O crescimento das exportações para da União Europeia levou a elevação dos preços do suíno no primeiro semestre de 2016. A questão é se essa recuperação econômica é estrutural. Mesmo agora as margens estão pouco acima. Se os anos rentáveis esperados pelo setor estão por vir, isso depende de muitos fatores, especialmente externos, sem muita influência direta na suinocultura. Depender das oportunidades de exportação dos países do terceiro mundo, no entanto, é muito arriscado.
A quantidade total da produção mundial de carne de porco chega a 110 milhões de toneladas por ano, sendo que 20% é produzida na União Europeia. Menos que 10% da produção mundial é comercializada entre os blocos comerciais (como União Europeia, China e EUA). O restante é consumido internamente. No entanto, dentro do comércio mundial a União Europeia é um importante mercado, com 65% de Market Share. Sendo que apenas uma parte da produção do bloco europeu é destinada a exportação.
Independência
A independência da união europeia em relação a carcaça correspondeu a 112% em 2015. Esse valor apresentou aumento considerável, tendo em vista que chegou a 106% em 2009. A exportação de carnes dobrou neste período. Os miúdos, no entanto, que são dificilmente consumidos na Europa são muito populares em países como a China. A independência europeia nos primeiros meses de 2016 alcançou 119%, registrando crescimento quando comparado ao primeiro semestre de 2015, quando alcançou 114%. Esse aumento é resultado pelo crescimento da produção e pela queda do consumo.
A redução nos anos antes de 2013 se deu provavelmente pelas obrigações do grupo. Em 2012 e 2013, o preço do mercado de suínos para abate não foi tão ruim, o que é lógico dado à redução da oferta do produto. Dessa forma não houve força do mercado para reduzir ainda mais os números. Com registro da mesma quantidade de porcas e aumento no número de leitões por porca, a produção suína aumentou e dessa forma também a de carne de porco. Como não existe nenhuma oferta de produção ou mecanismo de controle da quantidade de porcas na EU, a redução acontece após um período de baixa nos preços e na rentabilidade. A última redução foi registrada entre 2015 e 2016, em consequência da baixa econômica dos anos de 2014 e 2015.
Proibição Russa
A União Europeia está exportando carne de porco para mais de 100 países em todo o mundo. Até o mês de fevereiro de 2014, a Rússia foi um importante parceiro do bloco, com cerca de 25% das exportações europeias. No entanto esse mercado foi fechado devido a um surto de peste suína Africana registrada ao longo da fronteira oriental da EU e também em razão da proibição política após a guerra da Crimeia. Porém, a proibição russa não é a principal razão da dos preços baixos registrados desde o verão de 2014 até a primavera de 2016, mas sim a crescente produção de carne de porco no bloco.
Mercado Chinês
O crescimento firme dos preços desde 2016 foi causado devido um inesperado aumento de demanda vinda da China. Um grande número de porcas foram retiradas de produção na China, após anos sem rentabilidade e, algumas fazendas que não estavam em conformidade com a legislação chinesa foram fechadas. Esses fatores causaram uma repentina escassez de carne suína no mercado Chinês. Exportadores europeus e americanos supriram essa lacuna.
No mês de junho de 2016, os preços de mercado na China ascenderam a cerca de € 3.60/kg de peso de carcaça, muito maior do que cerca de € 1,60/kg registrado na Holanda. A grande demanda chinesa empurrou o preço. Mesmo produtos que tipicamente apresentavam baixos preços, mas era exportado para a China agora apresentam bons preços. Os importadores chineses pagam €2.20/kg pelo pé do porco, o que é mais alto do que €1.80/kg pelas pernas vendidas ao mercado italiano. As exportações para a China fizeram a os preços europeus aumentarem. Na Holanda os preços aumentaram cerca de 35% entre fevereiro e julho de 2016.
Além disso, dois outros fatores empurraram os preços do mercado europeu. Por um lado o valor baixo do euro em comparação ao dólar americano, o que é positivo para o exportador europeu, mas por outro lado a redução de porcas na EU, resulta na baixa oferta de carne de porco.
Demanda da China
A forte demanda da China foi uma surpresa para muitos. O governo chinês monitora o desenvolvimento econômico da suinocultura. Um importante parâmetro é a chamada suíno-milho: a relação de preços entre os dois produtos. Quando essa relação esta em 6, os produtores podem produzir em igualdade. Se a relação esta abaixo o governo pode decidir pela compra da carne suína para dar suporte ao mercado. Se a carne de porco tiver maior proporção são retiradas do armazenamento e vendidas, em uma tentativa de amortecer os movimentos de preços.
Na primavera de 2016 essa relação esteve entre 7.5, mas a metade do ano anterior esteve abaixo de 6. O preço da carne suína não deve ser tão alto na China, pois é um produto base para os consumidores. O movimento do preço da carne de porco influencia a situação econômica do país. E porcos são parte da cultura, diz-se que ter porco em casa traz felicidade. Nos caracteres chineses a família ou comunidade é representada por um porco sobre o telhado.
