A conversão da economia chinesa de um modelo baseado no investimento e na produção industrial para ser centrada no crescimento do consumo interno traz turbulências no curto e médio prazos para o Brasil, mas tende a abrir outras oportunidades nos próximos anos, principalmente para o agronegócio. Como reflexo da desaceleração do maior parceiro comercial brasileiro, no ano passado o país exportou o equivalente a US$ 35,6 bilhões para a China, 12% a menos do que 2014 e 23% abaixo dos embarques de 2013.
Uma das principais causas é a queda na demanda – e no preço – do minério de ferro devido à menor produção de aço na China. A tonelada, hoje na casa dos US$ 40, era cotada a mais de US$ 100 um ano e meio atrás. Apesar de existirem mais razões, como aumento da oferta pelos países ligados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para inviabilizar o shale oil (óleo de xisto) americano, outra consequência é a queda do preço do petróleo.
– O próprio governo (brasileiro) depende muito dos royalties do petróleo e não há expectativa de voltar aos preços anteriores. O mesmo vale para o minério de ferro, em que a China é o maior consumidor mundial – observa Wagner Salaverry, sócio-diretor da Quantitas.
A guinada do país asiático para o consumo, porém, terá o poder de abrir uma grande oportunidade para o Brasil nos setores de grãos e carnes, garante Roberto Dumas Damas, especialista em economia chinesa do Insper.
– A renda do trabalhador chinês vai crescer, e a primeira coisa que ele vai fazer é comprar mais alimentos. Outro setor que naturalmente vai se beneficiar é o de celulose, com um consumo maior de papel para higiene e outros fins – diz Damas.
Na proteína animal, o Brasil recém começa a colher os resultados da maior abertura do mercado chinês. As exportações de carnes para o país asiático dobraram em relação a 2014 e fecharam o ano passado em cerca de US$ 1 bilhão.
Sem o empurrão da economia internacional, enquanto os impactos da transição chinesa no Brasil são mais negativos do que positivos, resta ao país tentar recolocar as contas em dia, controlar gastos e fazer reformas estruturantes para reverter o pessimismo, avalia Salaverry.
– O governo precisa fazer o ajuste fiscal e controlar a inflação. Sem confiança, as pessoas não voltam a consumir, e os empresários não investem – alerta o sócio-diretor da Quantitas.
Os números
Na última rodada de coleta feita em 2015, economistas consultados pelo Banco Central projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) cairá em 2016 2,95% A estimativa de inflação medida pelo IPCA neste ano é de 6,86% . Para o dólar no fim de dezembro próximo, a cotação esperada é de R$ 4,21