 e R$ 3,25, a inflação está baixa e o governo ainda tem reservas cambiais.
Para o especialista, a economia está em um processo de estabilização, sem crescimento da dívida pública e, com isso, o consumo começa a melhorar. “O índice do Banco Central está fraco mas pelo menos não está caindo e isso, hoje, é boa notícia”, classificou.
Para finalizar, o palestrante afirmou que a economia brasileira não tem recuperação sem reformas fiscais, especialmente da previdência. “A incerteza política reduz a visibilidade, mas as reformas vão passar mais cedo ou mais tarde. Com elas, o Brasil pode crescer 2% ao ano em longo prazo”, concluiu.
Nova diretoria da ABCS
A nova diretoria da ABCS foi empossada na noite de ontem, durante a abertura do XVII SNDS, e responderá pela associação no biênio 2017-2019. O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, discursou e ressaltou as conquistas dos últimos anos e alertou sobre a importância da união dos suinocultores para os próximos desafios setor.
“Nos transformamos em entidade de referência nacional pelo trabalho realizado e pelo apoio dos suinocultores, entidades, indústrias e parceiros. Neste mesmo momento desenvolvemos ações importantes com entidades nacionais e internacionais. Tenho profundo orgulho de conduzir esta história de sucesso e grande honra de representar um setor de pessoas tão apaixonadas pela suinocultura”, discursou.
A nova diretoria da ABCS para o biênio 2017-2019 tem os seguintes integrantes no Conselho de Administração: Marcelo Lopes (presidente), Paulo Lucion (financeiro), Olinto Arruda (técnico), Valdecir Folador (relações de mercado) e joão leite (administrativo).
APCS, 50 anos
A primeira noite do XVII SNDS foi encerrada com um jantar comemorativo pelos 50 anos da Associação Paulista dos Criadores de Suínos, oferecido pela entidade estadual.
O presidente da APCS, Valdomiro Ferreira Jr., comentou estar honrado em receber lideranças do setor e suinocultores do país inteiro e ressaltou a escolha por realizar o evento, apesar do momento para o segmento.
“É o agronegócio quem está salvando o país. Vivemos um momento muito difícil, cuja palavra chave é a incerteza. Mas é da incerteza que encontraremos a solução. A APCS tem 50 anos de lutas e conquistas e, em conjunto com todo o agro, vamos reconstruir este país. Nós somos a solução para o país”, afirmou.