Entre janeiro e junho de 2017, as usinas de microgeração distribuída registradas na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) saltaram de 7.658 para 12.340. A potência total instalada é de 139.993,07 KW, sendo 98% por geração fotovoltaica. O sistema permite que o consumidor gere energia por fonte renovável e, conectado à rede de distribuição, receba créditos nos meses em que sua produção supera o consumo.
A expectativa é que as usinas de microgeração cheguem perto de 20 mil em dezembro, informa Nelson Colaferro, fundador da consultoria Blue Sol e presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “O consumidor ainda está conhecendo o sistema, testando, nos próximos anos a microgeração distribuída vai crescer em velocidade acelerada”, diz. A projeção da Aneel é que 1,2 milhão de consumidores produzam sua própria energia em 2024, com 4,5 GW de potência instalada.
Segundo Colaferro, boa parte desse crescimento será resultado da Resolução 687 da Aneel, publicada em março do ano passado, que criou três novas modalidades de microgeração distribuída. Até então, apenas a própria unidade de consumo, uma casa por exemplo, podia gerar e receber crédito. Uma nova modalidade é a de condomínios residenciais e comerciais. Outra é a geração compartilhada, que permite a associação de diferentes consumidores por meio de cooperativas e consórcios.
A terceira nova modalidade é a de autoconsumo remoto, onde a geração está em local diferente das unidades consumidoras que fazem uso dos créditos gerados. Permite, por exemplo, uma empresa instalar um parque gerador e abastecer todas suas filiais conectadas por uma mesma concessionária de energia.
O autoconsumo remoto é a nova modalidade que mais cresce. Já são 846 microgeradores listados na Aneel, gerando crédito para 2.209 unidades de consumo. O Banco Itaú planeja construir um parque gerador em Belo Horizonte para atender 150 agências locais. A rede de farmácias Pague Menos já abastece seu centro de distribuição e 38 lojas no Ceará. Até 2019, planeja conectar todas suas 1.005 lojas pelo sistema, gerando uma economia na conta de energia da rede de R$ 11 milhões por ano.
Em Ribeirão Preto (SP), o grupo agropecuário Beabisa investiu R$ 163 mil em fevereiro para cobrir o curral para 300 cabeças de gado da fazenda Rio da Mata com placas fotovoltaicas com potencial instalado de 25 KWp, suficiente para cobrir 90% de um custo de energia mensal de R$ 3,2 mil, envolvendo os gastos na própria fazenda, onde há três casas de trabalhadores, no escritório da empresa na cidade, e também os gastos do apartamento dos proprietários. “Os equipamentos possuem vida útil de 25 anos. Em menos de sete anos, vamos obter o retorno do investimento. Depois é lucro”, diz Rodolfo Biagi, diretor da Beabisa.
Entre as novas modalidades de microgeração distribuída, as que envolvem condomínios ainda não deslancharam. Em junho, havia apenas um sistema registrado na Aneel. Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, diz que a regulamentação é atraente, uma vez que o consumo de energia elétrica na área comum dos prédios residenciais responde por entre 10% e 12% das despesas de condomínio. Uma usina com grande capacidade também pode gerar descontos nas contas individuais dos condôminos.
Gebara observa, porém, que nos empreendimentos já construídos raramente há espaço para instalações fotovoltaicas. “Acredito que será uma tendência forte entre os novos empreendimentos, que já serão projetados para receber os equipamentos”, diz. Segundo Gebara, é perceptível o interesse das incorporadoras, uma vez que a geração própria de energia pode se transformar em um diferencial para a comercialização dos prédios.
A construtora MRV saiu na frente. Em 2017 a empresa lançará 17 mil imóveis em 34 condomínios dotados de infraestrutura capaz de gerar energia solar para as áreas comuns dos empreendimentos. A empresa também desenvolve um plano piloto em um condomínio de 440 apartamentos no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, com infraestrutura fotovoltaica com 500 KW de potência. “A ideia é zerar a conta elétrica de todas as residências”, diz o diretor comercial Rodrigo Resende.
A usina solar acrescenta um custo de R$ 5 mil em cada imóvel, que tem preço final de R$ 190 mil. Mas o acréscimo também é incorporado ao financiamento atrelado ao programa Minha Casa Minha Vida, que será pago em 360 meses. O morador fica livre de uma conta de energia mensal média de R$ 150 por 25 anos.