A informação divulgada na segunda-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o consumo de produtos industrializados como linguiça, salsicha, bacon e presunto aumenta o risco de câncer, e que carnes vermelhas em geral são um fator de risco “provável” da doença, é daquelas notícias que num primeiro momento parecem ser a última descoberta da comunidade científica mundial, mas que em poucas horas e muitas opiniões favoráveis e contrárias ao tema, nota-se que nada de muito novo foi realmente divulgado.
Nestes tempos de informação instantânea, somente começamos a pensar depois que já escolhemos um lado para torcer, seja você um amante do bacon, um vegetariano ou vegano. A turma da alface já viu na informação da OMS a legitimidade da causa verde, fazendo uma grossa associação entre bacon e vaca louca, alardeando que é realmente hora de retirarmos totalmente as carnes da nossa dieta. Acho que leram algum outro artigo, pois no relatório da OMS é bem clara a informação da importância da carne para a saúde humana, logicamente dentro de limites razoáveis, o que foi traduzido por diversos especialistas como 70 gramas por dia de carne vermelha para homens e 50 gramas para mulheres.
A turma defensora do bacon e do torresmo também se sentiu ofendida pela informação, antes mesmo de uma análise crítica sobre o assunto ou de ver na notícia uma oportunidade de esclarecer a população sobre como se alimentar melhor com produtos de origem animal, e de que o Brasil ainda está muito distante do nível de consumo apregoado como “provável” causador de uma doença. Em termos populacionais ainda temos um percentual razoável de pessoas que não tem acesso ao nível recomendado de proteína pela própria OMS.
Há quantos anos sabemos que produtos altamente processados e industrializados “podem” causar câncer, da boca ao reto se procuramos bem na literatura médica, ou que a carne vermelha deve ter seu consumo equilibrado como causa “provável” não só do câncer, mas da toda lista das doenças coronarianas? Nenhuma novidade até aí. A novidade mesmo talvez esteja justamente na quantidade dita problemática, 50 gramas diárias, o que dá incríveis 18 kg de bacon, salsicha e linguiça por pessoa a cada ano.
Apenas para comparação, depois de muita campanha de estímulo ao consumo de carne suína ainda não ultrapassamos os 15 kg per capita/ano, isso somando também todas as feijoadas, costelinhas e torresmos. E continuando na carne suína, as campanhas de estímulo ao consumo há 10 anos pregam o aumento da participação da carne in natura na dieta dos brasileiros, ou seja, as campanhas de marketing da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) estão pelo menos uma década à frente da OMS.
Não há necessidade de pânico por esta informação, muito pelo contrário. Temos que aprender a lidar com este tipo de atrito, e não sair por aí transformando tudo em “nós contra eles”. Este tipo de atitude, seja torcendo pela alface ou pelo bacon, não vai levar a lugar nenhum, somente causar mais confusão na cabeça do consumidor. Em tempos de notícias que duram pouco mais que horas, aposto muito mais nas informações corretas e nas campanhas perenes de informação ao consumidor brasileiro, que no caso da carne suína já alcançou resultados memoráveis em termos de mídia e de mercado. Comparar uma fatia de bacon a um cigarro é tão desonesto que não vale a pena a discussão, por si só a informação perde credibilidade.