A deficiência da armazenagem causa grandes estragos à economia catarinense e se agrava a cada nova safra agrícola. A Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) pediu o apoio do Governo para mudar essa realidade: a atual capacidade de armazenamento de cereais é de pouco mais que 4 milhões de toneladas para uma produção estadual total de 6,5 milhões de tonelada de grãos, gerando um déficit de 40% das necessidades. O ideal, em qualquer país do mundo, é uma estrutura de silos e armazéns para, no mínimo, 120% da produção.
De acordo com o presidente da Ocesc, Marcos Antônio Zordan, o problema atinge as 53 cooperativas agropecuárias filiadas e seus 63.000 produtores rurais associados. Essas cooperativas dispõem de silos e armazéns próprios para 2,1 milhões de toneladas de grãos o que, somadas às unidades terceirizadas (178 mil toneladas), totaliza uma capacidade total de armazenagem do sistema cooperativista em 2,3 milhões de toneladas.
O dirigente enfatiza que as cooperativas são, praticamente, as únicas a investir: nos últimos anos elas destinaram cerca de R$ 150 milhões de reais, ampliando a capacidade instalada em 250.000 toneladas.
Levantamento da Ocesc concluiu que são necessários 42 novos armazéns em 41 cidades, operados por 22 cooperativas agropecuárias com capacidade total de aproximadamente 520.000 toneladas, o que exigirá investimentos da ordem de R$ 246 milhões de reais.
Zordan resume a reivindicação do setor produtivo: “Precisamos estimular concretamente a ampliação da rede de armazéns com linhas específicas de crédito para construção, compra de equipamentos e reforma de unidades existentes, além de incentivar a armazenagem na propriedade. Para tanto é necessária a abertura de linhas de financiamento através do sistema de crédito rural com prazo de 20 anos para pagamento com juros menores que os praticados no momento, para a construção de armazéns”.
O apoio estatal foi confirmado e se dará em duas esferas: na federal e na estadual. O Governo Federal criou no ano passado o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com recursos, via Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para alavancar a armazenagem brasileira nos próximos cinco anos. As cooperativas e os produtores tomarão financiamentos através do PCA e o Governo do Estado pagará 50% dos encargos financeiros (juros).
Marcos Zordan assinala que “essa cooperação do Estado é importante porque o investimento é elevado, o retorno é muito lento e os encargos financeiros são altos em face da sua natureza operativa”.
ESTRUTURAL
A falta de armazéns é um problema estrutural com profundos reflexos no nível de renda dos produtores. Como os armazéns disponíveis são insuficientes para receber e estocar a produção, uma das alternativas para amenizar essa dificuldade é a exportação dos produtos para outros países, especialmente o milho, para posterior importação de outros estados para atender as necessidades, pois o Estado é grande consumidor de grãos. Com esta operação Santa Catarina perde em arrecadação já que sobre o produto exportado não incide ICMS. Na internação de produtos de outros Estados é gerado crédito do imposto.
A Ocesc constatou que o problema atinge a todos os atores da cadeia produtiva. Com insuficiência de armazéns, o produtor é obrigado a vender o produto agrícola em plena safra, momento em que os preços estão naturalmente em queda em razão da alta oferta. A indústria também sofre prejuízos porque vê a matéria-prima ser exportada, sabendo que terá, mais tarde, que reimportá-la para o processo industrial, pagando mais caro. Ao final, o consumidor pagará mais pelo alimento – seja carne, leite ou cereais – e o Estado, também. pelos créditos de ICMS.