Por Ricardo Ernesto Rose*
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de biodiesel, produzindo cerca de quatro bilhões de litros anuais. O produto é produzido a partir de óleos vegetais, derivados da soja, do milho, do babaçu, do amendoim da mamona e do pinhão manso. Este último é uma planta originária na Índia, cultivada especialmente para extração de óleo vegetal combustível não comestível. Outra fonte para extração de óleos e graxas destinados à fabricação de biodiesel são as gorduras de animais de abate e as vísceras de peixes. Também existem experiências de produção de biodiesel a partir de outras fontes orgânicas, como algas e bactérias, mas a custos ainda bastante elevados.
A maior parte do biodiesel fabricado no Brasil tem origem no óleo de soja. Trata-se de um processo bastante simples: ao óleo vegetal é adicionado um álcool (etanol, por exemplo) e um catalisador (como a soda cáustica). O resultado é a produção de biodiesel e glicerina, feita por cerca de 70 usinas espalhadas pelas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste. O biodiesel, biocombustível renovável e ecologicamente correto, é vendido às refinarias de combustível através de leilões organizados pelo governo. As refinarias, por sua vez, adicionam o biodiesel ao diesel de petróleo, na proporção de 7%; mistura denominada B7. O governo autorizou o aumento desta mistura até 20%, em casos específicos e de forma voluntária. Estimam os especialistas do setor de que nos próximos dois anos a mistura deverá aumentar de B7 para B10, o que deverá trazer maior economia de divisas, já que 10% do óleo diesel consumido no país é ainda importado. Somente com a implantação do B7 o Brasil já economiza cerca de 800 milhões de dólares por ano.
O consumo do óleo diesel vem caindo ao longo de 2015 em função da crise econômica. A redução do consumo fez cair a movimentação de matérias primas e produtos, feita principalmente através do transporte rodoviário. No entanto, apesar da recessão, a União Brasileira do Biodiesel e da Bioquerosene (Ubrabio) estima que o setor esteja gerando 1,3 milhão de empregos em toda a cadeia produtiva, do campo aos postos de combustível, além de incorporar milhares de pequenos agricultores ao sistema produtivo.
Outro aspecto importante do uso do biodiesel junto com o óleo mineral é a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), causadores do aquecimento da atmosfera. O biodiesel é produto derivado de plantas, que em seu crescimento incorporaram CO² (dióxido de carbono), um dos GEE. Deste modo, sua queima não injeta novos volumes de GEE na atmosfera, como ocorre quando se queima óleos derivados do petróleo.
A redução das emissões dos GEE será tema cada vez mais importante em todos os fóruns mundiais; sejam eles voltados aos temas ambientais ou econômicos. Já é bastante conhecido e divulgado o impacto que as mudanças climáticas causarão nas economias dos países, por isso está em andamento um grande esforço em minorá-las.
Neste contexto é cada vez mais importante o uso de biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol, aliados à geração de energia de fontes renováveis, como o vento, o sol, a água e a biomassa. Assim, o petróleo torna-se cada vez mais um dos grandes vilões do clima, forçando o país a reavaliar o volume de investimentos para o programa do Pré-Sal e aqueles que deveriam ser feitos na expansão do uso do biodiesel e do etanol.
(*) Consultor, jornalista e autor, com especialização em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor dos blogues “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com) e “Considerações oportunas” (www.consideracoes-oportunas.com.br). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br