O governo chinês espera uma redução da independência de 99 para 95%, pois a produção nacional não conseguirá acompanhar o crescimento do consumo interno. Isso significa uma necessidade de importação de carne suína, além de uma oportunidade para mercados exportadores. Porém, pode–se duvidar dessa necessidade de exportação em longo prazo.
Riscos da exportação
A suinocultura europeia depende das oportunidades de exportação, por exemplo, para a China? Os exportadores europeus se sentem confortáveis com essa grande oportunidade. No entanto, alguns riscos são relatados.
– Demanda volátil. O governo chinês não se mostra capaz de gerir um mercado domestico estável, o fluxo de exportações será oscilante em longo prazo.
– Competitividade. Os Estados Unidos continuarão crescendo na produção de carne suína e, estima-se que cada tonelada de carne produzida deve ser vendida para outros mercados. Como a Rússia não é uma opção agora, a China é um caminho bem-vindo para as exportações americanas. E com custo de produção mais baixo, os EUA são mais competitivos que a EU a longo prazo.
– Moeda flutuante. No final de 2016, o euro estava muito franco, quando comparado ao dólar americano, então as exportações europeias possuíam uma vantagem. Mas por quanto tempo? Se a moeda se fortalecer, as exportações da Europa vão se mostrar menos atrativas do que os destinos não europeus.
– Preço do petróleo. Se o preço do petróleo aumentar, o preço das matérias-primas para alimentação terá aumento considerável. Especialmente ingredientes energéticos como o milho, são sensíveis a esta relação de preço: com o aumento do preço do petróleo é mais interessante produzir biocombustíveis como alternativa. Por outro lado, se o preço do petróleo cai, os alimentos não vão se tornar mais baratos, mas serão comercializados com o preço normal, o que leva um balanço entre oferta e demanda na alimentação animal. Então o preço da alimentação é dependente das relações geopolíticas. O petróleo está barato agora, mas isso pode mudar.
– Fim das fronteiras. Os países podem decidir fechar suas fronteiras, como fez a Rússia. Isso pode acontecer por questões políticas, mas também em consequência de doenças contagiosas como a peste suína Africana. Além da decisão se determinada empresa está autorizada a exportar para a China.
Riscos do comércio mundial
Os riscos do comércio mundial são muitos, mas realistas. O empreendedorismo é caracterizado por correr riscos. Os suinocultores, especialmente no norte da Europa são acostumados a lidar com riscos. Porém, é importante prestar atenção nisso. A dependência de mercados terceiros tem aumentado (em virtude da independência e aumento na exportação), enquanto os riscos aumentam e são menos controláveis. Além disso, a vantagem de ser uma propriedade de família diminuiu e, capital próprio e trabalho são menos relevantes em rentabilidade. Então podemos concluir que a suinocultura na Europa se mostra relutante no aumento das vendas para mercados não europeus. Isso é aconselhável para reforçar o empreendedorismo entre os produtores, visando à melhora na habilidade para lidar com a volatilidade dos preços, e aumentar o amortecedor financeiro dos produtores.
TTIP
Os Estados Unidos e a União Europeia estão em negociação no Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP). Este acordo tem como objetivo aumentar o livre comércio entre os dois blocos. Geralmente os acordos de comércio mundial são beneficiados pela redução de barreiras, como tarifas de importação ou requisitos adicionais. Mas no caso da suinocultura a TTIP parece ser menos atrativa para a EU, pois os EUA possuem menor custo de produção que o bloco europeu. Mesmo incluindo os custos do transporte pelo mar para a Europa, a carne americana ainda será mais barata que a europeia. Se os EUA venderem carne suína para a EU sem tarifas de importação isso irá gerar pressão sobre os preços do mercado interno. As negociações normalmente giram em torno das quantidades de carne que serão vendidas sem tarifas e as condições específicas, ao invés de um negócio onde a carne de porco americana pudesse ser vendida de forma ilimitada na EU.
Independente desse acordo, a Europa não consegue em longo prazo competir com grandes produtores como o Brasil e os EUA. Então, estaria a suinocultura europeia condenada a ser perdedora?
Diferenciando
As estratégias de diferenciação têm como objetivo produtos que não são comparados pelos preços baixos, mas sim porque é atraente por si só. O preço não é o fator decisivo.
Um movimento de diferenciação de mercado teve início em alguns países do noroeste europeu. Na verdade teve início há poucas décadas. Especialmente nos últimos anos, suportada por ONGs, com atenção especial para os requisitos de bem-estar animal, uso de antibióticos e cuidados ambientais. Os varejistas podem se distinguirem dos concorrentes por conceitos particulares de mercado, os produtores são pagos de acordo com as especificações adicionais fornecidas por eles. Isso é importante para atrair consumidores, que passam a comprar e exigir produtos com valor agregado e, dessa forma passa a pagar por eles.
O foco da suinocultura no mercado interno europeu pode ajudar a reduzir a volatilidade e aumentar a rentabilidade, especialmente se combinado a diferenciação estratégica. Mesmo que a euforia em relação a atual situação do mercado diminua, a indústria de suínos na Europa se tornará mais resistente.
A diferenciação é uma resposta para a suinocultura europeia para superar um mercado mundial aberto. Inclinar-se muito para a exportação da carne suína para mercados externos é muito arriscado.