Num esforço para reduzir os impactos das mudanças climáticas sobre a agropecuária, um dos setores da economia mais sensíveis ao clima, pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) estão aperfeiçoando a modelagem agrometeorológica para aprofundar o conhecimento científico sobre a relação entre a produtividade ou o desenvolvimento de culturas agrícolas e as variáveis do clima.
As projeções feitas pelo Cemaden já dão como certa a transferência de culturas tradicionais para outras regiões nos próximos 40 anos por causa do aumento da temperatura. Um exemplo é o café, cujo cultivo é feito sob o clima temperado de Minas Gerais e de São Paulo. Entretanto, a elevação da temperatura nesses estados pode fazer com que a cultura cafeeira migre para regiões mais ao sul, em busca de um clima mais adequado ao seu desenvolvimento.
“Nos próximos 40 anos, pode haver um aumento da temperatura em Minas e em São Paulo, que podem ter um impacto significativo na produção de café. Se isso se confirmar, aumenta consideravelmente o risco de colapso de safras e podemos chegar a um quadro em que será mais seguro plantar na região Sul do que no Sudeste, com base no zoneamento climático”, explicou o especialista em modelagem agrometeorológica do Cemaden Marcelo Zeri.
Os climatologistas do Cemaden também trabalham no desenvolvimento de uma plataforma digital capaz de prever episódios de veranico – fenômeno caracterizado por alguns dias de seca durante a estação chuvosa – com até quatro semanas de antecedência. Segundo Marcelo Zeri, a ferramenta pode servir para auxiliar no planejamento dos agricultores.
“Se nós emitirmos alertas antecipados de episódios de veranico, o produtor rural pode se precaver. Se ele tiver acesso a sistemas de irrigação, pode acioná-los sem a preocupação de fornecer uma quantidade maior de água às plantas ou, então, antecipar a colheita. Essa é uma informação a mais para ajudar o produtor a se planejar”, afirmou Zeri.
As contribuições da ciência para a produção de alimentos e a segurança alimentar serão discutidas durante a 13ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) que o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) realiza entre 17 e 23 de outubro em todo o país.
Biotecnologia
As mudanças no clima também preocupam a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da instituição, Ladislau Martin Neto, variações de temperatura, por exemplo, podem decretar a perda de safras inteiras.
“Muitas vezes, o aumento da temperatura média é pequeno, mas é grande nos extremos máximos e mínimos. Esses dados são cruciais e, por conta dessa grande variação nos extremos, o vegetal morre. Conhecermos as condições climáticas e termos espécies mais resistentes são fundamentais para a agricultura brasileira”, disse.
Por isso, a Embrapa trabalha para desenvolver espécies com maior capacidade de adaptação ao aumento da temperatura, longos períodos de estiagem e inundações. Em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o objetivo é produzir espécies vegetais mais resistentes às intempéries.
“Nós batizamos essa iniciativa de unidades mistas de pesquisa. A premissa é utilizarmos recursos humanos da instituição parceira para gerar produtos com grau de complexidade maior e que é a exigência atual do mercado. São parcerias para o desenvolvimento conjunto”, explicou Martin Neto. “Com a Unicamp, trabalhamos com biotecnologia para mudanças climáticas. Temos o objetivo de criar espécies que possam resistir melhor a secas e inundações. É uma linha de produção para gerar ativos de inovação”, completou.
Outro braço das unidades de pesquisa mistas está na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde máquinas e equipamentos mais eficientes estão sendo desenvolvidos, inclusive com a incorporação da Internet das Coisas (IoT) para otimizar o trabalho do produtor rural.
“A questão da automação vai desde o uso de drones para agricultura até o desenvolvimento de máquinas e equipamentos mais avançados na linha da agricultura de precisão, com agenda de uso mais eficiente dos insumos e da água, que é um fator fundamental para o desenvolvimento do agronegócio”, afirmou o diretor da Embrapa.