O ano começou movimentado para o segmento de insumos agrícolas no Brasil. O Valor apurou que quatro empresas estrangeiras, duas delas chinesas, negociam a compra de duas empresas instaladas no Brasil. Uma joint venture formada por três empresas do segmento de insumos deve comprar o controle da paranaense Prentiss, que produz defensivos. Além disso, a alemã Bayer negocia a compra de participação na unidade brasileira da argentina Biagro, produtora de inoculantes.
Se confirmada, a compra pela Bayer da unidade brasileira da Biagro significará a segunda investida da alemã no mercado mundial de agrobiológicos. Em 2012, a alemã comprou, por US$ 425 milhões, a AgraQuest, uma empresa americana de produtos biológicos (com base em microorganismos naturais) para controle de pragas.
A empresa argentina entrou no Brasil há três anos e instalou uma fábrica em Cambé (PR) para produzir inoculantes – produtos feitos à base de micro-organismos utilizados para aumentar a fixação de nitrogênio por leguminosas.
Em ata publicada nesta semana no Diário Oficial de São Paulo, a Bayer informou que, em reunião no dia 13 de dezembro de 2013, seus acionistas aprovaram “por unanimidade” a autorização para a diretoria adotar as providências necessárias para a “aquisição de quotas da sociedade Biagro do Brasil Ltda”.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Bayer confirmou que as tratativas estão em andamento, mas não informou o percentual de participação na empresa que está em negociação. Procurada, a Biagro se limitou a dizer que as negociações estão sendo lideradas pela sede da empresa na Argentina, e que a unidade no Brasil não está envolvida nas tratativas.
Já a Prentiss, uma empresa familiar do Paraná, está em negociações avançadas para vender 70% do seu capital para uma joint venture formada por três estrangeiras, duas das quais indústrias chinesas de produtos técnicos concentrados para fabricação de defensivos, a Langfeng (Jiangsu Lanfeng Bio-chemical) e a Tide Group, que detêm juntas 90% da joint venture. A terceira companhia é a italiana Agroventure, também do mesmo segmento.
A expectativa é que a venda do controle da Prentiss seja concluída até o início de março próximo. Com sede em Curitiba, a empresa tem uma fábrica de defensivos em Campo Largo, no interior do Paraná, especialmente para as culturas do algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, citros, milho e soja. A unidade tem capacidade para produzir por ano 35 milhões de litros de herbicida, 15 milhões de litros de inseticidas e 15 milhões de litros de fungicidas.
A operação da Prentiss foi afetada pela oscilação do preço do produto técnico concentrado do glifosato na China, entre 2008 e 2009. Houve um “descasamento” entre o valor de importação do produto e de venda no mercado interno brasileiro, o que gerou à empresa um elevado endividamento, segundo fontes a par do assunto. Com pouco capital de giro, a operação da Prentiss foi reduzida de forma que seu faturamento, de US$ 21 milhões em 2010, caiu para US$ 5 milhões dois anos mais tarde.
A China é a maior fornecedora de produtos técnicos para fabricação de agrotóxicos no mundo e também a maior consumidora. A vantagem em comprar participação em companhias brasileiras é que, por tabela, essas empresas compram o registro de produtos e também ganham acesso ao mercado brasileiro, que representa 20% das vendas globais de defensivos, estimadas em US$ 51 bilhões em 2013, segundo o consultor da AllierBrasil, Flávio Hirata.
A primeira companhia chinesa a entrar no mercado brasileiro foi a gigante estatal de químicos, China National Chemical, mais conhecida como ChemChina. Em 2011, ela adquiriu o controle da Milenia, maior indústria de defensivos genéricos do Brasil, da israelense Makhteshim-Agan.
No mesmo ano, o grupo chinês Chongqing Huapont Pharm, listado na bolsa de Shenzen, comprou a participação de 7,5% na brasileira CCAB Agro, braço de insumos agrícolas da holding CCAB Participações, formada por 16 cooperativas de produtores rurais de diversos Estados. O negócio foi fechado por US$ 20 milhões.